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Matérias / Bizarro

Wolfpack Brothers: os seis irmãos que passaram 14 anos presos dentro de casa pelo pai

Os filmes eram a única janela para o mundo exterior dos meninos, que recriavam as cenas com uma precisão impressionante

Ingredi Brunato Publicado em 03/10/2020, às 09h00

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Fotografia dos seis irmãos juntos, com um dos visuais preferidos deles. - Divulgação
Fotografia dos seis irmãos juntos, com um dos visuais preferidos deles. - Divulgação

Crystal Moselle, de 30 anos, estava um dia caminhando pelas ruas de Nova York, nos Estados Unidos, quando se deparou com uma cena, no mínimo, incomum: seis irmãos andando juntos na calçada, com ternos, óculos escuros e cabelos até a cintura, como se tivessem saído diretamente de um filme policial. Mais especificamente, o visual lembrava - de forma proposital - os personagens do longa Reservoir Dogs (1992).

Curiosa, ela tentou puxar conversa com os meninos, que tinham entre 11 e 18 anos, ao que o grupo respondeu timidamente um “Não devemos falar com estranhos”. Contudo, no decorrer dos meses, a moça conseguiu se aproximar cada vez mais dos garotos, especialmente por ter percebido que compartilhava com eles a paixão por filmes, e foi lentamente descobrindo a surpreendente história dos irmãos. 

Crystal era também formada pela Escola de Artes Visuais de Nova York, e, vendo ali o potencial de narrar algo que o mundo gostaria de saber, produziu um documentário chamado “The Wolfpack” (Ou “A Alcateia”, em tradução livre), contando sobre a vida dos irmãos Angulo

The Wolfpack 

Os seis meninos, chamados Bhagavan, Narayana (que agora atende por Josef), GovindaMukunda, Krisna (que agora se chama Glenn), e Jagadesh (que trocou o nome para Eddie), tinham passado até 14 anos - alguns deles menos, apenas por serem mais novos - presos dentro de um pequeno apartamento com a irmã mais velha, Visnu, que tinha uma síndrome genética grave, e os pais. 

Eles foram educados pela mãe. O maior contato com o mundo exterior era a coleção de 5.000 DVDs do pai. Os jovens tinham permissão para sair apenas em raras ocasiões, sempre acompanhados dos pais e instruídos para não fazer contato visual nem conversar com outras pessoas. Às vezes, essas saídas podiam chegar a nove vezes por ano. Em alguns anos, eles passavam um ano inteiro sem deixar o pequeno apartamento. 

Wolfpack Brothers em entrevista. Crédito: Divulgação/ Youtube 

O motivo do isolamento era o pai dos garotos, um homem alcoólatra e extremamente superprotetor, chamado Oscar. Segundo contado pelo mesmo em uma das poucas cenas do documentário em que aparece, ele não queria que os filhos fossem “contaminados por drogas, religião ou filosofia, mas que aprendessem quem são”. 

Oscar também era ao dono da única chave da porta da frente do apartamento, e era quem saía para buscar suprimentos para a família. 

Escape da realidade 

Nesse contexto claustrofóbico, os irmãos Angulo se voltaram para o universo cinematográfico para sobreviver. Era a única janela para a maneira como o mundo fora de seu apartamento funcionava, como as pessoas se comportavam e qual aparência a vida tinha. 

Incrivelmente criativos, eles passaram a reencenar as histórias dos filmes que assistiam. Um deles transcrevia todas as falas do roteiro em folhas de papel, outro confeccionava as fantasias, máscaras e outros acessórios, e no fim todos recriavam as cenas de seus longas preferidos, repetindo fala por fala e movimento por movimento o que os personagens faziam.

No documentário “The Wolfpack”, um tour pelo antigo apartamento dos meninos mostrou uma roupa de Batman incrivelmente detalhada feita por eles com papelão, tapetes de ioga antigos e tinta. 

Imagem de Mukunda, um dos irmãos, vestindo fantasia do Batman. Crédito: Divulgação/Youtube 

Escape para a realidade 

Um dia, porém, apenas recriar filmes não foi o suficiente para os garotos. “Foi só quando chegamos à adolescência que começamos a perceber que vivíamos uma vida muito diferente da das outras pessoas”, contou Mukunda, o terceiro mais jovem e também considerado o “líder da alcateia”. 

Era o ano de 2010. Em uma manhã, Mukunda decidiu que sairia do apartamento enquanto o pai estava no supermercado, principalmente movido pela curiosidade. Ele usou uma máscara feita pelos irmãos, copiando a usada pelo vilão no filme de terror “Halloween”), para tentar não ser reconhecido pelo pai, caso eles se cruzassem na rua. 

O menino de então 15 anos se afastou do seu endereço por apenas alguns blocos, contudo, foi uma das experiências mais radicais de sua vida. Ele conta no documentário sobre como estava extasiado pelas descargas de adrenalina e sensação de liberdade em desbravar as ruas de Nova York sem a presença dos pais. 

Entretanto, Mukunda não tinha uma aparência muito comum, com sua assustadora máscara, e um comerciante local acabou chamando a polícia. Ainda seguindo a regra de não conversar com estranhos, como sempre repetido pelo pai, o jovem não respondeu as perguntas dos oficiais, e acabou sendo levado para o hospital porque eles pensaram que o garoto estava drogado. 

Ele acabou sendo enviado para casa. Mas a experiência tinha mudado o jovem. “'Eu disse ao papai que as coisas seriam diferentes. Ele estava com raiva, mas aceitou”, contou o garoto em The Wolfpack. 

Últimas atualizações 

A história, depois de vir a público, não trouxe nenhuma consequência aos pais: nos Estados Unidos, não é crime impedir os filhos de saírem de casa, desde que eles recebam educação e tratamentos médicos adequados.  

Hoje, apenas um dos irmãos continua vivendo com os pais, e dentre os que se mudaram, apenas o mais velho ainda mantém contato com Oscar, a figura paterna superprotetora. “Não o culpamos, mas definitivamente não é a maneira de criar filhos”, comentou Mukunda. Três deles trabalham na indústria cinematográfica, e os dois mais novos querem ser músicos de rock. 


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