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Matérias / Estados Unidos

Há 79 anos, George Stinney era injustamente executado na cadeira elétrica

No auge da segregação racial nos EUA, o garoto de 14 anos foi falsamente acusado, com o caso sendo revisto apenas em 2014

Alana Sousa, atualizado por Wallacy Ferrari Publicado em 31/01/2021, às 15h00 - Atualizado em 16/06/2023, às 09h51

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Foto de George Stinney após ser preso pela polícia - Wikimedia Commons / State of South Carolina
Foto de George Stinney após ser preso pela polícia - Wikimedia Commons / State of South Carolina

Na manhã de 16 de junho de 1944, a terrível angústia que o jovem George Stinney, de 14 anos de idade, enfrentava nas semanas anteriores teria um fim trágico. A justiça estadual da Carolina do Sul, nos EUA, avaliava o garoto como culpado por duas mortes, cujos corpos foram encontrados em uma vala próxima à residência do jovem.

Tratava-se de duas garotas brancas, identificadas como Mary Thames, de 8 anos, e a amiga Betty Binnicker, de 11, sendo vistas com vida andando de bicicleta na região de Alcolu, onde o rapaz morava. Os dados foram considerados suficientes para culpar o rapaz, no auge da segregação racial, e direcioná-lo a uma pena de morte.

Com apenas 40 kg e altura baixa, o menino teve de subir em uma lista telefônica para sentar na cadeira elétrica. Passou por todo o procedimento de lubrificação da cabeça para condução elétrica e, por fim, teve o capacete de choque instalado. Em pouco tempo, falecia sem defesa — e dando início a uma das sentenças mais injustas da história norte-americana.

Cena do filme Carolina Skeletons, que conta a história de George Stinney / Crédito: Divulgação/Multicom Entertainment Group

Como chegaram em George

Após o desaparecimento das meninas ser registrado por autoridades, uma investigação conseguiu localizar os corpos sem vida e com lesões traumáticas, em uma vala rasa coberta de água, logo no dia seguinte do registro. Sem a possibilidade de averiguar marcas palmares, suspeitos ou identificar uma arma, a investigação relacionou moradores próximos da cena.

Com isso, George e o irmão mais velho, Johnny Stinney, foram conduzidos para delegacia por dois fatores simples; não eram brancos e moravam próximos da vala onde os cadáveres foram localizados. Sem provas para edificar a constatação, Johnny acabou sendo liberado, mas o irmão mais velho ficou sob custódia dos oficiais.

A medida buscava estancar a pressão pública pela comovente morte de duas jovens garotas brancas — e com motivações raciais, culpar um garoto um pouco mais velho pela suposta imprudência seria a maneira mais simples de encerrar o caso sem alcançar o verdadeiro culpado, dada as limitações de interesse ou ferramentas em investigar.

Dessa maneira a confissão do garoto "foi feita" e aceita pela justiça, mesmo sem a presença de advogados ou ao menos a assinatura de George.

Julgamento rápido

Em um juri composto apenas de pessoas brancas, a sentença foi confirmada em uma hora de julgamento, relacionando uma suposta tentativa de estupro com o duplo assassinato, onde ele teria usado uma barra de ferro para tal.

Em uma cela solitária em Columbia, Stinney aguardou o dia da execução. Três meses depois, em junho, aconteceu a eletrocussão, mesmo com um apelo da família para o governador do estado, Olin D. Johnson.

O político negou a revogação da sentença e, segundo o The Guardian, respondeu na época para os parentes: “Poderia ser interessante para vocês saber que Stinney matou a menina mais nova para estuprar a mais velha. Depois, ele matou a garota e estuprou seu defunto. 20 minutos depois, ele voltou e tentou estuprá-la de novo, mas seu corpo estava muito frio. Tudo isso foi admitido por ele”. Como era de se imaginar, a informação era um boato, desmentido pelo exame físico post-mortem.

Era o fim de um menino de 14 anos, cuja culpa era morar perto de uma cena do crime. Todavia, 70 anos depois, uma revisão do caso mudou a reputação de George, ainda que não tenha sido possível mudar seu passado.

Cena do filme Carolina Skeletons, que conta a história de Stinney / Crédito: Divulgação/Multicom Entertainment Group

Revisão histórica

Em dezembro de 2014, conforme repercutiu o portal G1, a juíza Carmen Tevis Mullen, da Carolina do Sul, revisou a sentença de George Stinney e mudou o veredito. Devido a um julgamento repleto de “violações fundamentais e constitucionais a um processo regular”, a magistrada absolveu o garoto, declarando-o inocente.

Em sua decisão histórica, Mullen relatou: “Não lembro de um caso, em que tenham sido tão abundantes as provas de violações aos direitos constitucionais e tantas as injustiças”. Mencionando detalhes essenciais que poderiam ter mudando o futuro do acusado, Carmen escreveu que o advogado contratado “fez muito pouco, ou nada, para defender Stinney”.

A arma do crime, uma barra de ferro de 38 centímetros parece ter sido adquirida ilegalmente, pelos policiais que atuaram no episódio. Sobre o tema, a juíza comentou que os oficiais agiram de “forma indevida, não conforme os códigos e os procedimentos penais”.

Embora não tenha mudado o que acontecera com George na década de 1940, a revisão serviu para limpar seu nome para a sociedade, algo que membros de sua família buscavam incansavelmente durantes os últimos anos. Ao saber da absolvição do irmão, Katherine Stinney Robinson, de 80 anos, falou: “Estou tão feliz, essa decisão demorou muito”.