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Curiosidades / Calendário

Afinal, por que faltam 10 dias em outubro de 1582?

Segundo o calendário de 1582, outubro suprimiu o período entre os dias 5 e 14. Conheça a história dos 10 dias que nunca existiram!

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 05/03/2023, às 00h00 - Atualizado em 30/10/2023, às 16h55

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O calendário de outubro de 1582 - Domínio Público via Wikimedia Commons
O calendário de outubro de 1582 - Domínio Público via Wikimedia Commons

A necessidade de organizar o tempo e estabelecer datas fixas para certas celebrações sempre foi uma necessidade presente entre as sociedades humanas dos mais diversos tempos. Desta forma, a utilização de um calendário se tornou mais do que importante.

Muitos acreditam que o primeiro deles tenha surgido com os sumérios — povo que vivia na Mesopotâmia há 2.700 anos antes de Cristo. Em sua medição do tempo, o calendário sumério era dividido por 12 meses lunares, cada qual com 30 dias; sendo que cada dia era dividido em 12 períodos de 30 partes cada, como aponta artigo do Observatório Astronômico Frei Rosário, da Universidade Federal de Minas Gerais. 

Um milênio depois, na Babilônia, foi estabelecido um calendário com um ano de 12 meses alternados entre 29 e 30 dias, totalizando o ano com 354 dias. Mas o calendário antigo mais parecido com o que usamos atualmente surgiu em 46 a.C., o calendário Juliano

+ A evolução do calendário: Como marcamos o tempo ao longo da História?

Foi justamente esse ocalendário responsável por uma grande confusão mais de 1.500 anos depois, quando o papa Gregório XIII suprimiu o período entre os dias 5 e 14 de outubro em 1582. Entenda!

Calendário de Júlio César

Considerada berço da civilização ocidental, a Roma Antiga adotou um calendário lunissolar — baseando-se nos ciclos do Sol e da Lua. Desta forma, os meses começavam na Lua Nova e cada ano no equinócio de primavera. Uma reportagem do Olhar Digital aponta que cada semana era composto por 7 dias e dominada por uma fase lunar. Na maioria das vezes.

Calendário de Anzio (Fasti Antiates) de 84-55 a. C/ Crédito: Bauglir via Wikimedia Commons

Mas havia um grande problema nisso tudo: os ciclos lunares e solares não eram regulares, o que fazia com que meses extras precisassem ser encaixados sempre, cada qual com uma quantidade variável de dias. Uma tremenda confusão que só foi desfeita em 46 a.C., quando os romanos adotaram o calendário Juliano; nome dado em homenagem ao imperador Júlio César

O novo calendário consistia em um ano de 365 dias e 6 horas, que por sua vez era dividido em 12 meses entre 30 e 31 dias, muito parecido com o que temos hoje. Importante ressaltar que fevereiro mantinha o padrão atual de 28 dias

Mas a grande questão é que o ano não possui exatamente 365 dias e 6 horas, mas sim 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. Portanto, o calendário Juliano era 11 minutos e 14 segundos maior que o tempo gasto pela Terra para dar uma volta em torno do Sol. 

Essa pequena diferença pode parecer ‘inocente’. Mas pense bem o que aconteceria com uma somatória desse tempo ao longo de cerca de 1.500 anos? O papa Gregório XIII sabe muito bem te responder isso. Em 1582, a diferença se tornou maior do que 10 dias. 

Mudança necessária 

Para entender melhor como isso afetava a sociedade da época, precisamos entender que muitos feriados religiosos não possuem datas fixas. Um exemplo disso é a Páscoa, que logo se aproxima. 

O feriado que celebra a ressurreição de Jesus Cristo para os cristãos acontece sempre no primeiro domingo depois da primeira Lua Cheia ocorrida depois do Equinócio de Primavera no Hemisfério Norte. Para facilitar, neste ano ela será em 9 de abril

Mas voltando para 1582, os equinócios e solstícios estavam ocorrendo com uma diferença de 10 dias do calendário. Algo precisava ser feito. É aí que Gregório entra em ação. Como principal figura da Igreja Católica e grande autoridade do mundo ocidental, ele decidiu mudar o calendário. O calendário Gregoriano, que usamos até hoje, tem a óbvia homenagem a sua figura. Mas nem tudo foi tão simples.

Escultura na tumba do papa Gregório XIII celebrando a introdução do calendário gregoriano/ Crédito: Rsuessbr via Wikimedia Commons

Através de estudos foram realizados pelo astrônomo italiano Luigi Giglio, pelo escritor espanhol Pedro Chacón e pelo jesuíta e matemático alemão Cristóvão Clavius, aponta matéria da Agência Brasil, foi estabelecido que para fazer o equinócio da primavera voltar a acontecer em 21 de março, seriam necessários tirar o erro de 10 dias existentes no calendário

Assim, em 1582, foi promulgada a bula papal Inter Gravíssimas, que retirou o período entre os dias 5 e 14 de outubro daquele ano. Para entender o que causou a mudança, segundo o El País, a freira Santa Teresa de Jesus, conhecida por fundar a Ordem das Carmelitas Descalças, faleceu no dia 4 de outubro de 1582 e foi enterrada no dia seguinte: 15 de outubro. 

Para que o erro de 10 dias não fosse mais influente, o calendário Juliano estabeleceu que os anos múltiplos de 100 e que não fossem múltiplos de 400, não seriam bissextos — o que significa que fevereiro não teria o 29° dia acrescentado.

Mas nem todos gostaram da mudança abrupta, como no caso das igrejas ortodoxas, que não adotaram a nova contagem. Sendo assim, eles comemoram o Natal em 7 de janeiro, segundo o calendário Juliano, enquanto a Igreja Católica Apostólica Romana no já tradicional 25 de dezembro.