Em entrevista exclusiva, o historiador Raphael Weyland contou detalhes do processo de criação do novo jogo da Ubisoft
Isabelly de Lima e Wallacy Ferrari Publicado em 06/10/2023, às 16h08 - Atualizado em 26/10/2023, às 14h04
Como comemoração ao 15° aniversário da franquia Assassin’ Creed, um novo jogo foi lançado, o ‘Assassin’s Creed Mirage’, que acompanha a história de Basim Ibn Is'haq, um ladrão de rua atormentado por pesadelos e visões. O jogador acompanha o personagem até sua ascensão como mestre dos Ocultos, o pioneiro grupo da Ordem dos Assassinos, que aparece em outro jogo da franquia.
A Ubisoft apostou em um personagem que já é conhecido pelo público, o que faz com que o jogo induza o jogador a viver uma experiência realmente imersiva no universo da franquia. Agora, a trama se passa em Bagdá, no ano de 861, cerca de 900 anos depois de Origins e uma década antes de Valhalla.
O especialista na história do Oriente Médio, Raphael Weyland, se juntou à equipe da Ubisoft para auxiliar na reprodução do cenário do jogo, uma parte importante para a construção da narrativa dos personagens. A fim de retratar a história com a maior fidelidade possível, a produtora do jogo não mediu esforços e contratou uma equipe especializada para tentar “recriar” essa ambientação.
Em entrevista exclusiva ao site Aventuras na História, Weyland deu detalhes do processo de criação do jogo que promete fazer jus à fama da saga de jogos de aventura.
Assassin’s Creed possui uma tradição de explorar locais reais e mitológicos em suas narrativas. Segundo Weyland, retratar a história em Bagdá fazia muito mais sentido para o universo da franquia.
"A franquia começou no Oriente Médio, com Jerusalém e outras cidades. Então, decidimos que queríamos voltar ao Oriente Médio, onde tudo começou, com uma história centrada nos que vieram antes dos Assassinos, na verdade, em nossa mitologia, os ‘Eden Ones’. Foi por isso que escolhemos uma localização no Oriente Médio como o local principal".
"Queríamos que a história fosse contada mais ou menos na mesma época que Valhalla, o jogo que veio antes na franquia, ou seja, no século 9. E quando decidimos o Oriente Médio e o século 9, havia praticamente um lugar para onde ir. Seria Bagdá, porque Bagdá, no século 9, era a capital do Império Abássida. Era a cidade mais importante da região, pelo menos, uma das maiores cidades do mundo na época. Então, para nós, ficou bem claro quando decidimos ir para o Oriente Médio [...] que precisávamos ir para Bagdá”, disse Raphael.
Ao mesmo tempo, ele também revelou que existiram alguns desafios para tentar deixar a produção fiel à realidade.
No caso de Bagdá, um dos desafios que tivemos é que Bagdá ainda existe hoje. Ainda está lá, mas não se parece em nada com a cidade do século 9, porque o tempo passou, séculos se passaram, e bem, eles decidiram derrubar alguns prédios para construir outros".
Além das diversas visitas feitas à atual Bagdá para encontrar referências, o historiador contou que, apesar das mudanças que o local sofreu, algo que os ajudou a realizar estudos sobre as características da cidade foram textos.
Segundo Raphael, muitos viajantes escreviam textos descrevendo os detalhes de como era Bagdá em períodos próximos, assim foi possível criar mapas para serem utilizados como base para ‘Assassin’s Creed Mirage’.
Ele também relatou que, em outros documentos, foi possível obter detalhes de como a população se comportava naquele período, tal como a maneira que os músicos agiam, por exemplo. Inclusive, o Instituto do Mundo Árabe, em Paris, se tornou um grande parceiro da equipe, que costuma trabalhar com museus para recriar seus cenários.
A música é algo muito importante quando você entra em uma cidade, que faz você sentir que é verdadeira, que é autêntica. Então, é o tipo de detalhe que podemos encontrar em alguns textos. Claro, estou dando o exemplo com música, mas encontramos a mesma coisa com barcos, armas ou outras coisas. São apenas exemplos”.
No entanto, ele enfatiza que o que fizeram no jogo foi algo similar àquilo que se sabe sobre o local, negando que tudo que está presente na trama, de fato, teria sido igual na vida real. “No jogo, fazemos algo diferente. E é autêntico e não preciso”.
Raphael explicou que a equipe que decide o que acontece em cada novo jogo - e como a história é retratada - se dá pelas decisões de uma equipe fixa, que decide como tudo é realizado. Ele contabiliza entre 5 a 10 pessoas no que denominou como “equipe principal”, que acompanha o processo de realização do começo ao final. “E essas pessoas são as que tomam a maioria das decisões”.
Ele ainda relatou que houve um cuidado extremo para que a história do jogo não afetasse a percepção das pessoas dos acontecimentos reais que aconteceram na então cidade, reforçando que a narrativa acontece dentro do mundo da franquia. Além disso, é preciso lembrar-se dessa informação sempre.
O historiador também conversou sobre o futuro da franquia. Ao mesmo tempo, ele também discute a respeito da possibilidade de um game ambientado na América do Sul. Confira a entrevista completa com o historiador Raphael Weyland:
