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Matérias / Personagem

A marcante última entrevista de Elis Regina: 'Acho que hoje é mais difícil se fazer um disco'

Duas semanas antes de morrer, em 1982, a artista falou sobre a indústria da música, sua carreira e mais

Isabela Barreiros, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 17/03/2021, às 17h21

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Elis Regina em sua última entrevista, em 1982 - Divulgação/Youtube
Elis Regina em sua última entrevista, em 1982 - Divulgação/Youtube

Qualidade vocal, presença de palco e personalidade forte marcaram a trajetória daquela que se tornaria uma das maiores cantoras do Brasil. Entre as décadas de 1960 e 1980, Elis Regina tomou os palcos do país e o coração dos brasileiros, em uma carreira tão curta quanto marcante.

A icônica artista porto-alegrense gravou 36 discos, vendeu quatro milhões de cópias, fez colaborações com cantores importantes da época e ainda arriscou em suas produções. Ao longo de sua meteórica vida, ela marcou a história da música no Brasil, relembrada por sua marcante voz e seus gestos teatrais.

Na manhã do dia 19 de janeiro de 1982, porém, Elis foi encontrada morta no chão de seu apartamento em São Paulo, vítima de uma overdose devido a uma mistura de cocaína e álcool. A cantora faleceu precocemente aos apenas 36 anos, deixando um legado enorme para a música.

Duas semanas antes da tragédia que nos tirou a importante artista, ela participou do programa Jogo da Verdade, da TV Cultura, em que revelou detalhes de sua carreira ao apresentador Salomão Esper. Aquela viria a se tornar sua última entrevista, relembrada até os dias de hoje.

O jogo da verdade

Crédito: Divulgação/Youtube

"Elis Regina Carvalho da Costa, gaúcha de Porto Alegre, mãe de três filhos, destacou-se e passou a ser uma estrela da música popular brasileira. Quando Elis canta entende-se porque há anos ela se transformou numa das grandes figuras da nossa música", anunciou Esper no início do programa.

Ele logo pergunta para a artista até onde poderia ir com suas perguntas, tentando entender o grau de honestidade que Elis teria naquela entrevista sobre sua carreira e opiniões pessoais.

"Até o ponto que a pessoa possa ou ache que deva se desnudar completamente perante as pessoas. Eu acho que a gente faz parte de um grande teatro. Cada um tem o seu papelzinho e o seu curinga guardado na manguinha para fazer a sua canastra na hora precisa", respondeu a cantora.

Ao longo de toda a conversa, Elis riu, brincou, falou em tom de ironia e o mais importante: mostrou o porquê de ter se tornado uma das artistas mais importantes do Brasil, além de seus talentos musicais. Para o ator e jornalista Renato Kramer, em coluna do F5, “Elis Regina parecia plena e absolutamente dona do seu nariz durante toda a entrevista”. 

O apresentador do programa então pede que a cantora fale sobre seu primeiro álbum. "Eu não sei se é bom, não sei se é ruim. Eu acho gostoso!", dispara. No começo de sua carreira, a gravadora Continental, responsável por Elis, queria que ela fosse comparável à cantora Celly Campello, algo que a incomodava, que a deixava “um pouco nervosa”.

Ela afirmou: "Não o fato de ser escalada para ser uma segunda Celly Campello, mas pelo fato de ser uma segunda pessoa. Se a perfeição é uma meta, eu tava à cata dela. E continuo à cata. Não sei se vou chegar lá um dia, mas eu queria morrer sendo eu...e eu não achava muita graça pintar no pedaço meio parasitando o trabalho de outra pessoa”.

“Não achava muita graça nisso, mas também não tinha muita escolha: 16 anos de idade e estava meio subentendido que a gravadora estava me fazendo um favor de me dar a chance de gravar aquele disco", finalizou Elis.

Quando questionada sobre se existiam diferenças entre gravar o disco aos 16 anos, no começo de sua carreira, e em 1982, quando ela já tinha se consolidado no mundo da música, ela respondeu: "Eu acho que hoje é mais difícil se fazer um disco".

"Porque a prepotência ganhou outros nomes: 'marketing', merchandising' —ganhou nomes ingleses, quando na realidade o que existe é prepotência e exacerbação... Não existe muita preocupação com criatividade, o que as grandes gravadoras querem é o dinheiro, o produto final desse negócio todo", argumentou.

"Há poucas pessoas no país, pouquíssimas pessoas, que têm autonomia. Eu posso dizer que tenho autonomia porque eu sou muito mais impertinente e petulante que eles todos. Eu arrisco um bocado!", afirmou a cantora.

Ainda sobre autonomia de artistas, Zuza Homem de Mello, produtor musical que acompanhava a entrevista, a perguntou: "Você acha que diminuiram os compositores de qualidade ultimamente?". A resposta foi marcante.

"Eu não sei se diminuíram os compositores de qualidade, mas os canais de expressão para serem usados esses compositores a cada dia que passa estão diminuindo mais", respondeu.

Já no final da conversa, que durou mais ou menos 50 minutos, o produtor finaliza com a seguinte pergunta: "A obra que o cantor deixa é sempre o disco. Quando você faz o seu você pensa nisso, ou seja, que o disco é a única coisa que você está deixando para as gerações futuras, como a sua obra enfim: a Elis é aquilo que está naquele disco?".

 "Sim, eu penso assim...se bem que de vez em quando eu esqueço e faço umas bobagens. É o único legado, né? A longevidade do disco é uma coisa que pode servir de testemunha de defesa como também pode lascar uma condenação histórica!", afirmou Elis.

Confira aqui a entrevista completa.


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