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Desventuras / Dom Pedro I

Os especialistas que não concordam com a viagem do coração de Dom Pedro I

O coração de Dom Pedro I chegou nesta segunda-feira, 22, no Brasil para as comemorações da Independência do Brasil

Redação Publicado em 22/08/2022, às 11h01 - Atualizado em 13/09/2022, às 15h52

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O coração de Dom Pedro I e uma pintura do imperador - Reprodução/Vídeo/Youtube e Domínio Público
O coração de Dom Pedro I e uma pintura do imperador - Reprodução/Vídeo/Youtube e Domínio Público

No ano em que relembramos os 200 anos da Independência do Brasil, o Brasil conta com com um símbolo curioso: o coração de Dom Pedro I, um dos importantes nomes envolvidos no processo de Independência do país.

Nesta segunda-feira, 22, desembarcou no Brasil o coração do imperador, que se encontra em Porto, em Portugal, especificamente na igreja de Nossa Senhora da Lapa. O órgão foi trazido até o Brasil em uma aeronave da Força Aérea Brasileira, a FAB, através de três autoridades de Portugal, e um representante do governo brasileiro. 

No entanto, nem todos concordam com o empréstimo do órgão. Além de inúmeras criticas de internautas nas redes sociais, especialistas da área não enxergam como positiva a viagem do coração de Dom Pedro I.

Em entrevista ao site Aventuras na História, o escritor e especialista em Brasil Império, Paulo Rezzutti explica a história por trás da decisão de manter o coração de Dom Pedro I em formol.

Pedro em Portugal

Como relembra o renomado escritor, D. Pedro abdicou do trono brasileiro no dia 7 de abril de 1831. Com isso, partiu para a Europa e encarou o caos político com seu irmão, D. Miguel, tomando o poder.

Na Europa, ele preparou uma tropa na França e invadiu Portugal. Inicialmente, ele parou em Açores e, em seguida, retomou a cidade de Porto. Todavia, o ex-imperador do Brasil acabou contraindo tuberculose num cerco — doença que acabaria por tirar a sua vida. 

Quando ele morre, em 1834, [...] D. Pedro I pede duas coisas como desejo final. A primeira, que ele seja enterrado como um soldado da filha, com uniforme de general do quinto batalhão de caçadores. E eu vi os restos mortais deles, e o uniforme estava só com condecorações portuguesas. E ele deixa, por vontade própria, o coração em Porto, onde sofreu o cerco”, enfatizou Paulo.

Vale lembrar que a decisão não ocorreu apenas pelo local, afinal, o palácio onde teve os últimos dias de vida foi o mesmo em que nasceu e cresceu. Com isso, ele optou por doar o órgão para a cidade, assim elaborando uma imagem de herói romântico e patriota.

Com isso, Paulo enfatiza que o pedido dele foi que o coração ficasse em Porto. O escritor relembra que a viagem do coração do imperador até o Brasil é um 'retrocesso'. 

“A única coisa que D. Pedro I pediu foi para que o coração ficasse no Porto. Então, por que o Brasil, que quer homenagear ele, quer trazer o coração para cá? Se o corpo já está aqui! Outra questão é que veremos uma caixa fechada, o coração não ficará exposto. E o terceiro ponto: por que iremos adorar o coração? Qual o simbolismo do coração? É um retrocesso”, diz Paulo Rezzutti.

Outro nome renomado que não concorda com a viagem é a arqueóloga Valdirene Ambiel. A historiadora foi a responsável por analisar os restos mortais de Dom Pedro I e suas duas esposas em 2012 na cripta do Museu do Ipiranga, localizada em São Paulo. 

Em entrevista ao RFI, a Valdirene disse que “em 1972 foi quando o corpo de D. Pedro foi trasladado para o Brasil, lamentavelmente foi usado de maneira política, durante o regime militar”.

“O que eu observei 40 anos depois, em 2012, é que não houve respeito pelo ser humano, pelo estado em que encontrei o corpo de D. Pedro”, disse Ambiel. Ela diz que o pedido do coração para exposição configura um gasto desnecessário de dinheiro público.

Eu, como cidadã brasileira, no momento complicado do nosso país, inclusive para nós da área científica, que temos cortes muito grandes de pesquisa há muitos anos, não vejo razão para que haja gasto de dinheiro público com esse transporte. Acredito que se nós tivéssemos mais investimento não apenas na ciência, mas principalmente na educação de base, seria fundamental e inclusive uma homenagem a D. Pedro, que foi quem reconheceu a profissão e professor nesse país”, enfatizou Ambiel ao veículo.  

Rezzutti também menciona o gastos envolvidos no translado do coração de Dom Pedro I até o Brasil, e como esse valor poderia ser mais bem aplicado. 

"Quanto vai ser o seguro para trazer esse coração? E o que não poderia ser feito com esse dinheiro em prol da educação e preservação da nossa memória? Então eu não sou a favor disso”, disse Paulo.


Para saber mais sobre a Independência, ouça agora o podcast abaixo 'Desventuras na História', apresentado pelo professor de História Vítor Soares, idealizador do podcast 'História Em Meia'.