O goleiro Rojas caído perto do rojão - Divulgação
Futebol

A fogueteira do Maracanã: Como a farsa de Rojas quase tirou o Brasil de uma Copa do Mundo

Seleção canarinho estava se classificando para a Copa de 1990 até que um rojão ‘atingiu’ o goleiro chileno

Fabio Previdelli Publicado em 10/04/2021, às 06h00 - Atualizado em 24/11/2022, às 15h00

O dia 3 de setembro de 1989 marcaria um dos momentos mais polêmicos e escandalosos do futebol mundial. Na ocasião, o selecionado brasileiro enfrentaria os chilenos no Maracanã, no Rio de Janeiro, em uma partida válida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1990. 

O Brasil vencia a partida quando um rojão disparado por Rosenery Mello ‘atinge’ o goleiro chileno Roberto Rojas. No meio de toda fumaça, o arqueiro surge ensanguentado, desesperando a todos.

Após mais de três décadas, o episódio que ficou conhecido como “A fogueteira do Maracanã” ainda hoje está marcada no folclore do futebol como uma das maiores mentiras do esporte. Com a Copa do Mundo 2022, o site Aventuras na História relembra a história, que marcou o futebol em solo brasileiro. 

O sonho 

O desejo de jogar uma Copa do Mundo faz parte dos objetivos de qualquer jogador de futebol. Embora somos o único país a disputar todas as edições do torneio, como a própria FIFA gosta de frisar, nem sempre estar em campo na maior competição do futebol mundial foi uma tarefa fácil. 

Pelé durante a Copa do Mundo de 1970 / Crédito: Divulgação/ Fifa

 

Um desses sufocos que nossos craques tiveram que superar foi nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1990. Como relembra matéria do Lance!, aquela edição do torneio só classificaria o primeiro colocado de cada chave. 

A seleção canarinho havia sido sorteada para o grupo 3, o mesmo de Chile e Venezuela. A vinotinto foi a última colocada entre os três, sendo goleada nas quatro partidas que jogou contra Brasil e Chile (duas contra cada um). 

Assim, restou a essas duas seleções lutar por uma vaga. No dia 13 de agosto, os dois empataram por 1x1 em uma partida que aconteceu em Santiago. Com isso, no jogo do Maracanã, a seleção cinco vezes campeão do mundo — que naquela época ainda era tri — podia até mesmo sair com o empate.  

A vantagem foi conseguida pelo saldo de gols, tínhamos feito seis gols a mais que os chilenos — uma vantagem de 11 contra cinco.  

A Guera em Santiago 

Os ânimos já estavam aflorados por conta do primeiro jogo, relembra o técnico da Seleção na ocasião Sebastião Lazaroni: “Antes do jogo começar, um chileno deu uma mordida no Romário. Ele se irritou e levou um amarelo. Aí, quando a bola rolou, deram uma falta contra nós e ele foi expulso aos três minutos. Imagina a pressão que foi”, relembra em entrevista ao Lance!. Porém, logo em seguida, La Roja também teve um jogador expulso: o volante Ormeño.

O primeiro gol da partida aconteceu após jogada individual de Mazinho. Depois de passar por dois marcadores, ele chegou na linha de fundo e deu passe para dentro da área chilena. Só que, ao invés de dar um chutão para frente, Astengo acabou acertando uma bolada em González e a pelota acabou morrendo no fundo do gol. 

O empate aconteceu em um lance muito polêmico. Naquela época, ainda existia a regra de que um goleiro não podia dar mais do que quatro passos com a bola nas mãos. Assim, o árbitro da partida acabou entendendo que Taffarel havia feito isso e marcou sobrepasso.  

O arqueiro brasileiro acabou entregando a bola nas mãos de um jogador chileno que, imediatamente, a coloca no gramado e deu um passe para González empatar. “Eles estavam dispostos a tudo. Neste jogo, no Chile, torcedores quase derrubaram um policial. No gol deles, cobraram falta em dois toques na área sem a gente armar barreira”, conta Mauro Galvão ao Lance!. O jogo terminava empatado. 

A fogueteira 

Com os resultados das rodadas seguintes, o duelo no Maracanã decidiria quem iria para Copa. Naquele 3 de setembro, mais de 130 mil pessoas receberam a Seleção. Após um primeiro tempo marcado pelo bombardeio brasileiro contra a meta de Rojas, o segundo tempo começou com um gol de Careca logo aos quatro minutos. 

“O Bebeto, que gostava de voltar um pouco e buscar a bola, girou em cima do volante deles e lançou para mim no momento certo. Eu já ‘fiz o facão’, fui pelo meio dos zagueiros e chutei. A bola até bateu no Rojas antes de entrar. Foi uma jogada rápida, uma bola perfeita”, relembra o atacante brasileiro ao Lance!.

Tudo parecia encaminhar para a classificação brasileiro, mas, aos 24 minutos, tudo mudou quando a torcedora Rosenery Mello lançou um sinalizador da Marinha em direção à área chilena. Logo em seguida o goleiro Rojas desabou em campo e foi rolando em direção à fumaça.  

De início, todos ficaram com a impressão que ele havia sido atingido. Afinal, Rojas surgiu ensanguentado e foi retirado às pressas por seus companheiros de equipe. De imediato os chilenos deixaram o Maracanã alegando falta de segurança, como relata a GQ. 

Além disso, eles pleiteavam para que o Brasil fosse punido e eles saíssem com a vitória — e consequentemente com a classificação para a Copa.  

A farsa revelada 

O medo de uma possível não participação na Copa rondou os brasileiros por alguns dias. Porém, a farsa acabou sendo descoberta. Como mostra a GQ, o sinalizador que teria ‘atingido’ Rojas, na verdade caiu cerca de um metro de distância do arqueiro. 

Mas como ele se machucou? Tudo isso não passou de um oportunismo do goleiro chileno que, no meio da fumaça, tirou uma lâmina que deixou escondido em sua luva e se cortou. A situação já havia sido premeditada, Rojas só estava esperando o melhor momento para isso, que calhou com o rojão disparado por Rosenery.  

Após o caso ter sido apurado pela FIFA e se tornado público, os próprios chilenos confessaram a armação — embora nem todos soubessem da trama, conta a GQ. Com isso, a maior entidade do futebol teve que tomar medidas drásticas. 

Além de Rojas, o treinador Orlando Avarena, o médico Daniel Rodríguez e o dirigente Sergio Stoppel foram banidos para sempre do futebol — embora Rojas tenha sido ‘perdoado’ em 2001 e chegou a trabalhar até mesmo como técnico do São Paulo e preparador de goleiros do Sport, relembra o Lance!.

Fernando Astengo, capitão de La Roja, acabou sendo suspenso por quatro anos, e os chilenos acabaram sendo impedidos de disputar as Eliminatórias para a Copa de 1994 — que ficou marcada com a seleção canarinho voltando a ser campeã mundial. 

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