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Notícias / Calendário maia

Cholq'ij: Antigo calendário maia de 3 mil anos pode revelar antigas estruturas

Calendário com ano de 260 dias é utilizado até hoje por comunidade indígena e pode revelar estruturas antigas

Éric Moreira, sob supervisão de Wallacy Ferrari Publicado em 11/01/2023, às 15h16

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Imagens de varredura aérea de dois sítios arqueológicos da costa sul do Golfo do México - Reprodução/Ivan Šprajc et. al
Imagens de varredura aérea de dois sítios arqueológicos da costa sul do Golfo do México - Reprodução/Ivan Šprajc et. al

Um estudo publicado na última sexta-feira, 6, na Science Advances, aponta que um antigo calendário maia e olmeca chamado cholq'ij, utilizado até hoje por uma comunidade indígena da Guatemala, pode datar de 1,1 a.C., ou seja, mais de 3 mil anos atrás, séculos antes do que se acreditava desde sua descoberta.

De acordo com a Revista Galileu, o calendário foi encontrado na região maia do México e da América Central, anotando o passar dos dias a partir de marcações que combinam 13 números e 20 símbolos, sempre em uma mesma sequência. Composto por um total de 260 dias em um ano, corresponde a alinhamentos de estrelas, sem contar sua relação com estruturas arquitetônicas e influência em decisões políticas, na agricultura e de religião.

Até então, a evidência mais antiga do cholq'ij havia sido encontrada em um mural em San Bartolo, na Guatemala, datado de 300 a.C. No entanto, observando outros elementos das culturas mesoamericanas do passado, pesquisadores perceberam um padrão em complexos arqueológicos destes grupos: a grande maioria apresentava pontos arquitetônicos alinhados com o nascer do sol nos dias 11 de fevereiro e 29 de outubro do calendário gregoriano, datas estas distantes em 260 dias.

Varredura aérea de sítios arqueológicos da costa sul do Golfo do México, onde podem ser pontuadas construções e datas importantes no antigo calendário maia
Varredura aérea de sítios arqueológicos da costa sul do Golfo do México, onde podem ser pontuadas construções e datas importantes no antigo calendário maia / Crédito: Reprodução/Ivan Šprajc et. al

A descoberta foi feita pelo arqueólogo Ivan Šprajc, do Instituto de Estudos Antropológicos e Espaciais da Eslovênia, em parceria com Takeshi Inomata, da Universidade do Arizona (EUA), que publicou há dois anos uma pesquisa feita na Costa do Golfo do México que revelou quase 500 monumentos antigos.

Dentre os complexos analisados, o mais antigo que foi condizente com os aspectos mencionados data de cerca de 1,1 mil anos a.C., o que pode sugerir que o calendário já existia na época. Além disso, outros monumentos possuíam intervalos de 130 dias entre si, o que marca meio calendário.

Utilização do calendário

Além das características já mencionadas, que podem definir a importância dos estudos de astronomia e observação do céu, Šprajc contou à Science que o calendário poderia ter sido utilizado, no passado, para mostrar quando alguns recursos eram abundantes ou mais escassos, estando grandemente relacionado às estações chuvosas e ao cultivo do milho — alimento básico das culturas mesoamericanas.

Hoje, o indígena Willy Barreno Minera, do grupo Maya K’iche’, da Guetamala, utiliza o antigo calendário para aconselhar sua comunidade sobre os momentos em que o solo deve ser preparado para o cultivo do milho, servindo assim como um guardião do dia e guia espiritual. Já sua esposa, Ixquik Poz Salanic, utiliza-o para fornecer conselhos médicos e ajudar parteiras com o nascimento de bebês. Além disso, até pouco tempo atrás, a comunidade também o utilizava para marcar trocas de administração de governo.

Mesmo quando não temos mais uma grande arquitetura maia, nunca perdemos a conta dos dias", afirma Willy Minera, conforme a Revista Galileu. "Dizemos que quando os colonizadores [espanhóis] chegaram, queimaram os livros, destruíram as estelas. Mas eles não queimaram o céu, eles não queimaram o Sol."