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Matérias / Anésia Cauaçu

Antes de Maria Bonita: A não tão conhecida história da cangaceira Anésia Cauaçu

Antes mesmo do surgimento de Lampião, Anésia Cauaçu já inspirava medo e admiração no sertão nordestino

Ingredi Brunato Publicado em 01/04/2023, às 17h00 - Atualizado em 05/04/2023, às 09h50

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Ilustração representando Anésia com seu bando - Divulgação/ Wikimedia Commons/ Arquivo Pessoal/ Utiovom
Ilustração representando Anésia com seu bando - Divulgação/ Wikimedia Commons/ Arquivo Pessoal/ Utiovom

No início do século XX, a região Nordeste do Brasil foi marcada pela presença de grupos armados de foras-da-lei conhecidos como cangaceiros. Nômades, eles tendiam a viajar pelo sertão, combinando seu grande conhecimento da Caatinga com o manuseio de armas para sobreviver em um ambiente de constantes disputas não apenas com as autoridades, mas também com outros jagunços. 

O cenário é lembrado pelo domínio da presença masculina, à exceção de figuras como Maria Bonita, que ascendeu à fama por ser a esposa de Lampião, um dos mais infames líderes do cangaço. Conforme registrado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Mato Grosso do Sul, a mulher ocupou um papel secundário à sombra de seu parceiro. 

Maria Bonita e bando de Lampião / Crédito: Wikimedia Commons

Houve, porém, outro tipo de cangaceira, tão importante quanto os homens de sua época. É a história de Anésia Cauaçu, nascida na Bahia, que comandou o bando "Conflagração Sertaneja", acumulando inúmeras histórias de suas proezas. 

Pioneira da entrada feminina no banditismo do Nordeste de então, sua jornada de vingança e violência contribuiu fortemente para a construção de uma imagem da "mulher do cangaço" forte e, por vezes, quase sobre-humana.

Origem

O contexto do qual surgiu a figura de Anésia Cauaçu é marcadamente sangrento, começando na disputa entre duas grandes famílias: os Silva e os Gondins, apelidados respectivamente de "rabudos" e "mocós". 

Certa vez, Zezinho dos Laços, que era um dos líderes dos Silva, decidiu pedir a ajuda de Augusto Cauaçu para elaborar uma emboscada contra os Gondins. Quando o homem se recusou a participar da rivalidade, todavia, acabou sendo assassinado a mando de Zezinho

A seguir, toda a família Cauaçu, que era formada principalmente por comerciantes, acabou se tornando um alvo dos rabudos, com diversos deles sendo mortos.

Assim, para sobreviver aos ataques dos jagunços, eles próprios acabaram se tornando cangaceiros sob a liderança de Anésia Cauaçu, que abandonou a vida de dona de casa para ser bandoleira.

Bandida do sertão 

Moldada pela necessidade de se manter viva em um ambiente de constantes ameaças, a sertaneja rapidamente se provou mais que à altura da tarefa, assim jurando vingar seus parentes assassinados.

Suposta pontaria extraordinária, por exemplo, é demonstrada por uma vez em que teria conseguido decepar o dedo de um sargento com um tiro, ainda que tivesse disparado de uma distância de cerca de 100 metros. A história chegou a alcançar os jornais da época, ainda de acordo com o portal do IHGMS.

Anésia tinha também fama de ser capaz de se "invultar" A lenda surgiu por conta das vezes em que a cangaceira conseguiu escapar aparentemente sem deixar vestígios ao ser perseguida por bandoleiros, desaparecendo em meio à vegetação. 

Líder do cangaço, vale enfatizar que ela acabava se misturando aos seus companheiros masculinos: usava calças compridas, cavalgava em uma sela comum (e não com o silhão, que era considerada a sela feminina), bebia cachaça, fumava e lutava capoeira. 

Transgredia, assim, diversas normas de gênero de sua época, tudo enquanto botava medo em seus inimigos, se imortalizando na história brasileira.

A curiosa figura de Anésia Cauaçu chegou a inspirar um romance escrito por Domingos Ailton, em que o autor mistura realidade e ficção para recontar a brutal trajetória da bandida sertaneja.