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Brasil

Democracia brasileira atinge níveis nunca antes vistos de insatisfação popular

Segundo pesquisa da Universidade de Cambridge, os brasileiros demonstraram estar satisfeitos pela última vez entre 2003 e 2010, durante o governo Lula

Pamela Malva Publicado em 12/02/2020, às 16h00

Pessoas no mundo todo estão insatisfeitas com a democracia de seus países em níveis nunca vistos antes, ainda que em diferentes proporções. O Brasil, segundo o estudo, é um dos países em “crise genuína de legitimidade da democracia”.

Publicada pelo Centro para o Futuro das Democracias da Universidade de Cambridge, a pesquisa alerta que a taxa de insatisfação entre brasileiros é a pior desde os anos 1990. Atualmente, menos de 20% da população se encontra contente com a democracia do país.

O estudo separou os resultados de cada país em diferentes categorias, relacionadas aos níveis de satisfação das pessoas. A primeira diz respeito aos países com estabilidade democrática (como Suíça, Holanda e Dinamarca) — onde vivem apenas 2% da população governada por regimes democráticos.

O segundo grupo apresenta países que são casos de preocupação (como Alemanha, Canadá ou Austrália). Neles, menos da metade da população se diz insatisfeita com a democracia. Logo depois vêm os países em estado de mal-estar (como Estados Unidos, Japão, Espanha ou França).

Por fim, vem o grupo no qual o Brasil foi classificado, junto do México e da Ucrânia. Nele, as nações foram determinadas como locais onde a democracia vive uma crise. A partir disso, os estudiosos perceberam que muitas das democracias mais populosas do mundo, como a dos EUA, Brasil e México, lideram a tendência de queda na satisfação.

A insatisfação mundial, portanto, dobrou desde os anos 1990, aumentando em mais de dez pontos percentuais — de 47,9% para 57,5%. O número foi o maior nível de insatisfação global desde o início das pesquisas, em 1995.

A partir de 2005, segundo a análise, aconteceu a recessão democrática global. Naquele ano, apenas 38,7% das pessoas estavam insatisfeitas com seus regimes — coisa que mudou de forma radical, muito por causa da desigualdade social e da crise econômica de 2008.

A Democracia no Brasil

A pesquisa dos acadêmicos ainda apresentou uma detalhada análise sobre o desenvolvimento democrático no Brasil, partindo do fim da Ditadura Militar. Assim, afirmaram que um dos maiores problemas com o regime no país vem das instituições nacionais, que “lutaram para ganhar credibilidade com a corrupção persistente, a pobreza urbana e a crescente violência criminosa”.

Apesar de tais índices, entretanto, o Brasil apresentou pequenas janelas de satisfação, momentos em que a população demonstrava estar de acordo com a política nacional. A última delas aconteceu durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2010.

Segundo a Universidade de Cambridge, a satisfação da população se deu pelo 'boom' na economia promovido pelo ex-presidente. Utilizando o dinheiro das commodities e investindo em programas de redução da pobreza, Lula reduziu a inflação e conseguiu conter a dívida pública, atraindo investimentos estrangeiros.

Todavia, um período de instabilidade democrática se instaurou logo depois, com o começo das investigações da Lava Jato. Elas criaram um mal-estar entre a população, expondo "o clientelismo e o nepotismo generalizados no sistema político brasileiro”, afirma a análise.

Os acadêmicos ainda demonstram que, em determinados períodos da América Latina, a história política se repete. Nesse sentido, assim que “instituições democráticas pareciam estar criando raízes — nos anos 20, 50 e 80”, momentos de instabilidade e ilegitimidade se instauravam logo em seguida.

O ciclo repetitivo pôde ser observado em vários países do continente. Como exemplo, o estudo pontuou a “onda rosa” de políticos social-democratas no Brasil (com o Lula), no Chile (com Michele Bachelet) e na Argentina (com Cristina Fernandez de Kirchner).

Esse processo de promessas sobre diminuição de inflações e de desigualdade, em grande parte dos países, acabou fracassando. “A 'onda rosa' se mostrou insustentável porque mesmo seus membros mais moderados permaneceram presos à tradição populista do clientelismo e dos gastos pró-cíclicos”, pontua a pesquisa.

Para os pesquisadores, esse fracasso ainda tem mais algumas explicações. No Brasil e no México, por exemplo, o crime violento, a corrupção, as taxas de homicídio, as injustiças sociais e as taxas abusivas são alguns dos maiores problemas que também atingem a crença das pessoas no regime democrático.

Ainda mais, os acadêmicos apontam que mais de 3 em cada 4 cidadãos da América Latina registram estar insatisfeitos com o desempenho da democracia de seus países. Assim, a pesquisa aponta para as crises na Venezuela, no Equador e na Bolívia, as eleições de líderes populistas no México e no Brasil e para os violentos protestos na Colômbia e no Chile.

Por fim, a Universidade de Cambridge também mostra que 37% das pessoas na América Latina aceitariam um golpe militar. Isso porque, para essa porção da população, as falhas na democracia, os altos níveis de criminalidade e a corrupção presentes em seus países justificariam a tomada do poder pelos militares.

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