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Matérias / Personagem

Neste dia, em 1918, morria Manfred von Richthofen, o notório Barão Vermelho

Por dentro da meteórica carreira do ás dos ases, que ainda hoje é símbolo máximo da galhardia do aviador de combate

Fábio Varsano Publicado em 21/04/2020, às 06h00

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Manfred von Richthofen, o Barão Vermelho em foto colorizada - Divulgação/Klimbim
Manfred von Richthofen, o Barão Vermelho em foto colorizada - Divulgação/Klimbim

Com 80 aviões derrubados em seu currículo, ele pode não ser o campeão em números absolutos - na outra grande guerra, seu compatriota Erich Hartmann abateria incríveis 352 adversários. Mas o Barão Vermelho fez isso antes, quando era novidade e pilotar um caça era coisa que se aprendia fazendo. Obteve seu número em meros dois anos, quando havia bem menos aviões no ar. Ele definiu o que é um "ás". E, talvez o mais importante, diferente de Hartmann, não lutava a favor de certo Adolf. 

Manfred von Richtofen foi o líder da máquina de matar Jagdstaffell 11, mais conhecida como Jasta 11. Uma unidade de elite formada pelos mais destemidos aviadores da Alemanha, a maioria filhos de aristocratas. Em dois anos, o grupamento abateu 350 aeronaves adversárias. A Jasta 11 foi criada em setembro de 1916, como parte do programa da Força Aérea alemã de formar esquadrões especializados. Nos primeiros meses, Rudolf Lang liderou a tropa, sem conquistas de destaque.

Até que, em janeiro de 1917, a função foi passada a Richthofen. Ele já era um piloto reconhecido por ter derrubado 16 aviões inimigos e ser agraciado pelo kaiser Guilherme II com a Ordem Pour Le Mérite, a mais alta condecoração por bravura do império alemão. Nada mal para quem entrara numa aeronave pela primeira vez menos de dois anos antes, em maio de 1915, desviando- se de uma longa tradição.

Queijo e ovos

Descendente de uma família nobre, que recebeu o título vitalício de barão em 1741 do imperador Frederico da Prússia, Richthofen foi criado para ingressar na cavalaria, tal qual seus antepassados. Nascido em 2 de maio de 1892 em Breslau, hoje parte da Polônia, ia a caçadas com o pai, Albrecht, um oficial da cavalaria, para aprender a atirar. Aos 11 anos, entrou na escola de cadetes prussianos, de onde saiu em 1911 para integrar o 1º Regimento Uhlan de Cavalaria.

Quando a guerra estourou, em 1914, a unidade foi enviada para lutar contra os russos. A Richthofen cabia o trabalho de reconhecimento. Após ser condecorado com a Cruz de Ferro de 2ª Classe, foi deslocado para a frente ocidental, onde atuou a contragosto na retaguarda.

“Não vim para a guerra para apanhar queijos e ovos”, escreveu a um superior ao pedir transferência para uma unidade aérea. Após dois meses de treinamento, participou do 69º Esquadrão de Vôo durante ofensiva em direção a Brest- Litovsk. Com a função de observador, não entrava diretamente nos conflitos, mas logo foi para aeronaves de reconhecimento. Com o piloto Georg Zeumer, patrulhava o Mar do Norte. Em um desses vôos, em setembro de 1915, Richthofen travou seu primeiro confronto contra um avião inglês. Sem vítimas.

Retrato feito por Nicola Perscheid / Crédito: Domínio Público

Poucos dias depois, como ajudante do tenente Paul von Osterroth, usou a metralhadora de ré e conseguiu atingir um avião, numa vitória não confirmada porque a aeronave caiu em território inimigo. Em seu primeiro vôo solo, em outubro daquele ano, o jovem piloto danificou o avião na aterrissagem. Depois de novas aulas, recebeu o certificado perto do Natal. Em março de 1916, já pilotava um Albatros B. II, com motor de 100 hp, capaz de chegar a 100 km/h a 3 mil metros de altitude. Um mês depois, a bordo de um aparelho desses, alvejou um Nieuport francês que sobrevoava Verdun, mas o caso mais uma vez não foi contabilizado.

Mandado para o front russo, bombardeou estações ferroviárias, atacou regimentos cossacos e destruiu pontes. Mas ainda não era o que Richthofen sonhava. A oportunidade chegou em agosto, quando Oswald Bölcke – maior ás alemão da época ao lado de Max Immelmann – foi incumbido de recrutar talentos para formar a Jasta 2. Criador do Bölcke Diktat, conjunto de regras para pilotos de caça, o veterano gostou daquele jovem impetuoso.

A primeira vitória pessoal de Richthofen no novo esquadrão ocorreu na manhã de 17 de setembro de 1916, ao derrubar uma aeronave inglesa. Em sua precoce autobiografia, ele descreveu o episódio: “Em uma fração de segundo, eu estava atrás dele com meu excelente avião. Disparei rajadas com minha metralhadora. Eu estava tão próximo do inglês que temia colidir com ele. De repente, quase gritei de alegria quando vi sua hélice parar. Eu tinha despedaçado seu motor, forçando-o a pousar em nossas linhas”. E continuou: “O observador morreu pouco depois e o piloto faleceu enquanto estava sendo transportado para um hospital próximo. Eu homenageei o inimigo colocando uma pedra em seu bonito túmulo”.

Homenagens aos oponentes viraram costume: além de pegar um pedaço do avião que havia abatido como souvenir, mandava confeccionar uma taça de prata com o tipo de aeronave destruída e a data. A perícia de Richthofen destacava-se. Em dois meses, já havia derrubado 11 inimigos, entre eles o maior ás inglês, o major Lanoe Hawker, comandante do 24° Esquadrão. Como recordação, levou para casa a metralhadora inutilizada do britânico.

Richthofen se tornou o maior combatente aéreo da História / Crédito: Domínio Público

A eficiência alçou-o ao comando da Jasta 11, para a qual levou seu irmão mais novo, Lothar, outro grande nome da aviação alemã, com 40 vitórias. Assim que assumiu o cargo, Richthofen pintou de vermelho seu biplano Albatros D.III. Os companheiros da unidade pensaram em fazer o mesmo para que o comandante não virasse alvo fácil, mas Richthofen proibiu. Para ter direito a personalizar a aeronave, o piloto tinha de provar ser um exímio caçador. Sua tese era a de que passaria a ser temido nos céus.

Teoria que se mostrou verdadeira ainda em janeiro de 1917, quando obrigou dois oficiais ingleses a um pouso forçado. “Foram os primeiros ingleses que eu trouxe ao solo com vida. Perguntei-lhes se já tinham visto meu avião. ‘Ah, sim!’, disse um deles. ‘Eu o conheço muito bem. Nós o chamamos de le petit rouge (o pequeno vermelho)’”, escreveu ele, que logo seria conhecido como Barão Vermelho.

Circo Voador

Em pouco tempo, a Jasta 11 ganharia o apelido de Circo Voador em função das cores berrantes das aeronaves de seus ases. Passaram pelo grupamento pilotos que colecionavam inimigos derrubados. Depois do Barão, o recordista foi Ernst Udet, com 62 conquistas. Um dos primeiros a usar pára-quedas para escapar do avião em queda, trabalhou no desenvolvimento da Luftwaffe no pós-guerra.

Werner Voss destruiu 48 oponentes até 23 de setembro de 1917, quando acabou morto em confronto com sete aeronaves britânicas. Kurt Wolff obteve 33 vitórias e Karl Schäefer, 30, assim como Carl Allmenröder. Outro destaque, mas que se tornou mais célebre anos depois, foi Hermann Göring, que venceu 22 combates aéreos. Nos anos seguintes, entrou para a política, passou a integrar a cúpula nazista e virou o comandante da aviação da Alemanha de Hitler.

O grupo registrou suas maiores marcas em abril de 1917. Em confronto com britânicos, a Jasta 11 abateu 89 oponentes – 21 deles em ataques de Richthofen. Depois do “Abril Sangrento”, como as batalhas ficaram conhecidas entre os ingleses, destruir o Barão Vermelho passou a ser uma obsessão. Mas ele parecia indestrutível, mesmo quando atingido, como em julho de 1917, na perseguição a um bombardeiro bimotor. “Eu tinha um respeitável buraco em minha cabeça, onde se podia ver o osso claro de meu crânio. Minha cabeça dura tinha me salvado mais uma vez”, brincou.

Fokker de Richthofen / Crédito: Domínio Público

Na manhã seguinte, a esquadrilha alemã iniciou ataque a 15 Sopwith Camels canadenses que faziam levantamento fotográfico. Richthofen posicionou-se atrás do avião do tenente Wilford May, mas não viu quando o capitão Roy Brown começou a disparar sua metralhadora. O Fokker do Barão mergulhou. Em baixa altitude próximo a Sailly-le-Sac, área da França controlada por tropas australianas, a aeronave vermelha levou nova carga e pousou. Quando se aproximaram, os soldados viram Richthofen morto no cockpit, aos 25 anos. Era o fim de uma era e início de uma lenda. Enterrado na Inglaterra, recebeu dos britânicos um funeral com honrarias e salva de 21 tiros.

Até hoje, Austrália e Canadá disputam quem abateu o Barão Vermelho e exibem partes da aeronave - já o motor pode ser visto no Imperial War Museum, em Londres. Pedaços do avião viraram relíquias e são disputados em leilões. Em 1925, por pressão do povo alemão, o corpo foi trasladado e enterrado em Invalidenfriedhof, principal cemitério de Berlim, após uma cerimônia em que foi escoltado por uma guarda de honra composta por ex-pilotos condecorados com a Ordem Pour Le Mérite.

Seu nome batizou uma das melhores unidades aéreas nazistas na Segunda Guerra. Após a derrota de Hitler, o monumento sobre seu túmulo foi destruído pelos soviéticos. Mas as homenagens continuaram: quando a nova Força Aérea foi criada no fim dos anos 50, sua primeira unidade recebeu o nome de JG 71 Richthofen.


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