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Matérias / Coragem, o Cão Covarde

Coragem, o Cão Covarde: As supostas inspirações da vira real para o desenho

De serial killer a casal de meia-idade que desapareceu de forma misteriosa; episódios podem ter inspirado desenho que aterrorizou uma geração

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 25/11/2023, às 00h00

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'Coragem, o Cão Covarde' e suas possíveis inspirações da vida real - Divulgação e Reprodução
'Coragem, o Cão Covarde' e suas possíveis inspirações da vida real - Divulgação e Reprodução

Abandonado ainda filhote, 'Coragem, o Cão Covarde' foi encontrado e adotado pelo casal de idosos Eustácio e Muriel, moradores da cidade fictícia de Lugar Nenhum, no Arkansas, Estados Unidos. Enquanto a mulher de origem escocesa é descrita como atenciosa e carinhosa, seu marido é o típico velho rabugento e gananciosos que odeia o animal, chamando de "cachorro idiota" e usando uma máscara 'Ooga Booga' para assustá-lo. 

Frequentemente, porém, o gentil e simpático cachorro cor de rosa precisa enfrentar criaturas paranormais/sobrenaturais, monstros, alienígenas e até mesmo zumbis que são atraídos para Lugar Nenhum

Cena de 'Coragem, o Cão Covarde'/ Crédito: Cartoon Network

A animação que assombrou uma geração que assistia Cartoon Network foi ao ar, originalmente, durante quatro temporadas: entre 12 de novembro de 1999 e 22 de novembro de 2002. 

Recentemente, porém, o desenho voltou a ganhar repercussão na internet por supostamente ser inspirado em eventos reais — um deles até hoje inexplicado.

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Antes de conhecê-los, vale ressaltar que John R. Dilworth, criador da animação, jamais confirmou que usou os acontecimentos para criar 'Coragem, o Cão Covarde'. No entanto, internautas criaram teorias.

O casal de meia-idade

Em março de 1967, Jeri Cash resolveu levar alguns biscoitos de escoteiro para seu casal de vizinhos, William e Margaret Patterson. Mas logo que foi atendido na porta, se sentiu indesejado e logo foi embora. Mal sabia que aquela seria a última vez que alguém veria os moradores de Kern Place, bairro de El Paso, no Texas. 

"Levei alguns biscoitos para a Sra. Patterson e ela parecia muito chateada", disse Cash ao El Paso Times, em 2013. "Foi a única vez que conversei com ela. O casal tendia a se manter reservado. O marido parecia infeliz por eu estar na casa e saí logo depois de deixar os biscoitos com ela. Ela era uma mulher pequena e ele sempre parecia mau e hostil".

Margaret e William Patterson/ Crédito: Divulgação

Moradores do quarteirão 3.000 da Piedmont Drive, os Patterson foram vistos pela última vez entre os dias 5 e 6 daquele mês, segundo os registros da polícia. Mais de 66 anos depois, o sumiço do casal ainda é um mistério na cidade. 

"Qualquer caso não resolvido para nós é muito frustrante", disse o sargento Jim Belknap, supervisor da unidade de Crimes Contra Pessoas do Xerife do Condado de El Paso. Belknap trabalhou intermitentemente no caso por mais de uma década. 

Ao longo dos anos, as pessoas criaram suas próprias teorias e ideias pessoais sobre o que aconteceu com o Sr. e a Sra. Patterson. Essas teorias criam mistério — e todo mundo adora mistério", continuou. 

Donos da Patterson Photo Supply, perto do centro da cidade, o casal sumiu sem deixar vestígios. Para o ex-xerife do condado, Leo Samaniego, eles seriam espiões que simplesmente largaram tudo e foram embora. 

Já conhecidos de William e Margaret apontam que eles saíram de férias prolongadas para a Flórida e, posteriormente, mandaram instruções para que seus bens e propriedades fossem distribuídos entre amigos, parentes e funcionários. 

Algumas pistas não levaram a lugar algum, embora novas possíveis informações sobre o caso sempre são levadas às autoridades. "Continuamos a revisitar o caso e a revisá-lo de vez em quando", disse Belknap.

A história, por si só, já é intrigante o suficiente, mas para inspirar 'Coragem, o Cão Covarde', precisaria de um toque a mais. Segundo o El Paso Times, essas, porém, não seriam as únicas possíveis explicações para o caso. 

Cena de 'Coragem, o Cão Covarde'/ Crédito: Cartoon Network

Durante tempos, as autoridades locais também seguiram a linha de investigação de que o casal poderia ter sido assassinado. Dias antes de sumirem, William e Margaret jantaram com alguns amigos e jamais disseram ter planos para viajar. Na verdade, eles até teriam marcado compromisso com essas pessoas para o final de semana. 

O que deixa tudo mais inexplicável é o fato da casa dos Patterson ter sido encontrada num completo caos: com pilhas de louça na pia e roupas deixadas na lavanderia. Em 1984, o ex-zelador do casal, Reynaldo Nangaray, confessou ter visto — e limpado — manchas de sangue na garagem da casa; ele também relatou que viu um associado do casal colocando um lençol ensanguentado no porta-malas de um carro. 

Reynaldo se manteve em silêncio por anos por temer ser deportado pela falta de documentos legais e também por não ter garantia de sua segurança. O fato é que ele morreu em um acidente de carro cerca de dois anos depois de prestar depoimento. 

Durante essas mais de seis décadas, ninguém jamais soube explicar o que aconteceu com a mulher calorosa e gentil e seu marido carrancudo, que estava longe de ser a pessoa mais amigável do mundo.

Por fim, lendas também apontam que William e Margaret Patterson possam ter sido abduzidos por alienígenas ou vítimas de conspirações governamentais. 

Onde fica Lugar Nenhum?

As possíveis semelhanças entre Eustácio e Muriel e os Patterson não param por aí, embora, em certo ponto, a história fique um pouco divergente. Conforme o recente viral da internet, William e Margaret ainda seriam tutores de um cachorro, que teria sido encontrado abandonado na casa investigada pela polícia. Enquanto isso, outras fontes apontam que eles teriam, na verdade, um gato de estimação. 

Outro ponto discordante é a fazenda da fictícia Lugar Nenhum, que muitos dizem ser a própria propriedade dos Patterson. Entretanto, é provável que o imóvel tenha sido inspirado em um endereço de Truth Or Consequences, no Novo México, que foi palco para um prolífico serial killer: David Parker Ray

Possível casa que inspirou Coragem, o Cão Covarde e fazenda do desenho/ Crédito: Reprodução/Reddit

Conhecido como 'Assassino da Caixa de Brinquedos', David residia a cerca de 11 quilômetros ao norte da cidade. Quando cometeu seus crimes, na década de 1990, Truth Or Consequences tinha uma população de cerca de 3.000 habitantes, sendo literalmente um 'lugar nenhum' no mapa. 

Torturador, sequestrador e estuprador, Ray pode ter cometido até 70 assassinatos, embora nenhum corpo tenha sido encontrado pelas autoridades. Mesmo assim, ele foi acusado por seus cúmplices e recebeu 224 anos de prisão. 

David Parker Ray era conhecido por procurar casas remotas e sem conexão com cidades. Para abordar suas vítimas, ele usava disfarces para tentar ganhar a confiança delas.

Depois de saber mais sobre seus alvos, ele geralmente tinha três modus operandi: usar uma história emocional para receber simpatia e admissão; enganá-los com ofertas financeiras extravagantes; ou cortar suas conexões de telefone para poder oferecer assistência técnica.

Certamente quem é fã de 'Coragem, o Cão Covarde' pode notar semelhanças com o modo de agir de Le Quack, o pato astuto, determinado e vigarista que tenta manipular Eustácio e Muriel

Voltando à história de David, John Glatt descreve em 'Cries in the Desert: The Shocking True Story of a Sadistic Torturer' que Ray sequestrou suas vítimas, as sedou e as levou para seu trailer à prova de som, onde as torturou com brinquedos sexuais. O veículo ficou conhecido como 'Caixa de Brinquedos' — daí seu apelido. 

Mugshot de David Parker Ray/Crédito: Divulgação

Em 'Sex-Related Homicide and Death Investigation', o tenente-comandante aposentado do Departamento de Polícia da cidade de Nova York, Vernon J. Geberth, que investigou casos de assassinato por quase quarenta anos, descreve que David Parker Ray muitas vezes torturava suas vítimas na companhia de seu cão e sua esposa — que participava voluntariamente dos crimes. 

Então, Ray drogava suas vítimas com barbitúricos na tentativa de apagar suas memórias do que havia acontecido antes de abandoná-las na beira da estrada. Condenado em 2001, ele morreu no ano seguinte, aos 62 anos, vítima de um ataque cardíaco.