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Matérias / Mundo

O tiroteio escolar da Grã-Bretanha que levou à proibição das armas

Em 1996, um massacre em uma escola primária mobilizou o território na direção da mudança de leis

Ingredi Brunato, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 02/07/2022, às 08h00

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Fotografia da sala de alunos a ter sido atacada - Domínio Público
Fotografia da sala de alunos a ter sido atacada - Domínio Público

Em uma manhã de março de 1996, uma escola primária na cidade escocesa de Dunblane foi invadida por um homem de 43 anos armado com quatro revólveres e 743 cartuchos de munição. 

Aquele que se tornaria o responsável por um dos crimes mais chocantes da Escócia andou em direção à quadra esportiva, onde uma turma de alunos de 5 e 6 anos de idade praticavam Educação Física.

Em questão de minutos, ele assassinou 16 crianças e um professor, além de ferir outras 15. Depois, apontou uma arma para si mesmo e encerrou o episódio de violência armada em um suicídio. 

Ponto de virada

Antes do massacre, Thomas Hamilton, que era um colecionador de armas aficionado, havia sido um líder de escoteiros e outros clubes para meninos, como ginástica e tiro ao alvo, segundo registrado pelo site Britannica. 

O homem acabou sendo afastado da primeira organização devido ao comportamento suspeito em relação aos alunos. Os outros que tentou ministrar, embora populares a princípio, também acabaram sendo fechados eventualmente devido aos rumores de que Hamilton era um pedófilo. As motivações exatas por trás de seu tiroteio escolar, todavia, nunca foram determinadas. 

A tragédia chocou a Grã-Bretanha, e acabou se tornando um ponto de virada em sua legislação. Na época, o território, que inclui a Inglaterra, a Escócia e o País de Gales, já possuía medidas restritivas em relação à posse de armas por civis. 

O massacre de 16 crianças pequenas, todavia, causou uma comoção geral que levaria à proibição completa do armamento da população, a fim de que desastres desse tipo não mais se repetissem. 

Fotografia de memorial às vítimas de Dunblane em 2021, no aniversário de 25 anos do massacre / Crédito: Getty Images 

Mais de duas décadas mais tarde, a epidemia de violência armada enfrentada pelos Estados Unidos volta a tornar o episódio histórico particularmente relevante. 

Prevenção a massacres

Logo após o massacre, o parlamento britânico organizou um inquérito público a respeito do crime cometido por Thomas Hamilton. A iniciativa foi liderada pelo juiz escocês Lord W. Douglas Cullen, e buscava encontrar respostas para duas perguntas, conforme relembrado por uma matéria recente do portal Quartz: 

"Quais foram as circunstâncias que cercaram os tiroteios na Dunblane Primary School em 13 de março de 1996?", e "O que devo recomendar para proteger o público contra o uso indevido de armas de fogo e outros perigos que a investigação trouxe à luz?". 

A conclusão do inquérito foi que a simples restrição do acesso a armas de fogo não era o suficiente para impedir cidadãos perigosos, como Hamilton, de adquirirem uma, de forma que era necessária a proibição total do porte desses objetos pela população. 

Apesar de haver espaço para melhorias no sistema de certificação, concluo que existem limitações significativas no que pode ser feito para excluir aqueles que são inadequados para ter armas de fogo e munições", escreveu Cullen no relatório. 

"Não há meio certo de excluir o aparecimento de uma doença mental do tipo que dá origem ao perigo; ou de identificar aqueles cujas personalidades abrigam propensões perigosas. Com base apenas nisso, é proteção insuficiente para o público apenas atacar o indivíduo em vez da arma", concluiu ele. 

Vale mencionar que o desdobramento não agradou a todos, enfrentando fortes críticas dos grupos de defesa de armas e sendo reprovado até mesmo pelo próprio príncipe Philip, marido da rainha da Inglaterra, em uma entrevista à rádio BBC. 

Se um jogador de críquete, por exemplo, de repente decidiu entrar em uma escola e bater em muitas pessoas até a morte com um taco de críquete, o que ele poderia fazer com muita facilidade, quero dizer, você vai banir os tacos de críquete?”, argumentou na ocasião, ignorando a grande diferença da eficiência com o qual um taco e um revólver podem matar alguém. 

Posteriormente, o membro da realeza acabou se desculpando pelo comentário, que foi rechaçado pelos parentes das vítimas, responsáveis por organizarem um abaixo-assinado de grandes proporções apoiando a proibição. Durante os poucos minutos pelos quais durou o massacre de 1996, cerca de 105 balas teriam sido disparadas, ainda de acordo com as informações do Quartz. 

A mudança na legislação da Grã-Bretanha demorou 18 meses de constante disputa dentro do parlamento britânico e diversas manifestações por parte do público para alcançar um banimento dos objetos.

Em 1997, cerca de 16,2 mil rifles precisaram ser entregues para as autoridades por seus antigos proprietários. Ainda assim, vale dizer, na Inglaterra é possível obter uma licença para o porte de uma espingarda no contexto de uso esportivo para tiro ao alvo ou caça. 

O tiroteio de Dunblane também inspirou um documentário da Netflix em 2018, confira o trailer abaixo: 

Atualidade do debate

No massacre recente do estado norte-americano do Texas, o atirador, um jovem de 18 anos, carregava uma AR-15, um rifle semiautomático que faz uso de tecnologia militar para disparar mais vezes em menos tempo. O número elevado de crianças mortas por ele antes da chegada da polícia pode ser atribuído, entre outros fatores, à eficiência de sua arma. 

O episódio de violência armada que, embora particularmente sangrento, é apenas mais um entre as centenas que ocorrem anualmente nos Estados Unidos, provocou debates através do país a respeito da legislação que garante o porte de armas por civis.