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Matérias / Drag queens

Drag queens na Segunda Guerra: Os curiosos shows de drag realizados pelo exército dos EUA

Saiba mais sobre o período em que soldados norte-americanos colocaram maquiagem e tutus de balé pelo bem de sua nação

Ingredi Brunato Publicado em 03/06/2023, às 09h00

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Fotografia mostrando a trupe de "Esse é o Exército", um show drag militar - Divulgação/ Arquivo Nacional dos EUA
Fotografia mostrando a trupe de "Esse é o Exército", um show drag militar - Divulgação/ Arquivo Nacional dos EUA

Na última quinta-feira, 1, o Pentágono (sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos) anunciou que a realização de shows de drags queens em bases militares norte-americanas está proibida. 

Drag queens, vale lembrar, são artistas do sexo masculino que se fantasiam de maneira hiper feminina para entreter audiências em performances que podem envolver música, dança, teatro, humor, entre outros elementos. No Brasil, alguns dos grandes nomes da música nacional são drags, como Pabllo Vittar e Gloria Groove

Nos EUA, porém, essa forma de arte vem sendo intensamente condenada por camadas mais conservadoras da sociedade nos últimos tempos, o que também se reflete através de legislações que buscam banir os shows realizados por essas artistas. 

É neste contexto, portanto, que ocorreu a proibição do Pentágono. Conforme apontado pela revista Forbes, contudo, a presença desta modalidade de entretenimento dentro do exército norte-americano não é recente, muito pelo contrário: já existem apresentações drag no ambiente militar desde o século 19. 

A história

Durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, shows com homens fantasiados como mulheres eram comuns nas Forças Armadas dos Estados Unidos, sendo organizados pelas próprias autoridades bélicas do país a fim de dissipar o estresse e levantar a moral dos soldados frente à destruição provocada pelo conflito, assim como para comemorar vitórias sobre o inimigo.

As trupes de artistas que subiam nos palcos, por sua vez, eram formadas pelos próprios oficiais militares, que se voluntariavam para usar maquiagem e vestuário feminino (porém em estilo muito mais simples que o das drags atuais) a fim de performar números de comédia — como, por exemplo, recitais de balé satíricos.

Fotografia de um soldado sendo maquiado para show drag / Crédito: Divulgação/ Arquivo Nacional dos EUA 

O Army Special Services, um órgão já extinto o Exército dos EUA que era responsável por gerar entretenimento para as tropas do país, chegou a publicar um manual explicando como montar uma dessas apresentações.

O livro sugeria coreografias e dava dicas de como encontrar os tecidos necessários para a confecção dos figurinos, entre outras informações, segundo relata o portal oficial do Museu Nacional da Segunda Guerra, que fica localizado na cidade estadunidense de Nova Orleans. 

Perspectivas em colisão  

Uma das mais famosas produções em estilo drag queen performadas por soldados se chamava "Esse é o Exército", e teria alcançado grande sucesso se apresentando na Broadway para plateias formadas por civis em 1942. A iniciativa, vale mencionar, tinha o objetivo de arrecadar recursos para o chamado "Fundo Emergencial das Forças Armadas". 

Foto da trupe de 'Esse é o Exército' em palco / Crédito: Divulgação/ Arquivo Nacional dos EUA

Por outro lado, aponta o site oficial estadunidense, a fama alcançada por esse e por outros projetos semelhantes da época também não significa que ninguém os criticou: definitivamente já havia oposição aos shows de drag queens nos Estados Unidos de então, porém as autoridades norte-americanas buscavam contra-argumentar as críticas reforçando que os oficiais performando nos espetáculos também estavam contribuindo para a vitória dos Aliados no confronto. 

Essa mensagem é presente, por exemplo, em um filme 1943 que buscou retratar a trajetória da produção teatral "Esse é o Exército"

Na versão cinematográfica de "This Is the Army", os atores marcham, no final do filme, para se juntar aos soldados que lutam na frente de batalha. Essa peça de propaganda militar de Hollywood reforça o conceito que, embora os atores possam ser divertidos, eles também são heróis americanos que querem proteger o país que amam", explica o portal do Museu Nacional da Segunda Guerra.

Outra contradição que caracterizou esse período histórico é destacada pelo site do American Social History Project, sendo referente à comunidade LGBTQ+: ao mesmo tempo que essas apresentações drag da Segunda Guerra Mundial podiam proporcionar um ambiente de diversidade e autoexpressão, o Exército dos EUA prosseguia sendo uma organização intolerante com orientações sexuais ou identidades que desviassem da norma. 

Assim, soldados que participavam desses shows precisavam tomar cuidado para que seus pares não pensassem que eles eram gays, por exemplo, o que poderia fazer com que fossem dispensados de seu cargo militar.