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Matérias / 11 de Setembro

Henryk Siwiak: A vítima esquecida do 11 de setembro

Quando as Torres Gêmeas foram atingidas pelos aviões, Henryk Siwiak presenciou tudo. Mas quando ele foi assassinado no fim do dia, ninguém conseguiu ouvir seu pedido de ajuda

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 12/11/2022, às 00h00 - Atualizado em 24/11/2022, às 18h39

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Fotografia de Henryk Siwiak - Divulgação/ Arquivo Pessoal
Fotografia de Henryk Siwiak - Divulgação/ Arquivo Pessoal

Cerca de duas mil pessoas morreram na cidade de Nova York em 11 de setembro de 2001. Mas apenas uma morte permanece sem explicações até hoje: a de Henryk Siwiak. O imigrante polonês não foi vítima do atentado terrorista. Mas sim assassinado no Brooklyn naquela noite. 

Com todo o caos que se instaurou no país, como o mundo repercutindo as imagens de Manhattan sendo consumida pela fumaça cinza das explosões, a polícia de Nova York não conseguiu dar uma resposta para a família de Siwiak

Ataque do 11 de setembro de 2001/ Crédito: Getty Images

Até hoje, inclusive, ninguém sabe quem foi seu algoz ou o motivo pelo qual ele morreu. O caso continua sem solução. Por conta disso, Henryk Siwiak permanece lembrado como a última vítima do 11 de setembro

Um polonês na América

Nascido na Cracóvia (Polônia), em 1955, Henryk Siwiak sempre foi apaixonado pela ciência. Embora não tenha conseguido entrar na faculdade, consegui se formar em uma escola técnica, se tornando inspetor da Estrada de Ferro Nacional Polonesa. Além da sua profissão, a ciência também lhe trouxe seu grande amor: a cientista Ewa, com quem teve dois filhos. 

Conforme recorda artigo do WNYC.org, Siwiak acabou sendo demitido em 2000. Aquela época, a Polônia vivia uma enorme crise econômica e a taxa de desemprego afetava 15% da população. Assim, Henryk decidiu ir em busca do sonho americano, se mudando sozinho para Nova York. 

Ewa e Henryk Siwiak/ Crédito: Divulgação/Arquivo Pessoal

Apesar da dificuldade com o inglês, ele encontrou um emprego em construções. Instalado em Far Rockaway, no Queens, onde sua irmã Lucyna havia emigrado seis anos antes, ele conseguia se manter com sua renda de mil dólares — e ainda enviar metade do valor para sua família. Seu sonho era conseguir prover a faculdade de sua filha. 

Na manhã do 11 de setembro, ele trabalhava em um canteiro de obras na baixa Manhattan quando um avião atingiu uma das torres. Apesar da tragédia, havia decidido não abandonar o dia de trabalho. Precisava daquele dinheiro. 

Mas tudo mudou quando o segundo avião colidiu. Com o turno encurtado, conforme recorda matéria do All That Interesting, Siwiak conseguiu arrumar um bico para aquela noite: seria auxiliar de limpeza. 

Eu disse a ele, por precaução, não vá esta noite”, lembrou sua esposa mais tarde à Inside. “Pode ser perigoso em Nova York.”

Mas Henryk estava determinado a concluir seu dia de trabalho. Vestido com uma jaqueta camuflada, partiu em direção a uma loja na 1520 Albany Avenue Pathmark. Entretanto, jamais voltou para casa. 

A morte não resolvida de 11/11

Antes de sair de casa, Henryk pediu informações à dona do imóvel em que vivia. Enquanto analisavam o mapa juntos, ela acabou cometendo um erro. Mas que acabou sendo fatal para Siwiak

Ela mostrou a ele no mapa onde ficava a Avenida Albany”, explicou o tenente Tom Joyce.

Henryk Siwiak acabou sendo encaminhado para a 1 Albany Avenue em Bedford-Stuyvesant, a cinco quilômetros de distância da 1525 Albany Avenue, onde ele realmente deveria estar. 

Fotografia de Henryk Siwiak/ Crédito: Divulgação/ Arquivo Pessoal

No destino errado, ele saiu da estação de metrô em Fulton Street cerca de 11 horas da noite. Ao perceber o equívoco, partiu em direção ao endereço correto. Neste meio tempo, a família de Siwiak acredita que, por conta de seu sotaque estranho e sua jaqueta camuflada, ele pode ter sido confundido com um terrorista ou como uma ameaça por uma pessoa que não queria pagar para ver. 

O detetive do Departamento de Polícia de Nova York, Mike Prate, não tem tanta certeza sobre isso. Mas ele sabe que Siwiak entrou em uma parte ruim da cidade. “Pesado uso de drogas, grande envolvimento de gangues… Não sei se a queda do World Trade Center realmente [afetou] o tráfico de drogas na Albany Avenue”, repercutiu o All That Interesting. 

A única certeza, porém, é que ele foi baleado no peito por volta das 11h42. Com uma bala alojada em seu pulmão, Siwiak deixou um rastro de sangue pelo chão, visto que havia se rastejado em busca de ajuda. Ninguém lhe ouviu. 

Em 2001 não havia iPhones, não havia câmeras de vídeo”, lembrou o detetive George Harvey. “Havia alguns, mas não como há hoje no bairro…”.

Sobrecarregada, a polícia nova-iorquina não conseguiu dar a atenção necessária para a cena do crime. Até hoje, nenhuma testemunha se apresentou para falar do caso, tampouco as autoridades conseguiram imagens que ajudassem nas investigações. 

Atentado às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001/ Crédito: Getty Images

Entre seis e oito tiros foram ouvidos naquela noite, mas a identidade do atirador permanece um mistério. A versão da polícia é que Henryk Siwiak tenha sido vítima de um roubo mal sucedido. Entre todas as vítimas daquele 11 de setembro, ele foi a única a ser ‘esquecida’ com o tempo. E aquele que, provavelmente, a família jamais terá justiça.