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Curiosidades / O Jogo da Imitação

O Jogo da Imitação: 5 pontos que distanciam o filme da realidade

Filme sobre a vida do matemático Alan Turing, que decifrou códigos nazistas na 2ª Guerra, possui apenas 42,3% de verdade histórica

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 17/06/2023, às 11h00 - Atualizado em 21/06/2023, às 12h57

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Alan Turing: Ficção e realidade - Diamonds Films e Domínio Público
Alan Turing: Ficção e realidade - Diamonds Films e Domínio Público

O Jogo da Imitação narra a história do matemático britânico e pioneiro da computação Alan Turing — responsável por ajudar a quebrar códigos secretos nazistas enviados pela máquina alemã Enigma, durante a Segunda Guerra Mundial.

Estrelado por Benedict Cumberbatch, O Jogo da Imitação ainda conta como grande nomes no elenco, como Keira Knightley (como a criptanalista Joan Clarke) e Charles Dance (decifrador escocês Comandante Alexander Denniston).

O filme é baseado na famosa biografia de Andrew Hodges, de 1983, chamada 'Alan Turing: The Enigma'. Entretanto, O Jogo da Imitação é apenas vagamente inspirado na obra, se afastando bastante do que realmente aconteceu.

Segundo dados do site Information Is Beautiful, o filme possui apenas 42,3% de verdade histórica, alterando muitos fatos para efeitos dramáticos. Considerado uma das cinebiografias mais imprecisas dos últimos tempos, O Jogo da Imitação ainda assim foi bem avaliado pela crítica.

Pensando nisso, a equipe do site do Aventuras na História separou cinco pontos que distanciam a verdade da ficção em O Jogo da Imitação. Confira!

1. O gênio único

O Jogo da Imitação mostra o matemático britânico Alan Turing como um gênio que, repentinamente e sozinho, foi o responsável por construir a máquina capaz de decifrar o código do Enigma.

A realidade, porém, é diferente. Embora Turing seja conhecido como pai da ciência da computação, ele usou de uma tecnologia pré-existente para, ao lado do matemático britânico Gordon Welchman, lograr tal feito.

O matemático Alan Turing/ Crédito: Getty Images

No artigo The Poles Reveal their Secrets – Alastair Dennistons's Account of the July 1939 Meeting at Pyry, o pesquisador Ralph Erskine dá mais detalhes sobre o trabalho dos criptoanalistas do Polish Cipher Bureau.

A primeira tentativa de quebra dos códigos alemães aconteceu em 1932, através de Marian Rejewski, Jerzy Różycki e Henryk Zygalski, do Polish Cipher Bureau. Com o início da Guerra, em 1939, a Polônia começou a compartilhar seus métodos com os Aliados.

É correto afirmar que as pesquisas do início da década ajudaram no desenvolvimento do Bombe, máquia feita pelos britânicos que dependia de rotores para decifrar combinações de códigos.

Outra verdade que tem que ser salientada é que Turing realmente era um visionário por direito próprio, mas sua contribuição para o Bombe não configurou uma invenção completamente inédita. Além disso, ele conseguiu tal feito agilizando o processo com a ajuda de seu protótipo, uma máquina que foi criada a partir de um trabalho com o já citado Welchman — que nem sequer no filme é mencionado.


2. As palavras-cruzadas 

Em O Jogo da Imitação, Keira Knightley dá vida à Joan Clarke. Embora esse seja um dos grandes trabalhos da atriz, seu papel também está recheado de imprecisões históricas. O longa mostra que Clarke foi recrutada para a equipe de Bletchley Park após demonstrar seus talentos em uma competição de palavras-cruzadas — já Turing aparece montando quebra-cabeças de palavras.

Segundo matéria do The Guardian, palavras-cruzadas foram realmente usadas para o recrutamento em Bletchley Park, mas nem Turing e tampouco Joan foram escolhidos dessa forma.

Keira Knightley dá vida à Joan Clarke em O Jogo da Imitação/ Crédito: Diamonds Films

Joan Clarke já era uma matemática brilhante por conta própria e foi escalada pela equipe através do chamado de Gordon Welchman. Além disso, a biografia de Hodges também aponta que Turing não era tão bom assim em quebra-cabeças de palavras como criptogramas e anagramas.


3. O casal Turing e Clarke

O Jogo da Imitação mostra que Alan Turing e Joan Clarke ficaram noivos por um breve período. O matemático fez isso para, segundo o filme, agradar os desejos de seus pais, sempre muito autoritários.

Mas as coisas não foram realmente assim. Andrew Hodges conta em 'Alan Turing: The Enigma' que os dois ficaram noivos simplesmente porque Turing realmente gostava de Clarke. Ao mesmo tempo, ela aceitava o fato dele ser gay. Os dois compartilhavam uma relação de afeto e tinham interesses em comum, como xadrez e botânica.

Turing (Benedict Cumberbatch) e Clarke (Keira Knightley) em O Jogo da Imitação/ Crédito: Diamonds Films

Embora Turing tenha terminado o noivado, a relação não foi sem emoção, como demonstrado no filme. Hodges aponta que "Houve várias vezes em que ele saiu com 'eu te amo'."


4. O grande dilema

Um dos pontos altos do filme é o grande dilema moral vivido por Peter Hilton (Matthew Beard), uma das pessoas que ajudaram Turing a decifrar os códigos nazistas. Afinal, O Jogo da Imitação relata que a equipe de Alan consegue interceptar os planos de uma ataque alemão a um pelotão no qual o irmão de Hilton faz parte.

Entretanto, avisar os Aliados sobre o perigo daria aos nazistas a certeza de que seus códigos haviam sido quebrados, o que comprometeria todo o trabalho. O que fazer diante da situação?

A realidade é que Turing e sua equipe não tiveram que fazer nada. Segundo matéria do portal Slate, tal situação jamais foi enfrentada, visto que Hilton não tinha um irmão em tais condições.

Peter Hilton (Matthew Beard) em O Jogo da Imitação/ Crédito: Diamonds Films

Além disso, caso tivesse, na cabia a eles a decisão sobre as medidas que deveriam ser tomadas pela inteligência secreta britânica — isso era controlado apenas pelos níveis mais altos dentro da administração militar.


5. A homossexualidade e morte de Turing

Alan Turing era homossexual e sofreu por conta disso em sua vida, mas o fato não desempenha um papel importante em O Jogo da Imitação. Flashbacks são usados no filme para mostra o carinho do matemático por seu colega de escola Christopher Morcom (Jack Bannon).

Entretanto, o biógrafo Andrew Hodges conta que esse relacionamento era unilateral, com o pai da ciência da computação não tendo seus sentimentos retribuídos — enquanto o longa mostra um amor mútuo entre os dois.

'Alan Turing: The Enigma' também aponta que apesar de 'atos homossexuais' serem considerados crimes na Grã-Bretanha na época, Turing ainda assim eram bem ousado na hora de abordar outros homens, algo sequer é explorado em O Jogo da Imitação; assim como Arnold Murray também não é mostrado. O homem teve relações sexuais com o matemático — que acabou sendo condenado por isso.

Já a cena pós-escrita no final de O Jogo da Imitação aponta que Alan Turing tirou a própria vida após ser forçado a se submeter a uma terapia hormonal para frear seus 'desejos homossexuais'. O filme apresenta a teoria de Hodges de que o matemático teria se suicidado ao comer uma maçã com cianureto.

Cena pós-escrita em O Jogo da Imitação/ Crédito: Diamonds Films

O primeiro ponto a ser destacado é o tratamento a qual Turing foi submetido. Por conta das injeções que recebia para diminuir sua libido, Alan ficou impotente. O tratamento ainda causou a formação de seu tecido mamário, aponta o biógrafo.

Em relação à morte, Hodges especula que Alan Turing estava encenado uma cena de seu conto de fadas favorito: A Branca de Neve e os Sete Anões. David Leavitt, outro biógrafo do britânico, escreveu que ele sentia "um prazer especialmente intenso na cena em que a rainha má mergulha sua maça na bebida venenosa".

Mas à BBC, o professor de filosofia Jack Copeland questiona vários aspectos do veredito médico do legista e sente que a investigação sobre a morte do matemático foi inadequada. Afinal, a maçã não foi testada para saber se tinha doses de cianureto.

Não só isso, Copeland ainda sugere uma versão alternativa para o óbito: um acidente. Ele diz que Turing pode ter inalado acidentalmente vapores de cianureto emitidos por um aparelho de galvanizar ouro em colheres. Alan Turing tinha tal aparelho em seu quarto de hóspedes.

Jack discute que os resultados da autópsia condiziam mais com essa versão do que com a ingestão do veneno. O fato é que o corpo de Alan Turing foi cremado em 12 de junho de 1954 e suas cinzas foram espalhadas nos jardins do Crematório de Working.