Atualmente, ocorre na capital paraibana a ideia de mudar seu nome; confira a homenagem por trás de 'João Pessoa'
Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 27/10/2023, às 10h32
Na última semana, um assunto se tornou pauta em vários noticiários do Brasil: o município de João Pessoa, capital da Paraíba, pode sofrer uma mudança em seu nome. Atualmente, a ação judicial está liberada para julgamento no Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, e uma consulta popular pode decidir se o nome será ou não alterado.
O atual nome da cidade vigora desde 1930 e compreende uma homenagem a João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, advogado e político brasileiro assassinado no mesmo ano, em Recife. A figura foi escolhida, pois, mesmo que não seja sempre mencionado nos livros de História, possui uma grande importância para a história do Brasil. Ele foi, até mesmo, candidato à vice-presidência ao lado de Getúlio Vargas.
De acordo com o UOL, alguns grupos que rejeitam "João Pessoa" como nome para a capital paraibana solicitam o retorno ao nome anterior, "Parahyba". No entanto, a verdadeira ideia para isso vem da Constituição Estadual da Paraíba, não de uma tentativa de alterar o nome, mas sim "por uma questão legal", conta o advogado Raoni Vita, autor da ação no Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, ao colunista Carlos Madeiro, do UOL.
Isso partiu do meu mestrado em direito internacional, em que abordo a democracia no Brasil. Analiso normas internacionais que exigem o avanço dos países sobretudo da democracia participativa e faço uma análise crítica do caso brasileiro, sobre mecanismos como plebiscito, referendo e lei de iniciativa popular; e como eles são pouco utilizados", explica.
Entendendo a confusão em torno da possível mudança de nome na capital paraibana, confira a seguir um pouco da história e quem foi o político João Pessoa:
Nascido no dia 24 de janeiro de 1878 em Umbuzeiro, na Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque era filho de Cândido Clementino e Maria de Lucena, irmã do ex-presidente Epitácio Pessoa. Em 1899, ingressou na Faculdade de Direito do Recife, onde se graduou em 1903, e lá permaneceu até 1910. Três anos depois, foi nomeado auditor da Marinha graças à influência do tio, e em 1920 tornou-se ministro civil do Supremo Tribunal Militar.
De acordo com o site ebiografia, no dia 22 de junho de 1928, ele foi eleito presidente do estado da Paraíba — cargo este relativo ao governador, hoje em dia — pelo Partido Republicano, mas no ano seguinte rompeu com o governo federal, rejeitando a candidatura presidencial de Júlio Prestes.
Enquanto esteve no poder, no entanto, ficou conhecido por reduzir a sonegação de impostos e equilibrar a economia do estado, estimulando a agricultura e a indústria.
Quando um político gaúcho chamado Getúlio Vargas se candidatou à presidência do Brasil, João Pessoa foi indicado para vice-presidente na mesma chapa, apoiados por Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, estabelecendo a chamada Aliança Liberal — uma união política entre Paraíba, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
No período, o que vigorava no Brasil era a chamada política do café-com-leite, na qual a presidência alternava, de maneira geral, entre um candidato paulista e um candidato mineiro. Porém, em paralelo à formação da Aliança Liberal, o presidente Washington Luís apoiou o paulista Júlio Prestes, rompendo com a política que vigorava, para sucedê-lo posteriormente.
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Em meio ao acirrado clima político, Júlio Prestes foi quem venceu as eleições, ocorridas em março de 1930, e deveria assumir o cargo em novembro. Porém, em outubro daquele ano, Getúlio Vargas aplicou um golpe pelo qual ficaria conhecido para sempre na história do Brasil, permanecendo por 15 anos na presidência.
Em meio aos caóticos eventos de 1930, ainda antes do golpe de Getúlio Vargas, também ocorreram disputas políticas internas na Paraíba: um fazendeiro, o coronel José Pereira, apoiava Júlio Prestes.
Então, João Pessoa mandou a polícia invadir o escritório de João Dantas, um advogado e jornalista brasileiro ligado a proprietários de terras prejudicados pela cobrança de impostos estabelecida por João e, em busca de armas contrabandeadas, encontrou cartas íntimas do homem com sua amante. As correspondências acabaram divulgadas no jornal do governo, causando um grande escândalo.
Foi por isso que no dia 26 de julho de 1930, enquanto estava em uma confeitaria centro da cidade do Recife, João Pessoa foi alvejado por cinco tiros disparados pessoalmente por Dantas, e morto. Em 4 de setembro daquele ano, a capital da Paraíba teve seu nome alterado de Parahyba para João Pessoa, em homenagem ao presidente do estado assassinado.
A morte de João Pessoa, por sua vez, foi um forte estopim para a chamada Revolução de 1930, que colocou Vargas no poder: Washington Luís foi derrubado após um golpe militar, e uma Junta Pacificadora composta por generais foi formada. Em 3 de novembro daquele ano, Getúlio Vargas tornou-se presidente do Brasil.
