Jânio Quadros tentou enquadrar o Carnaval - Creative Commons
Brasil

Limpando os ares: Jânio Quadros proibiu o lança-perfume no Carnaval

A prática de consumo do famoso loló era ainda maior nos anos 1960, mas o presidente do Brasil emitiu um decreto radical, que dura até hoje

André Nogueira Publicado em 21/02/2020, às 11h00 - Atualizado em 23/04/2022, às 09h00

Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado, Jânio Quadros é a certeza do Brasil moralizado!” dizia o jingle do político que, num curto governo de sete meses, realizou importantes proibições que nos afetam até hoje. Uma prática muito comum no Carnaval brasileiro, o consumo da droga lança-perfume (ou loló), foi duramente reprimida durante o governo do petenista.

Longe de ser possível alegar insanidade, as atuações políticas de Jânio Quadros demonstraram o conservadorismo e autoritarismo de sua figura pública, cuja renúncia espalhafatosa deu início à nova crise que culminou no Golpe Militar. O governo das proibições era fundamentado num projeto político, e a proibição do consumo da droga não foi diferente.

Lança-perfume é uma substância de consumo pelas vias respiratórias à base de clorofórmio e cloreto de etila, normalmente com éter e algum aroma. Ao ser colocado em recipientes fechados (de preferência pressurizados), ele volatiza e é ingerível. Com a alta absorção da mucosa pulmonar, o corpo é afetado com euforia e desinibição, fazendo com que o usuário perca o controle corpóreo e seja perturbado por sons. O efeito é breve.

O lança-perfume do começo do século 20 / Wikimedia Commons

 

O loló é comum nas folias brasileiras desde, pelo menos, 1904, chegando ao seu auge nos anos 1920, quando começou a ser adotado nos carnavais de todo o país, tornando-se prática cultural dessa que é a maior festa do mundo .

Muitas vezes, ao invés de baforar, os consumidores borrifavam o líquido nos foliões, dando uma sensação de agrado somada ao odor gostoso aplicado no recipiente. Era um caso de consumo compartilhado e sociabilizado. Porém, com a posse de Jânio, o movimento de moralização da sociedade atingiu o consumo de drogas e o Carnaval.

Em 1961, o então presidente adotou as recomendações feitas pelo jornalista e compositor Flávio Cavalcante, o que levou ao decreto de número 51.211, de 18 de agosto daquele ano, em que a instância máxima federal declarava proibida a fabricação, a distribuição e o uso da substância em todo no território nacional. O fato foi incentivado pelo uso da mídia de alguns casos de morte por embriaguez de lança-perfume no Carnaval.

O decreto possui seis considerações e quatro artigos, se destacando o seguinte: “Considerando, finalmente, que nada justifica a tolerância do Poder Público para com o emprego da substância nociva à saúde, como instrumento de folguedo carnavalesco, acessível à generalidade da população”; “Considerando que se vem generalizando, de maneira alarmante, a prática de aspiração do lança-perfume como meio de embriaguez”. Percebe-se um esforço do governo em controlar as ações cotidianas da população.

A proibição de Jânio fez com que os consumidores de lança-perfume passassem a ser marginalizados da sociedade e tornou a prática um caso para o olhar da polícia, ao invés da Saúde Pública. Com isso, dificultou-se o acesso e a diversão dos foliões no Carnaval, mas nunca se impediu que a prática acontecesse e permitindo o uso indevido dessa droga até hoje nas ruas de grandes cidades. Atualmente, o produto é facilmente acessível, à margem da lei, por conta do tráfico que vem do Paraguai e da Argentina.


+Saiba mais sobre a vida e o governo de Jânio Quadros através das seguinbtes obras

Janio Quadros - Memorial A Historia Do Brasil, Eduardo Lobo Botelho Gualazzi e Janio Quadros Neto (1995) - https://amzn.to/2pUk9hQ

Governo Jânio Quadros: sem retoque, Nelson Valente - https://amzn.to/2WTn46B

Empresários, Trabalhadores e Grupos de Interesse. A Política Econômica nos Governos Jânio Quadros e João Goulart. 1961-1964, Loureiro Felipe Pereira (2017) - https://amzn.to/2oYDOgn

O trevo e a vassoura: Os destinos de Jânio Quadros e Adhemar de Barros, Gabriel Kwak (2008) - https://amzn.to/2O2Q9bZ

Jânio Quadros. A Vassoura em Ação, Nelson Valente (2016) - https://amzn.to/2WT8FqW

Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, assinantes Amazon Prime recebem os produtos com mais rapidez e frete grátis, e a revista Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.

Brasil Drogas Jânio Quadros tráfico carnaval Probição

Leia também

Quatro Dias com Ela: Veja a história real por trás do filme


Do kart ao estrelato: As curiosidades sobre a carreira heroica de Ayrton Senna


Bebê Rena: Veja 5 diferenças entre a série e a história real


Taj Mahal Palace: Alvo de um atentado terrorista, hotel virou campo de guerra


Atentado ao Hotel Taj Mahal: 5 coisas para saber sobre a história real do filme


Harry Potter: Os significados, em latim e outras línguas, dos feitiços