Em anotações, o ex-presidente expôs sentimentos íntimos de sofrimento e demonstrou características depressivas — que sempre estiveram presentes em sua família
Poucas pessoas foram tão controversas para a história nacional quanto o presidente Getúlio Vargas, o camaleônico gaúcho que foi desde o ditador que fundou o projeto nacional brasileiro até o popular presidente, democraticamente eleito e pedido pelo povo, que mobilizou a nação.
Até mesmo o trágico fim de sua vida resultou numa das maiores viradas políticas de nossa história republicana: o tiro que deu no próprio peito atingiu, como diria Eduardo Bueno, a cabeça da oposição e levou todo o povo à rua em luto pela perda do político. Adiou o Golpe Militar em 10 anos.
Entretanto, o suicídio não foi apenas um ato político frio, mas é completamente condizente com as características apresentadas por Vargas e sua família: um avogado depressivo e um histórico marcado por mais dois que tiraram a própria vida. Se partirmos dos relatos pessoais do ex-ditador, é possível perceber momentos em que isso se torna bem claro.
Relatos entristecedores
Getúlio começou a escrever seus diários durante os preparativos da Revolução de 1930. Logo no princípio, já era abertamente destacado suas pretensões autocídias: escreveu “Quantas vezes desejei morte como solução da vida. E, afinal, depois de humilhar-me e quase suplicar para que os outros nada sofressem, sentindo que tudo era inútil, decidi-me pela revolução, eu, o mais pacífico dos homens, decidido a morrer. E venci, vencemos todos, triunfou a Revolução”, no dia 20 de Outubro.
Em termos de personalidade, Vargas apresentou pensamentos depressivos e suicidas. “Getúlio deu sinais, pelo menos mais três vezes, de que poderia fazer isso. Hoje, se diria que ele tinha depressão. Era um homem isolado, de bom humor, muito afável, mas, ao mesmo tempo, uma ilha. Era sujeito às pressões e não se abria com ninguém”, definiu bem o escritor Juremir Machado, ao portal Terra.
Em 3 de outubro, no mês da Revolução, Vargas iniciou o diário com uma nota demonstrativa do seu estado de depressivo. Ele confessou que, se seus planos para o país não dessem certo, ele pagaria com a própria vida. Além disso, em diversos momentos ele manifestava tristezas e impotências no dia a dia que são notáveis em pessoas que sofrem com a depressão. Em 1 de setembro de 1939, escreveu:
“Todos passeiam, vão aos teatros e se divertem. Eu só trabalho. Não me queixo, nem maldigo a sorte. Sorrio apenas dos que supõem que este posto seja um gozo, e que eu esteja aqui para servir-me e não para servir.”
Durante sua passagem como ditador, ele, assim como em seus relatos sobre as multidões o ovacionando em seu caminho para amarrar seu cavalo no Catete, encara a realidade com cansaço, na posição de quem é privado de satisfação.
Histórico familiar
A família Vargas tem três suicídios conhecidos, todos com tiro de revólver. O primeiro foi aquela catártica solução temporária para a crise política de 1954. O filho do presidente, Manuel Antonio Vargas, também se matou.
Recentemente, em 2017, o neto homônimo Getúlio Dornelles Vargas também tirou a própria vida. Mas muitos acreditam que também haja um histórico anterior de depressão e suicídio entre os Vargas.
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