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Matérias / Beethoven

Qual a causa da surdez de Beethoven?

Vítima de uma surdez progressiva que se manifestou no auge da fama, o mestre romântico refletiu em sua música uma era tempestuosa

Luiz Pereira Publicado em 26/03/2023, às 14h00

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Beethoven - Getty Images
Beethoven - Getty Images

Desde a infância, Ludwig van Beethoven recorda-se de ter uma saúde frágil. Vômitos e diarreia eram uma reclamação frequente. Na maturidade, seu rosto exibia o que pareciam ser marcas de varíola, embora não existam registros de que ele tenha tido essa doença. 

Não se sabe o quanto dessas reclamações se devem também ao temperamento paranoico e provavelmente hipocondríaco do compositor alemão. Sabe-se, porém, que o grande drama e a maior tragédia de sua vida foi a perda progressiva da audição.

Ela se manifestou pela primeira vez em 1797, logo após um dos ataques de fúria com os quais os amigos e parceiros de Beethoven já estavam acostumados. Um tenor o teria interrompido enquanto ele estava compondo. Irado, Beethoven pulou de sua mesa e caiu no chão. Quando levantou, percebeu que estava surdo. A audição voltou, mas não inteiramente

A partir de então, o que ele ouvia era acompanhado de um zumbido enlouquecedor que o acompanhava dia e noite. Ele tinha 27 anos, começava a ter seu nome reconhecido como à altura do de grandes mestres. É possível imaginar seu desespero em busca de uma cura. 

No começo, ele tentou esconder a condição. Quando as pessoas se dirigiam a ele sem obter resposta, pensavam que ele devia estar em um de seus surtos criativos, períodos de monomania nos quais ele escreveu a maioria de suas principais obras. 

Porém, a surdez foi se intensificando gradualmente — e de forma misteriosa. Diante desta dúvida, importante considerar a precariedade dos cuidados médicos na época, caracterizados por crendices, charlatanismo e experiências honestas, mas equivocadas. 

Uma possibilidade da causa é que ele tenha ingerido grandes quantidades de chumbo proveniente de utensílios de cozinha, vinho adulterado (comum então) ou águas termais dos diferentes spas aos quais o músico se dirigia buscando tratamento para suas frequentes dores. 

A substância pode ter se acumulado nos ossos e vazado para o sistema digestivo, arruinando-o. No entanto, não há comprovação sobre efeitos deletérios do chumbo à audição.

Existência silenciosa

“Ah! Como confessar a debilidade de um sentido que em mim deveria existir num estado de perfeição maior, num nível de perfeição tal qual muitos poucos músicos conheceram”, escreveu Beethoven, sobre o problema de surdez que enfrentava, aos 32 anos, a seus irmãos. Desde então, sua audição só piorou.

Em seus últimos anos, ele contornava a deficiência por meio de diversos expedientes. Conversava com amigos e empregados usando cadernos — embora a leitura desses documentos tragam apenas um lado do diálogo, pode-se especular o que o músico dizia. 

Segundo Jan Swafford em 'Beethoven, Angústia e Triunfo' (cuja versão brasileira foi editada pelo autor deste texto), os trechos em que há páginas arrancadas sugerem assuntos picantes ou maledicentes.

Nas apresentações ao piano, o vigor com que executava suas criações complexas e diferentes de tudo o que havia sido feito até então mascarava uma eventual desafinação ou um desencontro com os demais instrumentistas. Mas os recitais foram se tornando cada vez mais caóticos, motivo de troça na imprensa musical, e ele deixou de se apresentar publicamente. 

Ao reger, em geral, acompanhado de um outro maestro (que, em segredo, orientava a orquestra a prestar atenção nele, e não em Beethoven), o compositor observava atentamente o modo como os instrumentos eram manuseados, o tempo e a intensidade dos gestos dos músicos, percebendo quando algo não saía a contento.

Reza a lenda que, ao fim de uma das primeiras apresentações da Nona Sinfonia, em 1824, Beethoven ainda estava postado em pé diante da orquestra, contando o tempo, perdido na música que ouvia em sua própria mente, quando uma solista gentilmente puxou sua manga para virá-lo para a plateia, de modo que pudesse receber a ovação.

Beethoven ainda tinha planos para compor uma décima sinfonia, mas faleceu em março de 1827, aos 56 anos de idade, após uma longa agonia causada por hepatite crônica e cirrose hepática. Seu funeral foi um dos maiores já realizados em Viena.