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Matérias / Incêndio no Ninho do Urubu

Incêndio no Ninho do Urubu: Tragédia que vitimou 10 atletas da base completa 5 anos

Em 2019, cria do Flamengo recordou tragédia ocorrida em fevereiro daquele ano: 'Você não está preparado pra perder gente com quem convive no dia-a-dia'

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 08/02/2024, às 11h31 - Atualizado às 14h39

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Como ficou parte do CT do Flamengo após incêndio - Reprodução/TV Globo
Como ficou parte do CT do Flamengo após incêndio - Reprodução/TV Globo

O ano de 2019 foi mágico para o flamenguista. Sob o comando do mister Jorge Jesus, o rubro-negro carioca foi campeão da Libertadores e do campeonato brasileiro. Antes disso, quando ainda era treinado por Abel Braga, também conquistou o Cariocão. 

As vitórias, porém, jamais apagarão uma tragédia que comoveu o país. Às 5 horas da manhã do dia 8 de fevereiro, um incêndio acometeu o Ninho do Urubu — nome dado ao centro de treinamento do Flamengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. 

No momento em que o fogo começou — que teria sido causado por um curto-circuito no ar-condicionado do local —, por volta das 5 horas da manhã do dia 8 de fevereiro, 26 atletas das categorias de base estavam alojados e dormiam no CT. Como consequência da tragédia, 10 deles perderam suas vidas

As vítimas foram meninos que tinham entre 14 e 16 anos: Athila Paixão, Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Gedson Santos e Pablo Henrique Matos que tinham 14; Christian Esmério, Jorge Eduardo Santos, Samuel Thomas e Vitor Isaías, com 15; e Rykelmo de Souza, que tinha 16.  

As vítimas do incêndio/ Crédito: Reprodução

'Cada gol dedico pra eles'

Recentemente contratado pelo Palmeiras com o Almeria da Espanha, o atacante Lázaro, atualmente com 21 anos, era jogador da base do Flamengo quando ocorreu o Incêndio no Ninho do Urubu

Em novembro de 2019, Lázaro foi responsável pelo gol do título da Seleção Brasileira na Copa do Mundo sub-17, que venceu o México de virada por 2x1. Em entrevista ao programa 'Bem, Amigos', do SporTV, o atleta recordou os colegas que perdeu na tragédia. 

"Foi um momento bastante difícil. Eu estava em casa, a gente tinha voltado de um campeonato no Rio Grande do Sul e quem foi para esse campeonato estaria de férias. Eu estava dormindo em casa quando minha mãe falou: 'Lázaro, tá pegando fogo lá no CT'", recordou. 

"Eu não entendi. Não estava acreditando… Não sabia exatamente o que era. Só que quando eu botei a cabeça no travesseiro de novo [para voltar a dormir], veio algo ruim na minha cabeça. Na hora que eu vi na televisão, já peguei o telefone e comecei a mandar mensagem para os garotos que moram no CT e que eu sabia que estavam lá", continuou. 

Lázaro ainda relatou que ao saber do acontecido, ficou desesperado em busca de notícias. "Pra gente foi um momento bastante difícil. Porque você não está preparado pra perder gente que você tá convivendo no dia-a-dia".

Quando você perde uma pessoa que você está acostumada no dia-a-dia, a única coisa que resta é confiar e entregar tudo nas mãos de Deus. Você tem que ser forte", apontou. 

Para superar a perda dos amigos, o atacante relata que passou a fazer uma promessa para as vítimas: dedicar seus gols aos amigos que partiram. "A partir dali, eu prometi que todos os gols que eu fizesse seriam para eles… Isso me dá forças para jogar".

Antes da final da Copa do Mundo sub-17, Lázaro revelou a Galvão Bueno que a lembrança de um de seus amigos veio à sua cabeça. "Antes da final, no aquecimento, do nada, veio o Rykelmo na minha cabeça, e eu já me senti mais forte ainda. Então, eu garanto que esse gol também teve um empurrão dele". 

A tragédia

Segundo a documentação do próprio Flamengo, o local onde ficava o alojamento do Centro de Treinamento seria transformado em um estacionamento. O clube alegou, à época, que todas as equipes da categoria de base ocupariam um moderno módulo profissional que seria utilizado uma semana após o episódio — mas como alguns atletas voltaram antes das férias, foram abrigados naquele espaço. 

Ninho do Urubu pós-incêndio/ Crédito:Reprodução/Video/TV Globo

De acordo com o El País, o rubro-negro não possuía alvará para que os quartos funcionassem naquele local. Além do mais, o portal de notícias UOL publicou uma matéria alegando que o Flamengo sabia dos riscos no centro de treinamento, devido às precaridades das instalações elétricas, pelo menos, nove meses antes da tragédia. 

Desta forma, o Ministério Público acabou indiciando oito pessoas pelo incêndio, entre elas, o então presidente do clube, Eduardo Bandeira de Mello, que passou a responder por "incêndio culposo". Até hoje, porém, nenhuma pessoa foi punida criminalmente

Acordo judicial

Entre as famílias das vítimas, nove das dez delas entraram em acordo judicial com o clube. A única disputa, neste quesito, segue entre o Flamengo e a família do goleiro Christian Esmério, que tinha 15 anos. 

O clube considera os valores pedidos de indenização como "exorbitantes", conforme relatou matéria do Jornal O Globo publicada na última quarta-feira, 7. Segundo revelado pelo veículo, a família de Esmério cobra um valor de 9,3 milhões de reais à vista

A quantia seria referente a R$ 5,4 milhões por danos morais e R$ 3,9 pelo pagamento de pensão. A justificativa para o valor seria que Christian conseguiria ajudá-los com, pelo menos, 10 mil reais mensais por um período de 30 anos. 

Homenagem feito às vítimas/ Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil

Por outro lado, o Flamengo acredita que o valor ideal para a indenização deva variar entre 150 mil reais e 500 salários-mínimos, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O valor seria referente considerando o salário-mínimo da época, ou seja, o pagamento por danos morais não ultrapassaria os 499 mil reais (fora os juros). 

O clube sugere também que pode pagar cinco salários-mínimos mensais (R$ 7 mil atualmente) até a data em que Christian faria 65 anos, valor que já vem pagando de forma voluntária aos familiares de todas as vítimas", aponta a defesa do clube.

Por fim, a defesa do rubro-negro alega que não era possível prever o Incêndio no Ninho do Urubu, portanto, o clube não teria cometido "qualquer ato ilícito que pudesse atrair para si a responsabilidade civil pelos danos sofridos". O caso ainda corre na 33ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.