Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Casa da Hera

Casa da Hera: Conheça a mansão carioca congelada no século 19

A residência aristocrática, cujo interior foi mostrado por um vídeo do pesquisador Paulo Rezzutti, é também onde viveu a primeira mulher brasileira a operar na Bolsa de Valores

Ingredi Brunato Publicado em 07/06/2023, às 17h46 - Atualizado em 16/11/2023, às 15h11

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Sala de jantar da Casa da Hera - Divulgação/ Youtube/ Paulo Rezzutti
Sala de jantar da Casa da Hera - Divulgação/ Youtube/ Paulo Rezzutti

O Museu Casa da Hera é uma elegante mansão localizada no Vale do Paraíba, no estado do Rio de Janeiro, que permite aos brasileiros do século 21 darem uma espiada em como era a vida doméstica de uma família pertencente à aristocracia carioca do século 19. 

A última proprietária do imóvel foi Eufrásia Teixeira Leite, que é também a responsável por seu estado atual de preservação, pois deixou seus bens para a cidade, mas pediu explicitamente em seu testamento que o casarão fosse mantido como estava. 

A principal história contada pela construção, no entanto, é a de seu pai, Joaquim José Teixeira Leite, que comprou o local por volta de 1840. Um figurão importante dentro da elite cafeeira, o homem se destacava por não ser quem plantava o grão, e sim quem fazia as negociações intermediárias entre os cafeicultores e seus clientes, o que lhe permitiu acumular uma verdadeira fortuna e o levou a ficar conhecido como "capitalista do café". 

A família Teixeira Leite, assim como a fascinante Casa da Hera, foram abordadas pelo pesquisador Paulo Rezzutti em um vídeo recente postado em seu canal no Youtube. Nele, o escritor vai até o marco histórico, fazendo uma gravação do tour pelo museu. 

A elite através das gerações 

Os pais de Joaquim, avós de Eufrásia, seriam originários de Minas Gerais, tendo abandonado o estado brasileiro após a decadência do ciclo do ouro para se estabelecer onde se desenvolvia a mais nova promissora fonte de renda do país, o café.

Outra informação relevante é que o patriarca da Casa da Hera se casou com Ana Esméria Teixeira Leite, que era a filha de um dos principais barões de café da região, com esse tendo sido, portanto, um laço matrimonial envolvendo dois membros da elite do Vale do Paraíba. 

O casal faleceu em meados de 1870, ao que sua fortuna passou para as mãos de suas duas filhas, Francisca Bernardina e Eufrásia. Conforme apontado por Rezzutti, a família do pai delas queria que as moças se casassem com seus tios e primos a fim de manter o dinheiro dentro do clã aristocrata, porém, a fim de fugir deste destino, as duas decidiram usar sua herança para se mudar para Paris. Na época, tinham 28 e 23 anos, respectivamente. 

Eufrásia, em particular, teria aprendido matemática financeira em sua juventude, e se mostraria muito habilidosa com dinheiro, uma vez que foi capaz de multiplicar o patrimônio herdado por ela através de investimentos na Bolsa de Valores — a carioca foi a primeira mulher brasileira, aliás, a operar no mercado financeiro.

Pintura de Eufrásia Teixeira Leite / Crédito: Domínio Público

E não foi só nisso que a Teixeira Leite mais jovem se mostraria à frente de seu tempo, aliás. Ousada e quebradora dos padrões de sua época, ela morreria em 1930, aos 80 anos, sem nunca ter se casado ou trazido filhos ao mundo.

Como Francisca, que morreu bem antes, em 1899, também não deixou herdeiros, a linhagem acabou terminando com Eufrásia, que escreveu um detalhado testamento destinando sua fortuna para a cidade de Vassouras, onde está situado o museu. 

Por dentro da Casa da Hera

Com 948 metros quadrados de área construída e 22 cômodos, a mansão carioca é descrita por Rezzutti como uma verdadeira "cápsula do tempo", por ser capaz de transportar, por assim dizer, aqueles que pisam nela para essa época passada da história brasileira. 

Apesar das trajetórias interessantes das irmãs Teixeira Leite e em especial de Eufrásia, é importante destacar que elas passaram a maior parte de suas vidas adultas morando em outros lugares, de forma que o lar reflete muito mais o estilo de vida de seu pai, o capitalista do café. 

A construção ainda conserva alguns de seus móveis originais, como o cofre de Joaquim, que é uma estrutura de madeira repleta de gavetas e compartimentos onde, por trás de um fundo falso, ele guardava seu dinheiro. 

Outro detalhe relevante a respeito da habitação é sua grande quantidade de janelas: mais do que um elemento estético, as 69 janelas da casa possuem um objetivo prático, servindo para a ventilação e também para a iluminação do local. A energia elétrica, vale lembrar, apenas chegou ao Brasil em 1880. 

O casarão é dividido entre a área íntima, habitada apenas pela família, a área social, em que eram recebidos os convidados, e aquela destinada aos encontros de negócios de Joaquim, com todas essas tendo características muito distintas. 

No salão comercial, em particular, existem duas pinturas de significado curioso, o que foi explicado por Matheus de Paula Vieira, o funcionário do museu que guiou o tour filmado por Paulo Rezzutti

Elas chamam muita atenção do visitante que chega nesse cômodo (...) Elas são de autores desconhecidos, e representam dois dos pecados capitais, a gula e a avareza. Sutilmente, o Dr. Joaquim [supostamente] queria passar um recado para quem viesse negociar com ele, 'não seja tão guloso a ponto de comprar muito, ter olho grande e não conseguir me pagar tudo que comprou na negociação, mas também não seja tão avarento, tão mão-de-vaca, não deixe de investir; tenha equilíbrio ao negociar'", apontou. 
As duas pinturas / Crédito: Divulgação/ Youtube/ Paulo Rezzutti 

Além de homem de negócios bem-sucedido, o patriarca dos Teixeira Leite teria sido também um erudito, que não apenas se formou em Direito como também possuía uma enorme biblioteca com mais de mil livros e três mil jornais e revistas.

Seu acervo de leitura impressiona não apenas pela quantidade, mas também por sua diversidade, já que as obras cobrem muitos assuntos diferentes e são inclusive escritas em mais de uma língua — existem, além de textos de português, exemplares em inglês, francês, italiano e outros idiomas. 

Para saber quem foi o grande amor da vida de Eufrásia, e também conferir alguns dos artefatos curiosos presentes na Casa da Hera, veja abaixo o vídeo publicado no canal de Paulo Rezzuti