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Matérias / Oppenheimer

"Agora, eu me tornei a morte": Vej a história por trás da citação de Oppenheimer

Ao realizar o primeiro teste da bomba atômica, Julius Robert Oppenheimer disse: "Agora, eu me tornei a morte, o destruidor de mundos"; conheça a origem do verso!

Éric Moreira Publicado em 12/04/2024, às 10h14 - Atualizado em 14/04/2024, às 11h39

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Julius Robert Oppenheimer durante sua famosa citação, e sua versão no filme de Christopher Nolan, interpretada por Cillian Murphy - Reprodução/Vídeo/YouTube/@PlenilunePictures / Reprodução/Universal Pictures
Julius Robert Oppenheimer durante sua famosa citação, e sua versão no filme de Christopher Nolan, interpretada por Cillian Murphy - Reprodução/Vídeo/YouTube/@PlenilunePictures / Reprodução/Universal Pictures

Recentemente, foi disponibilizado no catálogo do Amazon Prime Video o filme dirigido por Christopher Nolan, 'Oppenheimer'. Grande vencedor do Oscar 2024, levando sete estatuetas para casa — incluindo o prêmio principal da noite, de Melhor Filme —, o longa narra parte da trajetória de Julius Robert Oppenheimer, o físico americano que ficou conhecido como "o pai da bomba atômica".

"O físico J. Robert Oppenheimer trabalha com uma equipe de cientistas durante o Projeto Manhattan, levando ao desenvolvimento da bomba atômica", explica a sinopse do longa, de maneira simples, visto que a história baseada em fatos.

Dirigido por Christopher Nolan, o filme não deixou de contar com uma marcante frase dita por Robert Oppenheimer logo após o primeiro teste da bomba atômica, realizado no Novo México em 1945, pouco antes dos fatídicos bombardeios que encerrariam a Segunda Guerra, nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão.

+ O que disse Oppenheimer após o lançamento das bombas em Hiroshima e Nagasaki?

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Fotografia de J. Robert Oppenheimer / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

"Now I am become death, the destroyer of worlds", disse Oppenheimer. Em português, isso seria: "Agora, eu me tornei a morte, o destruidor de mundos."

Um detalhe importante, embora nem todos saibam, é que a frase não foi criada pelo físico naquele momento que mudaria para sempre a história da humanidade. Pelo contrário, é até mesmo anterior aos "tempos de Cristo". Entenda sua origem!

Baghavad Gita

Segundo a Super Interessante, a fala de Oppenheimer é uma tradução própria do poema épico hindu Baghavan Gita (o que significaria "canção do bem-aventurado"), escrito originalmente em sânscrito no quarto século antes de Cristo.

+ Brahmastra, a bomba atômica dos deuses

"Nós sabíamos que o mundo havia mudado para sempre. Algumas pessoas riram, outras choraram, a maioria ficou em silêncio absoluto. Eu me lembrei de um verso da escritura hindu Baghavad Gita em que Vishnu está tentando persuadir o príncipe de que ele deve cumprir seu dever, e para impressioná-lo, assume sua forma de muitos braços e diz: ‘Agora eu me tornei a morte, o destruidor de mundos’. Acho que todos nós sentimos isso, de uma maneira ou outra", disse o físico na após a primeira detonação da bomba atômica na história.

Vale mencionar que a Baghavad Gita é apenas uma das várias escrituras consideradas sagradas no hinduísmo. Foi traduzida para diferentes línguas ao longo dos séculos. Porém, Oppenheimer sabia ler sânscrito — com apenas 25 anos, ele já sabia falar seis idiomas —, e fez, provavelmente, a tradução de cabeça.

Morte ou tempo?

Um fato curioso é que a fala de Oppenheimer se distancia de várias traduções. Isso porque, em vez de "agora eu me tornei a morte", muitas delas anunciam "agora eu me tornei o tempo", o que seria a tradução ao pé da letra. 

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Ilustração representando Vishnu / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Mas considerando a versão de Oppenheimer, a frase não se distancia tanto de seu sentido original. Isso porque o tempo pode ser lido como o destruidor inevitável de qualquer coisa existente. E foi assim que Oppenheimer colocou parte de si, e exclusivamente de si, nessa versão.

Confira uma tradução deste trecho original de Baghavad Gita, por Francisco Valdomiro Lorenz:

"Eu sou o Tempo, destruidor dos mundos. / Sob esta terrível forma, aqui / Me empenho na destruição / Desta multidão de príncipes. / De todos os guerreiros que aqui vês, / Nenhum Me escapará. Só tu os sobreviverá".

"Levanta-te, pois, teu é o poder; / Combate, tu serás o vencedor, / Meu braço já abateu teus inimigos; / Sê instrumento Meu; sê Meu executor. / Derrota todos: Bhishma, Drôna, Karna, / E Yayadratha com os mais heróis; / Eu já os destruí, não estremeças! Coragem! / E serás o vencedor!", continua.

Remorso?

Essa fala, em Baghavad Gita, é proferida por Vishnu, deus do hinduísmo responsável pela sustentação do Universo. É dita em um momento de remorso, depois que ele teria matado durante uma batalha.

Porém, o outro deus do diálogo fala justamente sobre a inevitabilidade da morte, e que aqueles que não morreriam lutando, morreriam eventualmente por outras razões; logo, a morte seria inevitável.

Provavelmente, foi esse o sentimento de Julius Robert Oppenheimer após ver os primeiros resultados de sua principal criação. Os versos hinduístas teriam sido a forma de encontrar algum consolo, sabendo que a bomba atômica ceifaria incontáveis vidas, mas que, eventualmente, a morte é o destino para qualquer ser humano.