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Matérias / Collor

Collor versus Collor: Briga de irmãos derrubou presidente e virou podcast

Em entrevista ao site Aventuras na História, Évelin Argenta, apresentadora de Collor versus Collor, conversa sobre bastidores do podcast

Ingredi Brunato e Fabio Previdelli Publicado em 19/11/2023, às 00h00 - Atualizado em 24/11/2023, às 10h40

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Fernando Collor de Mello versus Pedro Collor de Mello - Divulgação / Repórter Unesp e Wikimedia Commons
Fernando Collor de Mello versus Pedro Collor de Mello - Divulgação / Repórter Unesp e Wikimedia Commons

Fernando Collor de Mello foi, em 1989, o primeiro presidente do Brasil eleito de forma direta após o período da Ditadura Militar (1964-1985). Três anos depois, porém, sofreu impeachment devido a um escândalo de corrupção.

O principal motivo para sua queda foi seu irmão, Pedro Collor de Mello — a partir de uma explosiva entrevista concedida à revista Veja em 1992. Na ocasião, além do esquema corruptivo, Pedro também expôs problemas pessoais de Fernando na juventude e uma tentativa do então presidente da República de se aproximar de sua cunhada, Thereza (esposa de Pedro), durante uma crise marital.

Três décadas depois, a briga pública entre os irmãos é resgatada pelo podcast Collor versus Collor, do Globoplay. Dividido em oito episódios, todos já lançados (ouça aqui!), a produção usa as gravações de uma entrevista de Pedro concedida à jornalista Dora Kramer que, em 1993, lançou o livro "Passando a Limpo - A trajetória de um Farsante".

Em entrevista à equipe do site do Aventuras na História, a jornalista Évelin Argenta, apresentadora do podcast Collor versus Collor (coproduzido com a Rádio Novelo), fala sobre o projeto, seu conteúdo e repercussão. 

Matéria-prima 

Segundo relatou Évelin, a ideia para o Collor versus Collor surgiu durante uma entrevista com Dora Kramer em 2021 — ocasião em que ela mencionou ter fitas cassetes gravadas nos anos 90, incluindo algumas que registraram sua conversa com Pedro Collor. Claro, algumas dessas fitas se perderam ao longo do tempo, mas ainda restou doze delas com boa qualidade, o que constituía um material histórico valiosíssimo. 

Depois de digitalizarmos tudo e ouvirmos o material, percebemos que tínhamos nas mãos uma matéria-prima preciosa para contar essa história — a história da briga dos irmãos Collor — com a profundidade e o distanciamento temporal necessários para buscar novos pontos de vista sobre esse capítulo da nossa democracia", conta a jornalista. 

Vale enfatizar que essas fitas, embora apresentassem "quase 24 horas de áudio bruto", não foram toda a matéria-prima do podcast, muito pelo contrário: 

"Além das 12 fitas (...), usamos como base diversos livros escritos sobre o tema, e também jornais e revistas da época. Ainda fizemos novas entrevistas ao longo de 2022 com personagens que, de alguma maneira, atravessaram essa briga familiar ou foram testemunhas dela", explicou Évelin Argenta.

Ela acrescentou que Pedro Collor foi "apenas um dos narradores" da história, e houve entrevistados que não apenas complementaram as informações trazidas por ele, mas, por vezes, as contradisseram. 

Outro ponto importante é que, embora tenha sido necessário organizar esses dados antes de elaborar o arco narrativo do podcast, os criadores do Collor versus Collor já sabiam, desde o princípio, que aquela não seria uma produção focada somente no impeachment de Fernando Collor em si, dado o papel importante desempenhado por suas relações familiares — que acabaram impactando a própria trajetória política brasileira. 

Produção do podcast 

Uma das características das fitas com a entrevista de Pedro Collor que ajudou a editá-las para o projeto foi a presença de trechos "truncados", como descreve Évelin

Como as entrevistas não tinham o objetivo de publicação em áudio — a Dora apenas gravou as fitas em 1992 para auxiliar no processo de apuração para a escrita do livro — muitas das conversas eram truncadas, cheias de números, datas, nomes soltos, interrupções pra checagem de dados", relatou. 
A jornalista Dora Kramer/ Crédito: Reprodução/RedesSociais/@dorakramer_

Argenta também citou o "potencial dramático" das falas do irmão de Fernando Collor, que inclui uma série de revelações a respeito da esfera íntima da vida do presidente, o que também ajuda o espectador a entender a atmosfera da época. 

"Ao longo dos oito episódios, o ouvinte vai se deparar o tempo todo com pequenas revelações. São cenas da intimidade da família Collor, que nos ajudam a compor o cenário político e social da época. Para mim, o mais interessante das fitas é, justamente, a possibilidade de ouvir a história através da voz de alguns de seus protagonistas. No caso do Pedro, uma voz que, muitas vezes, revela as emoções que o levaram a tomar a decisão de denunciar o próprio irmão, presidente da República, por corrupção", disse.

É como se estivéssemos acompanhando em tempo real — só que com 30 anos de distanciamento — o desenrolar desse drama familiar que mudou a história recente do país", resumiu Évelin Argenta
Fernando Collor e a primeira-dama Rosane deixando palácio oficial, colorização digital / Crédito: Elza Fiuza/Agência Brasil

De acordo com a jornalista, os ouvintes de Collor versus Collor ainda ficam por dentro de detalhes sobre os bastidores da campanha eleitoral de 1989, e o Tribuna de Alagoas, um jornal que foi escrito e diagramado durante a gestão PC, mas nunca chegou a ser publicado — portanto, uma espécie de "jornal fantasma". 

A equipe do Aventuras na História também questionou se Évelin fora abordada por membros da família Collor. Segundo ela, houve tentativas de contatá-los, mas eles não quiseram se envolver. 

"Durante todo o processo de produção, busquei os personagens citados no podcast para que pudessem falar e refletir sobre os fatos, passados 30 anos dos acontecimentos, mas eles preferiram não falar. Cada um com o seu motivo — o que foi totalmente compreendido e respeitado pela nossa equipe — mas que, claro, mostram que essa história ainda tem muitas abas abertas", explicou. 

Curiosamente, esse "silêncio" por parte das figuras atuais que tinham o potencial de contribuir para a revisitação do período histórico acabou se transformando em um "personagem" por si só: 

A negativa desses personagens, num primeiro momento, nos causou um pouco de dúvida em relação à narrativa: ‘como contar uma história sobre a qual ninguém quer falar?’. Mas, no processo de apuração, entendemos que o silêncio dessas pessoas também era um personagem dessa história. Aí acabamos incorporando isso ao roteiro", continuou Argenta

Recepção 

Após seu lançamento, no mês de julho, o podcast fez grande sucesso com a audiência, inclusive sendo comparado nas redes sociais com a série "Succession", da HBO, o que deixou os criadores lisonjeados:

Nossa, ficamos super orgulhosos de sermos comparados a Succession! Eu, particularmente, sou muito fã da série, do roteiro, da construção de personagens tão complexos. Mas, o fato é que histórias de brigas de irmãos sempre existiram, desde a Bíblia", comentou ela, acrescentando que irmãos são simultaneamente nossos "primeiros heróis" e "primeiros adversários". 

Em famílias ricas e influentes, por sua vez, esse tipo de conflito acaba ganhando proporções maiores. 

Collor durante sua cerimônia de posse, colorizado digitalmente/ Crédito: Roosewelt Pinheiro / Agência Brasil

"Sobre a repercussão, imaginávamos que as pessoas iriam gostar de ouvir, pois, sabíamos que tínhamos um bom material nas mãos. Mas a repercussão nas redes sociais realmente me surpreendeu, principalmente pela quantidade de pessoas que não conheciam essa história. Estamos muito felizes com a recepção", concluiu Évelin Argenta

Ao ser questionada se gostaria de ver o podcast se transformar em uma série no futuro, a jornalista comentou que o roteiro "certamente poderia ser adaptado para o streaming", e finalizou com uma declaração para atiçar a curiosidade do público: 

Tem muita coisa pra ser contada ainda na trama de Collor vs Collor", revelou ela.