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Matérias / 'O Exorcista'

Pressão, ameaças e rótulos: Como ‘O Exorcista’ afetou a carreira de Linda Blair?

Atriz da menina possuída em 'O Exorcista', Linda Blair ficaria eternamente lembrada por papel em clássico do terror

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 17/09/2023, às 17h00 - Atualizado em 14/12/2023, às 15h28

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Cena de 'O Exorcista' (1973), com a personagem Regan MacNeil, interpretada por Linda Blair - Reprodução/Warner Bros. Pictures/HBO Max
Cena de 'O Exorcista' (1973), com a personagem Regan MacNeil, interpretada por Linda Blair - Reprodução/Warner Bros. Pictures/HBO Max

'O Exorcista' (1973) definitivamente é um filme que deixa fortes impressões, especialmente naqueles que o assistem pela primeira vez. Para alguns, o filme é lembrado pela sua qualidade narrativa, compreendendo um marco na história do cinema. Outros, porém, recordam-se principalmente da traumatizante Regan MacNeil possuída e virando a cabeça.

Com o estrondoso impacto na indústria do terror que o longa de William Friedkin exerceu, altas expectativas giram em torno de 'O Exorcista - O Devoto', que chega aos cinemas no próximo dia 6 de outubro. Dirigido por David Gordon Green, a produção se passa no mesmo universo do filme clássico, em uma nova história, mas com a presença de figuras importantes do longa de 1973.

Grande parte da expectativa nutrida nos fãs do filme clássico se deve à notória atuação de Linda Blair, que ficou eternizada na cultura pop como a personagem Regan MacNeil, a menina possuída de 'O Exorcista'. O que ela provavelmente não esperava na época das gravações, entretanto, seria o impacto que o papel teria no restante de sua carreira. 

O começo

Nascida em 22 de janeiro de 1959, no estado norte-americano do Missouri, Linda Blair começou a trabalhar ainda jovem. Ela fez participações em anúncios impressos e de televisão logo em seus primeiros anos de vida. Com cinco anos, já havia estrelado comerciais de empresas notáveis da época.

Entretanto, com o passar dos anos, Blair começou a se sentir desiludida com a carreira de atriz, afinal, não conseguia destaque. Além disso, também nutriu uma paixão cada vez mais forte por animais, ao ponto que chegou perto de desistir da carreira para cavalgar. Tudo mudou com a adaptação cinematográfica do livro 'O Exorcista' (1971), de William Peter Blatty.

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As buscas pela atriz ideal para dar vida a Regan foram longas, ao ponto de que William Friedkin quase desistiu; no entanto, quando Linda Blair surgiu, ele foi convencido de que seria a escolha perfeita para o papel — o que hoje sabemos ter sido um grande acerto. Com somente 14 anos, foi nesse momento que a atriz passaria a marcar, para sempre, a indústria do terror.

Emblemática cena de 'O Exorcista' (1973), onde Regan MacNeil vira a cabeça a 180º
Emblemática cena de 'O Exorcista' (1973), onde Regan MacNeil vira a cabeça a 180º / Crédito: Reprodução/Warner Bros. Pictures/HBO Max

Trabalho duro

Embora tenha sido o primeiro trabalho como atriz de cinema de Linda Blair, Friedkin a submeteu a um intenso ritmo de trabalho. Isso, por sua vez, exigiu muito da jovem atriz, que se deparava com situações de grande exigência física, desconfortáveis e até mesmo perigosas.

Durante as clássicas cenas de exorcismo, por exemplo, Regan fica presa na cama e usando apenas uma camisola. No entanto, uma característica desses trechos do filme é que, na trama, o quarto da jovem fica extremamente frio; e para dar uma maior imersão, o set de filmagens tinha a temperatura baixa.

Enquanto outros membros da equipe de produção e até os outros atores que contracenavam com ela nas cenas — Jason Miller e Max von Sydow, intérpretes dos padres Damien e Merrin — contavam com equipamentos que o adequavam ao frio, a jovem Blair lidava com as baixas temperaturas, repercutiu o El País.

O padre Merrin com Damien ao fundo, no começo da cena de exorcismo em 'O Exorcista' (1973), onde é possível observar vapor da respiração pelo extremo frio no set
O padre Merrin com Damien ao fundo, no começo da cena de exorcismo em 'O Exorcista' (1973), onde é possível observar vapor da respiração pelo extremo frio no set / Crédito: Reprodução/Warner Bros. Pictures/HBO Max

Além do mais, outra reclamação recorrente em vários filmes é o tempo levado somente para a preparação de algumas maquiagens — o que, para a jovem de 14 anos, era bastante desgastante. Segundo o site de entretenimento Looper, Blair passava entre duas e cinco horas na cadeira de maquiagem todos os dias, e certa vez a cola usada para fixar próteses chegou inclusive a queimar seu rosto.

Pressão

Um detalhe curioso (e macabro) sobre 'O Exorcista' é que a produção realmente pareceu, na época, assombrada: nos bastidores, uma série de acontecimentos estranhos foram relatados, e ao todo nove pessoas relacionadas a ele teriam morrido durante sua realização. Assim, depois que o filme foi lançado, esses fatos ajudaram a espalhar seu nome e Linda Blair ficou amplamente conhecida.

No entanto, como ainda era muito nova, ela não entendia o impacto que o filme exerceu naqueles que o assistiram. Isso, associado ao fato de que inúmeros jornalistas e repórteres a abordavam constantemente para perguntar sobre o que ela pensava dos conceitos apresentados no filme, fez com que se sentisse muito pressionada.

A quantidade de pressão que caiu sobre mim não era algo para o qual eu estava preparada. Especialmente toda a pressão que a imprensa exerceu sobre mim. Eles pensaram que eu tinha todas as respostas sobre fé e catolicismo... Foi provavelmente a coisa mais terrível que você poderia imaginar", relatou em entrevista ao Dread Central.
Regan MacNeil, a menina possuída interpretada por Linda Blair em 'O Exorcista' (1973), de William Friedkin
Regan MacNeil, a menina possuída interpretada por Linda Blair em 'O Exorcista' (1973), de William Friedkin / Crédito: Reprodução/Warner Bros. Pictures/HBO Max

Ameaças

Um detalhe que nem todos pensam, ainda mais em uma época onde "possessão demoníaca" é praticamente um subgênero de terror, é que 'O Exorcista' foi pioneiro nesse tipo de produção. Logo, não é de se surpreender que esse fator também seria razão para polêmica, na época de seu lançamento.

Após a popularização do filme, uma crítica bastante comum feita era de que poderia despertar na população uma forte crença em temas paranormais, como exorcismos. Mas especialmente para Linda Blair, o problema foi que alguns grupos de religiosos acusaram-na de glorificar Satanás, em delírios coletivos, e inclusive a ameaçaram de morte.

"Muitas pessoas se aproximaram de mim, o que gerou medo em todos ao meu redor. Eu estava muito bem protegida. A polícia foi contratada para morar na minha casa", relatou Blair em entrevista ao Studio 10, em 2018.

Sempre uma vítima

Apesar de todos esses problemas derradeiros de seu trabalho em 'O Exorcista', é impossível negar que o filme tenha sido um sucesso, e por isso Linda Blair seguiu participando de mais algumas produções. Entre elas, um que vale destaque é 'O Exorcista II - O Herege' (1977), dessa vez dirigido por John Boorman, onde ela reprisa a personagem Regan MacNeil anos depois — no entanto, o longa recebeu uma enxurrada de críticas negativas, e muitos sequer o consideram uma continuação legítima.

Linda Blair em 'O Exorcista II - O Herege' (1977)
Linda Blair em 'O Exorcista II - O Herege' (1977) / Crédito: Reprodução/Warner Bros.

Antes disso, porém, Blair havia conseguido outros papéis. Em 1974, interpretou Chris Parker em 'Born Innocent', uma jovem que foge de sua família abusiva e passa a viver em um centro de detenção juvenil para meninas, onde é abusada por outras meninas; um ano depois, ela deu vida a Sarah T. em 'A Garota Viciada', uma jovem que cai ao alcoolismo enquanto lida com o divórcio dos pais — ou seja, ela sofria com uma recorrência de papéis de vítimas.

Linda Blair em 'A Garota Viciada' (1975)
Linda Blair em 'A Garota Viciada' (1975) / Crédito: Reprodução/Universal Television

Incapaz de se desvincular da recorrente fama de vítima, Blair decidiu que revitalizaria sua imagem, querendo mostrar-se como uma mulher adulta, capaz de interpretar personagens maduros. Para isso, ela tentou chocar as pessoas ao participar de uma sessão de fotos nuas em 1982, aos 23 anos, no entanto, ela sofreu com um efeito indesejado: em vez de mudar para melhor o rumo de sua carreira, a decisão fez com que ela fosse escalada somente a filmes de menos destaque, fora de Hollywood.

Ativismo

Por mais que Linda Blair ainda tenha conseguido alguns trabalhos ao longo de sua vida (não muitos, e nenhum de muito destaque), sua verdadeira paixão se revelou com o tempo: ativismo animal. Em 2004, ela fundou a Linda Blair Worldheart Foundation, uma organização sem fins lucrativos que resgata e reabilita animais maltratados e negligenciados.

Embora o filme já tenha 50 anos, é o papel em 'O Exorcista' que faz de Linda Blair uma figura inesquecível até hoje. Isso é, inclusive, uma razão de descontentamento a ela, que hoje tem 64 anos: "O que às vezes é muito desanimador é a incapacidade [da mídia] de ver o que estou tentando fazer. No Morning Show, eles não me fizeram nenhuma pergunta de interesse. Eu estou triste, mas não estou brava com eles", desabafou em 2013, ao The Sydney Morning Herald.

Hoje, Linda Blair segue em seus trabalhos relacionados ao ativismo animal, sendo esta a verdadeira vocação de sua vida. Porém, por mais nobre que seja sua vida, ela nunca será esquecida como a razão para os pesadelos de gerações de pessoas, sendo uma das maiores joias de um dos mais clássicos filmes de terror da história.

Linda Blair em 2015
Linda Blair em 2015 / Crédito: Getty Images