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Racismo

Segundo funcionária da ONU, soluções modernas para crise climática 'perpetuam racismo'

Para Tendayi Achiume, relatora sobre racismo da ONU, projetos de alta tecnologia são feitos às custas de grupos marginalizados

Éric Moreira, sob supervisão de Ingredi Brunato Publicado em 27/12/2022, às 11h27

Embora muitos o questionem, o fenômeno do aquecimento global, assim como as mudanças climáticas provocadas por ele, são uma certeza científica. Por conta disso, diversas organizações, governamentais ou não, se reúnem a fim de pensar em estratégias eficazes para o combate dos impactos ambientais provenientes das atividades poluentes da humanidade.

Infelizmente, assim como diversas outras questões com os quais a civilização humana lidou ao longo de vários séculos, o aquecimento global não pode ser superado de forma simples e individual.

Pensando assim, Tendayi Achiume, relatora especial das Nações Unidas sobre Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Relacionada, afirmou em entrevista ao The Guardian que respostas como carros elétricos e reflorestamento de vastas extensões de terra são implementadas "às custas de grupos racial e etnicamente marginalizados e povos indígenas."

Em uma última intervenção antes do fim de seu mandato, Achiume disse que soluções significativas para a crise ecológica não seriam possíveis sem enfrentar o racismo. Mas em uma avaliação sombria das perspectivas para o futuro da humanidade, ela admitiu que era "difícil imaginar" como essa mensagem poderia ressoar com as pessoas que detêm o poder, como informado pelo veículo.

Você não pode pensar que resolve a crise climática e depois atende à justiça racial ou à discriminação racial", disse Tendayi Achiume em entrevista. "O que você precisa perceber é que toda ação tomada em relação à crise ecológica — ambiental, climática e outras — tem implicações de justiça racial e, portanto, toda ação se torna um local para desfazer a subordinação racial."

Crise ecológica e crise de justiça racial

Em seu relatório final apresentado à assembleia geral da ONU em outubro, Tendayi Achiume abordou a relação entre o racismo e as crises climática e ecológica. Para ela, "foi uma questão levantada desde o início de seu mandato como um dos fatores globais mais importantes na injustiça racial."

"A crise ecológica global é simultaneamente uma crise de justiça racial", escreveu. "Os efeitos devastadores da crise ecológica são desproporcionalmente suportados por grupos racial, étnico e nacionalmente marginalizados… Em todas as nações, esses grupos compreendem predominantemente os residentes das áreas mais atingidas pela poluição, perda de biodiversidade e mudança climática".

Como exemplo, ela menciona as comunidades indígenas que são substituídas, territorialmente, por inovações que deveriam levar a humanidade a uma produção de energia limpa.

"E aí você vê como uma transição verde, a menos que seja explicitamente centrada na justiça racial, pode vir às custas e reproduzir esses tipos de injustiças raciais", pontua. 

Por fim, Achiume menciona ser falha a abordagem de superação da crise ambiental a partir de "uma aplicação mais concertada da estrutura capitalista global". Isso porque as próprias empresas que construíram sua riqueza com a destruição do meio ambiente e com as injustiças raciais agora eram confiadas para tentar reverter os danos.

Estamos basicamente novamente tentando lucrar para sair de uma crise que é definida por uma abordagem que pensa que lucrar com a crise é sustentável", finaliza.
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