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Matérias / Sudão do Sul

Da crise a divisão: Entenda a situação do Sudão do Sul

Considerado o país mais jovem do mundo, o Sudão do Sul se tornou independente em 2011

Izabel Duva Rapoport e Artur Lourenço Publicado em 02/04/2023, às 12h00

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Fotografia do Sudão em 2011, época da separação do Sudão e do Sudão do Sul - Getty Images
Fotografia do Sudão em 2011, época da separação do Sudão e do Sudão do Sul - Getty Images

Em visita recente a Juba, capital do Sudão do Sul, papa Francisco implorou pelo fim da violência no país mais jovem do mundo, fundado após sua separação do resto do Sudão, em 2011.

O argentino também relembrou de quando esteve na região há três anos, logo após um massacre numa área rural de Equatória Central que matou 27 pessoas, a maioria civis, ignorando o acordo de paz assinado em 2018 que encerraria uma guerra civil que assolava a nação.

Ao longo de cinco anos, a rivalidade entre comunidades locais matou cerca de 400 mil pessoas. De lá para cá, os embates no território foram reduzidos, mas disputas entre as facções ainda são frequentes e, somadas às fortes inundações que atingem o local, além da pobreza, colocam o Sudão do Sul entre as dez mais preocupantes crises humanitárias de 2023, segundo o Escritório para Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).

População do Sudão do Sul recebendo ajuda humanitária em foto de 2021 / Crédito: Getty Images 

O conflito, que precede a independência do país da parte norte do Sudão, tem raízes na rivalidade entre tribos de origem árabe e africana pelo domínio da região. Os africanos, que estariam fixados principalmente no estado de Darfur (oeste sudanês), tinham suas propriedades invadidas por árabes de tradição nômade que vinham tanto do norte, fugindo do avanço do deserto de Saara, quanto do sul, em busca de terras mais férteis.

Mas o estopim da crise, que intensificou os ataques a civis e levou à divisão do país, aconteceu em 2003, ano em que o Congresso Americano concluiu que o conflito era caso de genocídio – tentativa deliberada de matar ou ferir seriamente membros de um grupo de pessoas para exterminá-lo fisicamente.

Entenda abaixo a origem de uma crise que não terminou com a separação dos territórios e tampouco com palavras prometidas de paz.

Foto de 2021 mostrando água de chuva coletada para ser bebida em vila do Sudão do Sul sem acesso à água encanada / Crédito: Getty Images


Até o século 6: Os primeiros habitantes

A região do atual Sudão e Sudão do Sul era ocupada por habitantes de três reinos distintos conhecidos genericamente como Núbia. No século 6, a maioria da população
havia se convertido ao cristianismo copta, por influência de clérigos egípcios. O contato com os árabes restringia-se ao comércio.


Séculos 7 a 19: Era islâmica

Em 642, os árabes muçulmanos chegaram à Núbia e a região entrou num processo de “arabização” que durou mais de mil anos. Em 1315, subiu ao trono o primeiro príncipe núbio muçulmano. No século 15, o cristianismo não era mais a religião predominante e as vilas ao longo do Nilo passaram a organizar-se em torno de protetores árabes.


1889 a 1954: Condomínio anglo-egípcio

Na tentativa de garantir o acesso ao Canal de Suez, rota marítima entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Índico, a Inglaterra aliou-se ao Egito e invadiu o Sudão, onde crescia o sentimento nacionalista. O Condomínio Anglo-Egípcio fortaleceu a elite árabe, concentrada em Cartum (atual capital do Sudão), e aprofundou as diferenças regionais.


1956: Independência e guerra civil 

Com a independência negociada com Inglaterra e Egito, o Sudão emergiu numa sucessão de guerras civis motivadas pela resistência de minorias étnicas, regionais ou religiosas contra as elites árabes que, entre outras determinações, tentavam impor a rigorosa lei islâmica, a Sharia.


1960 a 1980: Disputas por terra

Os grupos étnicos Fur, Masalit e Zagawa – muçulmanos de ascendência africana e maioria da população de Darfur – são frequentemente atacados por tribos árabes nômades em busca de terras férteis. Os conflitos são contornados por lideranças locais, baseadas em leis herdadas do período Anglo-Egípcio.


1998 a 1999: A crise aumenta

Em 1994, o presidente Al-Bashir reorganiza a administração do país e fortalece o poder dos povos árabes em Darfur. Graves períodos de seca e crises econômicas aumentam o fluxo de árabes na região e, com isso, a intensidade dos conflitos. Em 1999, são destruídas 125 vilas masalits, com centenas de mortos.


Abril de 2003: Estopim para o genocídio

O Exército de Libertação do Sudão (ELS) rebela-se e reivindica a divisão dos poderes da elite árabe entre os africanos do estado de Darfur e o fim das invasões das tribos nômades. O governo cria a Força de Defesa Popular (FDP), arma a milícia Janjaweed e inicia um violento processo de “limpeza étnica”.


2011: Separação do país

Com 99% de votos, em 9 de julho foi declarada a separação da parte sul do Sudão, de maioria cristã, constituindo o mais novo país do mundo: República do Sudão do Sul. A região mantém intenso conflito com o norte, além de problemas sociais e financeiros. Uma guerra civil entre 2013 e 2018 fez 2,2 milhões de sul-sudaneses partirem para campos de refugiados ao redor.