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Matérias / Arqueologia

A valiosa descoberta dos mais antigos canudos para beber

Um estudo de 2022 concluiu que os humanos de mais de 5 mil anos atrás já gostavam de se reunir para uma cervejinha

Ingredi Brunato Publicado em 26/02/2023, às 08h00

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Ilustração representando povos bebendo cerveja há 5 mil anos - Divulgação/ Kelvin Wilson
Ilustração representando povos bebendo cerveja há 5 mil anos - Divulgação/ Kelvin Wilson

Uma famosa escavação arqueológica de 1897 nas proximidades da cidade de Maykop, na Rússia, descobriu uma grande tumba de mais de 5 mil anos com três cavidades onde foram enterrados esqueletos.

Na maior das três, os pesquisadores encontraram oito cetros de ouro e prata (isso é, cajados de finalidade cerimonial empunhados por governantes) sepultados junto aos restos mortais de um possível rei do passado. Já as outras eram os locais de descanso final de duas mulheres. 

O status social do indivíduo masculino foi especulado devido à extensa riqueza da câmara funerária, onde haviam também cálices, uma vestimenta de ouro e pedras semipreciosas, armas e ferramentas. 

Um estudo publicado pela revista Antiquity em fevereiro 2022, todavia, trouxe um novo significado à descoberta ao reinterpretar os supostos "cetros" como, na verdade, os mais antigos canudos já confeccionados pela humanidade — e eles seriam destinados ao consumo de cerveja. 

Fotografias mostrando os canudos / Crédito: Divulgação/ V. Trifonov

Festas de 3 mil a.C.

A conclusão teve como base uma série de evidências, incluindo o fato que outro povo, o dos sumérios, que habitavam a Mesopotâmia no terceiro milênio antes de Cristo, também tinham utensílios assim.

Eles são retratados em painéis artísticos que mostravam banquetes onde grupos sentados ao redor de jarros de cerveja beberiam o líquido usando os canudos, e exemplares (mais recentes que os de Maykop) já foram encontrados em escavações, segundo informado pela NBC News. 

Nas extremidades de todos os tubos de metal da tumba russa, foi identificado ainda um "filtro" ou "coador" muito semelhante aos que adornam as pontas das versões sumérias. O objetivo dessa estrutura seria filtrar a bebida, que, na época, era grossa, estando misturada com sedimentos e até palha e outras impurezas.

A prova mais forte para a reinterpretação dos tubos metálicos, porém, foi a identificação de vestígios de amido de cevada no interior pela equipe de cientistas que escreveu o estudo.

Eu nunca teria acreditado que no enterro de elite mais famoso do Cáucaso da Idade do Bronze, o item principal não seria nem armas nem joias, mas um conjunto de canudos preciosos para beber cerveja", comentou o principal autor, Viktor Trifonov, conforme repercutido pelo portal IFL Science. 

O possível recipiente onde a bebida alcoólica seria despejada durante essas reuniões, aliás, também foi encontrado na tumba de Maykop: ele consistia em um grande jarro que, caso enchido até sua capacidade máxima, forneceria 7 litros de cerveja para cada uma das oito pessoas usando os canudos. 

Vale mencionar que alguns dos utensílios eram ainda adornados com pequenas estatuetas de metal precioso na forma de touro. Assim, quando arranjados da forma certa, eles lembrariam uma procissão de animais. 

Imagem mostrando desenhos dos oito canudos, e algumas fotografias das partes deles / Crédito: Divulgação/ V. Trifonov

Cultura compartilhada 

Um detalhe importante é que a área onde foi descoberta a tumba do rei com uma predileção por beber cerveja com seus contemporâneos pertencia à região do Cáucaso, que fica próxima da Mesopotâmia. Assim, os hábitos festeiros das populações locais podem ter se disseminado entre si, explicando a confecção desses canudos por mais de um povo.

É muito emocionante ver o grau de conectividade em todo o Cáucaso tão cedo. É no terceiro milênio a.C. que temos movimentos de culturas e pessoas através do Cáucaso para todas as direções, com grande efeito nas culturas regionais", comentou a arqueóloga Mara Horowitz, que não teve envolvimento no estudo, em entrevista à NBC News. 

+ Para conferir o estudo, clique aqui.