Panfleto da campanha de Jorge Amado pelo PCB em 1945 - Divulgação
Brasil

“Meu último ídolo chama-se Stalin”: Jorge Amado foi comunista

Autor de livros com a temática da luta de classes e deputado federal pelo PCB, o baiano desiludiu-se com a política da União Soviética

Isabela Barreiros Publicado em 01/03/2020, às 07h00

“Meu último ídolo chama-se Stalin. Já não tenho ídolos – há tempos. Como ídolo, Stalin é o bastante”, alegou Jorge Amado em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto em 1990. Dono de posicionamentos políticos radicais, o escritor baiano deixou um legado de livros com fortes críticas sociais.

Nascido em Itabuna, Bahia, Jorge desde cedo se interessou por política. Já na adolescência, passou a afrontar a mídia local ao criar um pasquim, A Folha, em oposição ao tradicionalmente lido, A Pátria.

Pouco tempo depois, passou a integrar a Academia dos Rebeldes. O grupo tinha como intenção renovar o círculo literário baiano, trazendo transformações à escrita e aos temas abordados na maioria das obras que eram lançadas na época.

jorge em 1935 / Crédito: Wikimedia Commons

 

Com apenas 18 anos, escreveu O País do Carnaval, em 1931. Havia ingressado na faculdade de direito, e começara a se envolver com o Partido Comunista do Brasil, iniciando sua trajetória como militante de esquerda.

“Ele entra para a juventude comunista em 1932. Nesse período, faz uma obra que é considerada muito militante – Cacau, Suor, Jubiabá, Seara Vermelha –, em que, quase sempre no final, o herói sempre se engaja na luta. Eram nos livros que ele indicava ao leitor para se tornar comunista e fazer greve”, explica Joselia Aguiar, autora da biografia Jorge Amado: uma biografia.

Em 1936, acabou sendo preso, acusado de ter participado da Intentona Comunista, movimento revolucionário arquitetado por Luís Carlos Prestes no Rio de Janeiro. O levante dificultou a vida de diversos pensadores e intelectuais opostos ao regime, não importando se eram ou não filiados ao partido.

Jorge foi processado, chegou a ser preso mais de uma vez e exilado. Inclusive, estava preso no momento em que seus livros, principalmente o recém-lançado Capitães da Areia, foram queimados nas ruas de Salvador, com o pretexto de que as obras tinham caráter subversivo.

Crédito: WIkimedia Commons

 

Permaneceu encarcerado em Natal, no Rio Grande do Norte. A militância, porém, fez com que ele fosse preso novamente, sob as mesmas circunstâncias, já no ano seguinte, em 1937. Ficou em Manaus, no Amazonas e foi solto apenas meses depois, ainda com a obrigação de se apresentar semanalmente na Delegacia de Ordem Política e Social em Salvador, onde passou a morar.

Quando o governo Vargas caiu no Brasil e Partido Comunista voltou à legalidade em 1945, Jorge foi eleito deputado federal por São Paulo, recebendo mais de 15 mil votos. Junto com Prestes e Marighella, entre outros líderes revolucionários, integrou a Bancada Comunista. Seu mandato, no entanto, foi cassado.

Quase abandonou a militância depois disso. Durante muito tempo, limitou-se a fazer críticas e a opinar sobre a situação do mundo atual. No momento em que a União Soviética acabou, esteve ativo dando julgamentos sobre o bloco, demonstrando uma grande desilução com as ações praticadas pelo governo soviético, principalmente Stalin. 

Crédito: WIkimedia Commons

 

“Não acredito que o socialismo, como ideia, deixe de ser o que representa como avanço e como um passo adiante. Nunca houve socialismo, como não houve democracia. Como a implantação dos regimes socialistas foi baseada naquilo que é fundamentalmente errado  - a ditadura de classe – , houve, então, uma falsificação total e completa”, explicou ainda em entrevista a Neto em 1990.

“Eu já vinha dizendo que, sem democracia, não se pode construir o socialismo. O coletivo não é o oposto do indivíduo, como foi nestes países [URSS]. Sem considerar o indivíduo ser humano não se pode pensar em socialismo. O que vai existir é, sempre, uma falsificação. São coisas que, para mim, ficaram claras, dentro de um processo sofrido, longo e cruel”, concluiu.


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