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Matérias / Curiosidades

O que acontece se um astronauta cometer canibalismo no espaço?

Uma aventura espacial pode proporcionar experiências únicas, incluindo as mais desafiantes adversidades

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 12/11/2023, às 10h00

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Astronautas soviéticos e americanos durante jantar em treinamento, em 1975 - Domínio Público via Wikimedia Commons
Astronautas soviéticos e americanos durante jantar em treinamento, em 1975 - Domínio Público via Wikimedia Commons

Ao longo da História, sempre foi possível observar as pessoas se aventurando em explorações cada vez mais complicadas e que, por sua vez, poderiam levar a regiões bastante inóspitas. O maior desafio seria até mesmo a luta pela sobrevivência. Um exemplo disso são as grandes explorações marítimas de séculos atrás, nas quais os navegadores ficavam, por vezes, a esmo em alto-mar.

No entanto, esse não é o único tipo de exploração complicada na qual pessoas se submeteram ao longo da história. Além disso, também já houve incursões para subir até o topo do Monte Everest, a montanha mais alta do mundo — e que já foi palco para a morte de pelo menos 300 pessoas que tentaram tal façanha —, ou regiões bastante frias do globo.

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O tipo de exploração que, hoje em dia, é o que mais chama atenção e possui bastante relevância é a espacial. Da mesma maneira como as navegações eram um grande risco em seu tempo, a exploração espacial é, provavelmente, o tipo mais complicado da atualidade.

Em 2015, o filme 'Perdido em Marte' foi um dos destaques do ano, de Ridley Scott. Com Matt Damon e Jessica Chastain, o longa acompanha o astronauta Mark Watney que, durante uma missão, foi dado como morto pelo restante da tripulação e abandonado no planeta vermelho.

"O astronauta Mark Watney (Matt Damon) é enviado a uma missão para Marte, mas após uma severa tempestade, ele é dado como morto, abandonado pelos colegas e acorda sozinho no planeta inóspito com escassos suprimentos e sem saber como reencontrar os companheiros ou retornar à Terra. Ele inicia então uma dura luta pela própria sobrevivência, utilizando de todo o seu conhecimento científico para fazer contato e retornar para casa", narra a sinopse.

No longa, o personagem de Matt Damon é um biólogo e consegue dar um jeito de, mesmo sozinho, sobreviver por algum tempo em Marte. Porém, a trama ainda é uma ficção científica de aventura, então o roteiro explora a liberdade criativa — na vida real, um acontecimento do tipo poderia ser ainda mais desastroso.

Morte no espaço

Até hoje, nunca foi registrado um caso de morte única no espaço, em um ambiente tranquilo. Isso porque, geralmente, as mortes ocorrem em tragédias espaciais, geralmente bastante rápidas, consumindo tripulações inteiras em acidentes ou falhas técnicas

Logo, não existe uma resposta exata para o que se fazer com o corpo de um tripulante que morreu no espaço. Porém, existe a ideia de que, caso o cadáver seja expulso da câmara de descompressão, ele passaria a ser registrado como um satélite. Mas isso realmente seria a decisão mais esperta, em qualquer situação?

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Homicídio de sobrevivência

O casal Kelly e Zach Weinersmith — ela, membro do corpo docente do departamento de Biociências da Rice University, nos Estados Unidos; ele, um cartunista e escritor americano —, autores de 'A City on Mars: Can we settle space, should we settle space, and have we really thought this through?' ('Uma cidade em Marte: Podemos resolver o espaço, devemos resolver o espaço, e será que realmente pensamos nisso?', em português), refletem em artigo na Live Science o que aconteceria em caso de, em extrema necessidade, um astronauta precisar se alimentar da "refeição espacial proibida": outro humano.

Para tanto, mencionam um artigo publicado em 1978 pelo engenheiro e nanotecnólogo americano Robert A. Freitas, 'Survival Homicide in Space' ('Homicídio de Sobrevivência no Espaço'). No texto, o autor reflete sobre possíveis situações em que, para sobreviver, um membro ou um grupo precisam, necessariamente, matar alguém.

Um exemplo mencionado pelo autor, primeiro, é a chamada 'Lei do Mar'. Ela pontua que, em caso de uma tripulação de um navio se encontrar desesperada, faminta e sem nenhuma possibilidade, seus membros tirariam um entre um conjunto de palitos, e aquele que retirasse o menor seria sacrificado e servido como alimento aos demais — basicamente, um jogo de sorte.

Porém, no caso espacial, o autor menciona outro tipo de cenário: imagine que três astronautas estejam presos em uma cápsula com oxigênio suficiente apenas para a sobrevivência de dois, até que o resgate chegasse. Assim, alguém necessariamente teria que morrer. 

Claro que o exemplo trata do oxigênio, outro recurso extremamente valioso e escaço no espaço, mas também pode ser perfeitamente plausível imaginar uma situação semelhante envolvendo alimentos. Afinal, o que aconteceria com um astronauta caso ele precisasse cometer canibalismo para sobreviver?

Canibalismo espacial

O autor menciona que, de certa forma, existe uma resposta para essa questão, mesmo que relativamente vaga. Isso porque, segundo o artigo VIII do Tratado do Espaço Sideral — o primeiro e mais fundamental instrumento jurídico da legislação espacial —, caberia ao Estado de registro do indivíduo avaliar o caso e, se necessário, julgar. Ou seja, a possível punição dependeria exclusivamente da nação do astronauta.

No entanto, o que Freitas não pôde prever, em meados da década de 1970, era o surgimento de uma base espacial que mudaria tudo: a Estação Espacial Internacional (ISS), que uniu diversos territórios soberanos no que se refere à exploração espacial.

Estação Espacial Internacional (ISS)
Estação Espacial Internacional (ISS) / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Kelly e Zach Weinersmith pontuam em artigo na Live Science que, em caso de extrema necessidade, a melhor decisão seria se alimentar de um compatriota. Afinal, não bastasse o canibalismo espacial, seria terrível que isso provocasse um incidente internacional. Porém, o ideal seria não fazer nada.

Sacrifício no espaço?

Outro autor que já abordou a necessidade de alguém morrer em prol do grupo no espaço foi Erik Seedhouse, que escreveu 'Survival and Sacrifice in Mars Exploration' ('Sobrevivência e sacrifício na exploração de Marte', em português), em 2015. 

Imagine que você está preso no Planeta Vermelho com três tripulantes. Você tem muitos consumíveis de suporte à vida, mas apenas comida suficiente para uma pessoa até a chegada da equipe de resgate. O que você faz?", questiona Seedhouse no livro.

No caso, o autor argumenta que, uma vez que a morte de alguém fosse inevitável, o ideal seria que as pessoas maiores se sacrificassem em prol do restante, visto que além de possuírem mais carne, também seriam os que mais consumiriam recursos. De qualquer forma, alguém ficaria descontente com o desfecho.

No fim, a questão sobre o sacrifício e canibalismo espacial ainda é bastante complicada e até mesmo filosófica. Porém, definitivamente, pode ser mais interessante não precisar pensar sobre, e torcer para que ninguém precise tomar uma decisão do tipo.