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Matérias / Copa do Mundo

Irã x EUA: Jogo da Copa expõe rivalidade que ultrapassa as quatro linhas

Seleções se enfrentam hoje, 29, às 16 horas (horário de Brasília) por uma vaga nas oitavas-de-final. Clima de tensão, porém, vai além da esfera do futebol

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 29/11/2022, às 12h00

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Conflito entre Estados Unidos e Irã - Creative Commons
Conflito entre Estados Unidos e Irã - Creative Commons

A partir das 16 horas desta terça-feira, 29, Irã e Estados Unidos se enfrentam pela última rodada do Grupo B da Copa do Mundo FIFA Qatar 2022. O confronto direto vale uma vaga nas oitavas-de-final do torneio. 

Após serem goleados pela Inglaterra por 6x2, os iranianos venceram o País de Gales na segunda rodada, 2x0, o que os colocaram na segunda colocação do grupo. Já os norte-americanos ainda não perderam, mas também não venceram, foram dois empates seguidos: 1x1 contra Gales e 0x0 diante dos ingleses. 

Alireza Jahanbakhsh, atacante do Irã/ Crédito: Getty Images

Desta forma, o jogo de logo mais garantirá o vencedor do duelo na próxima fase da Copa do Mundo. Em caso de empate, a seleção do Oriente Médio tem vantagem por ter um ponto a mais. Entretanto, a partida vai muito além das quatro linhas, marcando um conflito entre as nações que já dura mais de quatro décadas. 

O contexto histórico

No auge da Guerra Fria, os Estados Unidos fizeram de tudo para impedir o avanço soviético no mundo. Qualquer país que parecesse querer se alinhar com a União Soviética era peitado logo de cara pelo Tio Sam. 

Assim foi com o Irã. Conforme recorda matéria do O Globo, em 1953, norte-americanos e britânicos arquitetaram a derrocada do primeiro-ministro iraniano Mohammed Mossadegh. Com isso, o xá Reza Pahlavi assumiu o poder. 

Casa vez mais alinhado com os Estados Unidos, Pahlavi passou a receber financiamento do país. Com isso, investiu em uma polícia secreta, usada para prender e torturar dissidentes e opositores. Começava ali um governo autoritário e submisso ao Ocidente. 

Em 1979, porém, o cenário mudou. Uma Revolução derrubou o xá e uma teocracia foi instalada no Irã através de um líder muçulmano xiita: o aiatolá Ali Khomeini, propagador de uma ideologia anti-americana. 

A situação se tornou ainda pior quando os Estados Unidos se recusaram a extraditar o xá Reza Pahlavi, o que resultou na invasão da embaixada norte-americana em Teerã, capital do Irã, no dia 4 de novembro de 1979. 

Na ocasião, 52 diplomatas ficaram detidos como reféns por 14 meses, libertos em 20 de janeiro de 1981. Após o episódio, os Estados Unidos aplicaram um embargo econômico no país do Oriente Médio. 

Como se não bastasse, os norte-americanos ainda passaram a financiar o Iraque de Saddam Hussein. Iraque e Irã iniciaram uma guerra que durou oito anos, entre 1980 e 1988, e seu fim não mudou em praticamente nada a relação dos países. 

Saddam Hussein em 2006 / Crédito: Getty Image

Jogo da Paz? 

O conflito Irã x Estados Unidos em Copas do Mundo, embora raro, não é inédito. As duas seleções já se enfrentaram em 1998, quando o torneio foi realizado na França, no estádio Gerland, em Lyon. O duelo aconteceu também pela fase de grupos.

Como recorda o Estadão, na entrada em campo, os iranianos ofereceram flores aos adversários e as duas equipes até posaram juntas para uma foto oficial. O clima parecia de total confraternização. Parecia…  

Apesar da foto, a FIFA usou todos os artifícios para que o duelo não ultrapassasse a barreira desportiva. Mas os iranianos chegaram a quebrar o protocolo ao se recusarem sair de seu campo para cumprimentar os norte-americanos antes do apito inicial. A foto, inclusive, só foi tirada a pedido da equipe de arbitragem .

Já nos bastidores, descobriu-se que, durante a preleção, a equipe técnica iraniana usou o contexto da guerra no Iraque como motivação para os jogadores. A estratégia parece ter dado certo, visto que o Irã venceu o jogo por 2x1.

Irã x EUA na Copa do Mundo de 1998/ Crédito: Getty Images

“Aquela foi a primeira vitória de uma seleção iraniana em uma Copa do Mundo”, relembrou, à Reuters, Mehdi Mahdavikia, autor de um dos gols no confronto. 

Pelo impacto que teve em nosso país, foi o gol mais importante da minha carreira”, completou. 

De volta à realidade

Durante os últimos anos, a relação entre Irã e Estados Unidos foi como uma montanha-russa. Nos anos 2000, por exemplo, as seleções voltaram a se enfrentar em um amistoso em Los Angeles. No ano seguinte, o aiatolá até mesmo chegou a oferecer uma oração em memória das vítimas do 11 de setembro.

O momento dos ataques em 11 de setembro/ Crédito: Getty Images

Em 2002, porém, o avanço foi por água abaixo depois que o presidente George W. Bush considerou os iranianos como parte do ‘eixo do mal’, recorda o Globo. Obama até tentou uma reaproximação em 2015, mas Donald Trump veio logo em seguida. 

Em janeiro de 2020, um ataque dos Estados Unidos culminou com a morte do líder da Guarda Revolucionária Iraniana, Qasem Soleimani. Durante algumas semanas, o mundo temia que aquilo poderia se tornar o estopim para uma Terceira Guerra. 

A Copa de 2022

O duelo de logo mais, ao que tudo indica, parece que terá fatores extra-campo muito maiores que o jogo na Copa de 1998. Primeiro por tudo o que vive o país do Oriente Médio. Afinal, em setembro, antes do início do torneio, a nação vive uma onda de protestos após a morte da jovem curda Mahsa Amiri

Morta por não usar um véu, ela se tornou um mártir da luta pelos direitos das mulheres no país. Desde então, manifestações ocorrem no Irã, o que causou a morte de cerca de 500 pessoas e a prisão de mais de 15 mil. 

A jovem curda Mahsa Amiri/ Crédito: Reprodução/Vídeo

No Qatar, um país muito perto do Irã, os jogadores da seleção iraniana, em protesto, se recusaram a cantar o hino nacional na partida de estreia. Já nas arquibancadas, mulheres iranianas usavam camisas pedindo por liberdade. No jogo seguinte, aponta o Estadão, o governo do país enviou agentes disfarçados de torcedores para ameaçar os manifestantes. 

Os Estados Unidos também colocou mais lenha na fogueira ao publicar, nas redes sociais, uma foto de divulgação para a partida. Porém, a bandeira do Irã não tinha seu símbolo central, que representa a religião. Em seu lugar, foi colocada uma versão anterior, usada antes da Revolução. 

Por conta disso, a Federação Iraniana de Futebol alegou à FIFA que o episódio violava as normas da entidade e pediu a exclusão dos rivais desta edição da Copa do Mundo. 

“Espero que esses eventos que cercam esta Copa do Mundo sejam uma lição para todos nós no futuro, temos que aprender que nossa missão é criar entretenimento e, por 90 minutos, fazer as pessoas felizes”, minimizou o técnico português Carlos Queiroz, que dirige a seleção do Irã. 

Acima de tudo, estamos aqui no Qatar para jogar futebol”, encerrou.