Inspirada em esculturas de Michelangelo, a fonte foi inaugurada em São Paulo após um acordo com Gino Cassini, então prefeito de Milão
Giovanna Gomes Publicado em 12/12/2023, às 19h00
Um acordo firmado em março de 1962 estabeleceu um vínculo especial entre as cidades de Milão e São Paulo, tornando-as "cidades gêmeas". Naquele ano, o então prefeito de Milão, Gino Cassini, inaugurou o Largo Brasília na cidade italiana como parte das celebrações desse pacto.
Posteriormente, o político visitou o Brasil como parte das atividades amistosas acordadas, culminando na designação da Praça Cidade de Milão, localizada na Av. República do Líbano e em frente ao Viveiro Manequinho Lopes, no Parque Ibirapuera, em outubro de 1962.
Durante a cerimônia, Francisco Prestes Maia, então prefeito de São Paulo, anunciou a Cassini que seria instalada na Praça Cidade de Milão uma reprodução, com o dobro do tamanho, das esculturas de Michelangelo presentes no túmulo dos Medicis.
A execução das réplicas foi encomendada ao Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, que mantinha uma gipsoteca — uma coleção de reproduções em gesso de obras clássicas greco-romanas e renascentistas — desde os primeiros anos do século XX.
No entanto, conforme informações presentes no site da Prefeitura de São Paulo, a obra só seria instalada no espaço público anos mais tarde, em 1971, por razões não esclarecidas.
Inspirada nas fontes italianas geralmente situadas em paredes ou escadarias, a Fonte Milão é composta por cópias em argamassa armada de obras de Michelangelo Buonarroti (1475-1564), sendo que a estrutura inclui alegorias representando A Noite, O Dia, O Crepúsculo e A Aurora, distribuídas ao redor de um chafariz.
Na parede ao fundo, estão os brasões das cidades de Milão e São Paulo. O Dia e O Crepúsculo, representados por figuras masculinas, formam um par com os brasões no centro, enquanto em primeiro plano e em dimensões menores, encontram-se A Noite e A Aurora, duas figuras femininas.
Essa disposição, porém, difere da proposta original de Michelangelo para a Capela dos Medicis, onde O Dia e A Noite formam um casal sobre o túmulo de Giuliano de Medici, e O Crepúsculo e A Aurora sobre o túmulo de Lorenzo, representando os contrastes da passagem do tempo, da vida e da morte.
Vale destacar que, além de prestar homenagem a Milão a partir de uma obra proveniente de Florença e de apresentar uma composição que não replica integralmente a visão original do artista, São Paulo ainda demonstrou certo pudor provinciano ao ocultar as áreas íntimas das figuras masculinas por meio do uso de folhas de vinha.
A fonte passou por uma restauração completa em 1988, financiada por recursos da iniciativa privada, e recebeu intervenções adicionais em 2003, desta vez apoiadas financeiramente pela cidade de Milão.
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