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Matérias / Brasil

Família de senador morto por pai de Fernando Collor passou por dificuldades

Há 60 anos, o senador José Kairala foi morto pelo senador Arnon de Mello dentro do Plenário do Senado Federal; família passou por dificuldades

por Thiago Lincolins

tlincolins_colab@caras.com.br

Publicado em 04/12/2023, às 11h06

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José Kairala (à esqu.) e Arnon de Mello (à dir.) - Reprodução
José Kairala (à esqu.) e Arnon de Mello (à dir.) - Reprodução

Há exatos 60 anos, um faroeste caboclo tomou conta do Plenário do Senado Federal, em Brasília. Uma confusão envolvendo os senadores Arnon de Mello e Silvestre Péricles, rivais, acabou resultando na morte de José Kairala, senador do PSD do Acre e suplente. A arma, sacada pelo pai de Collor, acabou acertando Kairala, que tentava acalmar os ânimos. 

Aos 39 anos, ele foi levado até um hospital público em Brasília, entretanto, não sobreviveu. Piorando a situação, o filho pequeno, levado até o Plenário para conhecer o local histórico, presenciou a verdadeira tragédia. 

Dificuldades

Lidando com o luto, a família de Kairala também passou por dificuldades. Na época, Creusa da Silva Kairala, a viúva, não recebeu uma indenização a altura. Ela tinha quatro filhos e esperava a chegada de mais um quando o marido foi assassinado naquele 4 de dezembro.

Depois de anos, começou a receber uma pensão de baixo valor, que não era compatível com o salário mínimo vigente. Embora tenha tentado uma indenização digna, o cenário não era favorável para a viúva. Como consequência, ela foi à luta. 

Como repercutido pelo O Tempo, Creusa revelou à Veja, em 1988, que passou a trabalhar como lavadeira e babá para os filhos 'não passarem fome'. Ela também chamou atenção para o fato de dois políticos conseguirem entrar no Congresso armados. 

"A rixa entre duas pessoas que nada tinham a ver com minha família e a irresponsabilidade de dois políticos em entrar armados no Congresso Nacional me transformaram de mulher de senador em lavadeira e babá. Para não ver meus filhos passarem fome, arregacei as mangas e fui para o tanque lavar roupas para os outros", desabafou ela.

A morte de Kairala

“Senhor presidente, com a permissão de Vossa Excelência, falarei de frente para o senador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, que me ameaçou de morte.” Com essas duras palavras, o também senador Arnon de Mello, de Alagoas, inaugurou os serviços no Senado no dia 4 de dezembro de 1963.

Os desentendimentos entre Arnon e Silvestre se arrastavam havia tempos, desde que tentaram medir quem era mais influente em Alagoas, estado de origem de ambos. O presidente da Casa, o paulista Auro de Moura Andrade, já dava evidências da preocupação que tinha com o clima de tensão que ali vinha se instalando. A fala de Arnon diretamente dirigida ao seu inimigo político foi o estopim para que se iniciasse um faroeste caboclo no Senado.

Silvestre não aceitou o desaforo e atacou verbalmente Arnon, que, por sua vez, sacou o revólver que carregava consigo – um Smith Wesson 38, ou três-oitão, na linguagem popular, de cano longo e cabo de madrepérola – e disparou várias vezes. Nenhum dos tiros atingiu Péricles, que também estava armado, mas que “jogou-se no chão e rastejou entre as fileiras de poltronas com seu revólver na mão”, como relata reportagem do Jornal do Brasil, antes de ser amparado e desarmado pelo colega paraibano João Agripino.

Dois projéteis, no entanto, acertaram José Kairala, senador do PSD do Acre, que, junto com Agripino, procurara conter os “excelentíssimos senhores” de armas em punho. Kairala tinha 39 anos e substituía momentaneamente José Guiomard, do mesmo partido. Eram suas horas derradeiras no exercício da função, pois devolveria o cargo no dia seguinte ao titular.

Ele foi baleado na frente do filho pequeno, da esposa e da mãe, que haviam ido prestigiá-lo no último dia de tão nobre trabalho. O disparo acertou seu abdômen. Embora tenha sido socorrido rapidamente e levado ao Hospital Distrital de Brasília, ele faleceu no mesmo dia, pouco depois das oito horas da noite.