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Matérias / China

Gigante vermelho: A China ainda é comunista?

Durante visita ao país, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que estava "em um país capitalista". Com a segunda maior economia do mundo, o partido único continua a ser comunista. Faz sentido?

Maria Carolina Cristianini Publicado em 24/10/2019, às 15h15

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Na China, a economia de mercado convive com um partido único comunista - Reprodução
Na China, a economia de mercado convive com um partido único comunista - Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro está fazendo uma visita de dois dias à China, que começou hoje, 24. O país asiático é oficialmente comunista, uma ideologia a qual o político é contrário. Em resposta a isso, Bolsonaro disse: "Estou em um país capitalista". Afinal, a China é um país comunista?

A resposta técnica é sim. Afinal, a China é comandada pelo Partido Comunista Chinês. E a resposta óbvia é não. Falamos de um país onde diversas marcas de carro podem ser vistas pelas ruas, emolduradas por arranha-céus modernos, novos-ricos desfilando em roupas de grife, executivos ocupados com seus celulares. A expressão negócio da China faz mais sentido que nunca. Pequim e Xangai hoje estão muito mais para Nova York que Stalingrado. 

A verdade é mais difícil de apreender. Para o historiador Marcos Cordeiro Pires, professor de relações internacionais e ciências sociais da Unesp, a China é coerentemente marxista. “O capitalismo não se caracteriza apenas por uma economia de mercado, mas pelo poder político da burguesia. Apesar de a China praticar a economia de mercado, a burguesia do país não tem esse poder. Todas as decisões econômicas são tomadas pelo Partido Comunista, também forte no setor de serviços, como os bancos. O partido é, declaradamente, baseado nos princípios de Karl Marx.”

Os princípios, no caso, sendo que a revolução comunista nasce do proletariado no capitalismo avançado. Essa ideia guiou ninguém menos que Lenin nos primeiros anos da União Soviética, quando lançou a Nova Política Econômica (NEP), restabelecendo uma economia de mercado de forma limitada, após ter abolido toda a propriedade no começo da Revolução Russa.

A China também começou tentando o caminho direto. Em 1949, quando Mao Tsé-Tung e o Partido Comunista Chinês venceram, o pensamento era de que a construção do socialismo deveria acontecer imediatamente, mesmo com a China mergulhada no atraso. 

Essa ideia foi enterrada a partir de 1978, com a ascensão de Deng Xiaoping. “A posição desse outro setor do partido entendia que a transição socialista teria como condição o desenvolvimento das forças produtivas, um aumento significativo da riqueza social da nação”, explica Marcos Del Roio, professor de ciências políticas da Unesp.

Em 1979, o governo chinês lançou uma ampla reforma que pretendia fazer do país uma potência mundial. E conseguiu. A segunda maior economia do mundo pratica o chamado capitalismo de Estado, nome também usado para a NEP de Lenin.

Para a chinesa Ann Lee, professora adjunta da Universidade de Nova York, são sinais de que o país “está mais para capitalista com aspirações socialistas”. Lee defende que o comunismo não vem sendo praticado e falhou sob o comando de Mao. Que a revolução proletária idealizada por Marx ficou na promessa. 

Promessa para o futuro

Adiar a revolução indefinidamente não é exatamente hipocrisia. Isso faz sentido, de acordo com Ann Lee, numa sociedade que, segundo os próprios chineses, pensa em séculos. “Se abrirmos o leque para 2 mil anos, podemos observar que a sociedade chinesa nunca teve o individualismo, tão presente no mundo ocidental, como algo central. É uma questão de origem de um povo”, diz Marcos Cordeiro Pires. Dentro do pensamento chinês, o prometido comunismo, o mundo sem propriedade privada, Estado ou opressão profetizado por Marx, chegará um dia. Só não se sabe em que século. Ou milênio.

Enquanto não vem o comunismo, o sistema chinês também não é exatamente o capitalismo clássico. As estatais não foram abandonadas. Representando apenas 3% das empresas atuais, elas são responsáveis por, de acordo com dados do Epoch Times, entre 25% e 30% do total da produção industrial.

Além disso, o partido, com quase 90 milhões de membros, mantém integrantes ou seus familiares na direção de indústrias-chave.

Alguns dos principais empresários chineses mantêm relações com o partido, apesar do endurecimento recente do governo. Em 2017, o nome de um desses bilionários, Wang Jianlin, emergiu acompanhado de acusações de corrupção. Seu conglomerado, apesar das boas relações com o partido, acabou se tornando alvo de investigação sobre fraude financeira e entrou na mira do presidente Xi Jinping. Acabou tendo seu financiamento cortado.

A China mantém as portas abertas para os negócios, mas continua a ser um dos regimes mais repressivos do mundo. Não há como saber se os chineses compram mesmo essa versão “paciente” do comunismo. Para garantir que ninguém saia dos trilhos, um exército de 2 milhões de pessoas é empregado pelo governo para controlar a internet e a opinião pública. Por ora, da “ditadura do proletariado”, os comunistas chineses implementaram com sucesso a primeira parte.


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