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Notícias / História

Antigo relato censurado sobre Elizabeth I é revelado 400 anos depois

O antigo manuscrito foi feito pelo historiador William Camden, e modificado para não ofender o sucessor da monarca

Éric Moreira, sob supervisão de Giovanna Gomes Publicado em 20/07/2023, às 11h23 - Atualizado às 11h33

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Retrato da rainha Elizabeth I e página de antigo relato - Domínio Público via Wikimedia Commons / Divulgação/The British Library Board
Retrato da rainha Elizabeth I e página de antigo relato - Domínio Público via Wikimedia Commons / Divulgação/The British Library Board

Pesquisadores do Reino Unido recentemente conseguiram descobrir o conteúdo que fora censurado de antigos manuscritos do historiador William Camden. Chamados de Anais de William Camden, o conteúdo dos textos serve como o primeiro relato oficial do reinado de Elizabeth I, a 'Rainha Virgem' (1558 - 1603).

É importante pontuar que a nova descoberta chama atenção pois, por 400 anos, não se sabia qual era o conteúdo dos trechos censurados. No entanto, sabia-se que foi o próprio Camden quem as omitiu — colando papel sobre o texto, além de passagens sobrescritas —, pois não queria ofender seu patrono e sucessor da rainha, James VI.

Liderado pela doutoranda em filosofia Helena Rutkowska, o estudo foi desenvolvido na Universidade de Oxford, em colaboração com a Biblioteca Britânica e a Open University, todas da Inglaterra.

"Embora os historiadores tenham estudado os Anais impressos antes, uma análise aprofundada dos rascunhos do manuscrito nunca foi feita e a enorme quantidade de novas informações que pudemos descobrir sobre o reinado de Elizabeth foi surpreendente", conta a pesquisadora em comunicado.

A rainha Elizabeth I
A rainha Elizabeth I / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Segredos do passado

As passagens do antigo documento mostram que, a princípio, ele se tratava de fato de um registro imparcial e supostamente preciso do período que narra. Porém, a reedição de Camden demonstra, em oposição, uma clara intenção de favorecer James.

Por exemplo, embora o sucessor nunca tivesse conspirado contra Elizabeth I, um homem chamado Valentine Thomas confessou, em 1598, que James teria enviado-o para matar a rainha. E de fato, Camden pretendia manter essa história nos Anais, mas suavizou a confissão posteriormente, atestando que Thomas "acusou o rei dos escoceses com má afeição pela rainha."

Além deste, outro trecho alterado se refere à morte do rei Filipe II, da Espanha, em 1598. Originalmente, é escrito que o rival de Elizabeth "não tinha habilidades imperiais", e que teria morrido em decorrência de ftiríase, uma doença considerada na época como sendo "castigo divino", na qual parasitas se multiplicam dentro do corpo de alguém. Porém, essas frases foram simplesmente removidas dos escritos pelo historiador.

Nem mesmo o papa da época, Pio V, se safou do historiador: no texto original, Camden afirma que o líder religioso vivia uma "guerra espiritual" quando excomungou Elizabeth I, em 1570. O trecho, porém, foi substituído para dizer que Pio estava criando "conspirações secretas" contra a rainha.

Por fim, um dos últimos pontos abordados nos Anais de William Camden é o obituário da monarca, que teria nomeado James VI, da Escócia, como seu sucessor no leito de morte. Porém, essa cena teria sido fabricada pelo historiador: na verdade, Elizabeth estava muito debilitada para que pudesse falar em seus momentos finais, e teria acrescentado a informação para apaziguar o novo rei.

Esperamos que, usando imagens aprimoradas para desvendar passagens que foram escondidas por 400 anos, possamos ajudar os pesquisadores agora e no futuro a ver o reinado de Elizabeth I com uma compreensão nova e mais rica", afirma, por fim, o principal curador de Manuscritos Históricos e Literários Medievais na Biblioteca Britânica, Julian Harrison.