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Notícias / Boate Kiss

Boate Kiss: alguns pais discordam com série da Netflix sobre incêndio

Neste domingo, 29, associação de vítimas do incêndio divulgou nota se opondo a familiares que não apoiam série; confira!

Éric Moreira sob supervisão de Giovanna Gomes Publicado em 30/01/2023, às 08h06

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Cena de 'Todo Dia a Mesma Noite', nova série da Netflix sobre incêndio da Boate Kiss - Reprodução/Netflix
Cena de 'Todo Dia a Mesma Noite', nova série da Netflix sobre incêndio da Boate Kiss - Reprodução/Netflix

No último domingo, 29, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia de Santa Maria comunicou em nota que, sim, se sente "representada" por série produzida pela Netflix sobre incêndio na Boate Kiss e pelo livro homônimo que a inspirou— 'Todo Dia a Mesma Noite', de Daniela Arbex. O posicionamento, porém, foi também uma resposta a pais descontentes com a produção que não concordam com o lucro em cima da história.

No texto, que foi publicado nas redes sociais e assinado pelo presidente da associação, Gabriel Rovadoschi Barros, é informado que os familiares de vítimas estavam "cientes que a produção estava sendo realizada com base nos personagens do livro" e que "sente-se representada" pela série da Netflix, conforme informado pelo site GZH.

Além disso, também explica que 'Todo Dia a Mesma Noite' não é um retrato "de forma individual os 242 jovens assassinados, mas sim um recorte das quatro famílias de pais que foram processados. Todos familiares de vítimas e sobreviventes retratados por personagens da obra estavam cientes e em concordância", reitera. No caso, as famílias retratadas são de pais que foram processados pelo Ministério Público após criticarem a atuação deles sobre incêndio.

Por fim, a associação ainda afirma que não está movendo qualquer processo contra a Netflix, e nem pretende fazê-lo, pois acredita "na potência das produções na luta por justiça e a luta por memória". Em contrapartida, alguns pais de vítimas do incêndio, como o empresário Eriton Luiz Tonetto Lopes, que perdeu uma filha de 19 anos na tragédia, afirma que outro grupo de pessoas também relacionadas à história não concorda com a série por não apoiarem o lucro com a tragédia.

Queremos entender quem autorizou, quem foi avisado, porque muitos de nós não fomos. Há pais passando mal por causa da série. O mínimo que exigimos agora é que uma parte do lucro seja repassada para tratamento de sobreviventes e para a construção do memorial da Kiss. Nós não queremos nenhum dinheiro para nós", disse Eriton, de acordo com reportagem publicada no sábado, 28, pelo GZH.

Nota na íntegra

Confira a seguir, na íntegra, a nota publicada pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia de Santa Maria:

"Perante a divulgação em inúmeros veículos da imprensa acerca de um processo contra a empresa Netflix em função da série 'Todo Dia a Mesma Noite', a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia de Santa Maria esclarece através desta nota que estávamos, sim, cientes que a produção estava sendo realizada com base nos personagens do livro 'Todo Dia a Mesma Noite: a História Não Contada da Boate Kiss', de Daniela Arbex, e sente-se representada por ela bem como pelo livro da autora.

A produção não retrata de forma individual os 242 jovens assassinados, mas sim um recorte das quatro famílias de pais que foram processados. Todos familiares de vítimas e sobreviventes retratados por personagens da obra estavam cientes e em concordância. Além disso, reiteramos que não estamos movendo nenhum processo contra as produções, nem pretendemos, por acreditarmos na potência das produções na luta por justiça e a luta por memória.

Acreditamos, acima de tudo, que tragédias como a que vivenciamos precisam ser contadas através de todas as formas. Recontar essa história significa denunciar as inúmeras negligências e tentativas de silenciamento que encontramos pelo caminho, além de auxiliar na prevenção para que esse tipo de tragédia não aconteça com mais nenhuma família, algo que temos como propósito desde o primeiro dia de nossa fundação.

Mostrar o que aconteceu na Kiss faz com que a morte de nossos filhos e filhas, irmãos e irmãs, pais e mães, amigos e amigas não tenha sido em vão. Mostrar a morosidade, a burocracia e como é o sistema judiciário brasileiro serve como denúncia e como protesto. É preciso falar, debater, produzir materiais sobre o que aconteceu naquela trágica noite de 27 de janeiro de 2013, pois só assim conseguiremos que as pessoas entendam o que a ganância, a negligência e a omissão são capazes de fazer. Em Santa Maria, esses fatores mataram 242 jovens e deixaram 636 com marcas físicas e psicológicas.

Entendemos que rever a tragédia, principalmente nos dois primeiros episódios, pode mobilizar os sentimentos, as lembranças e dimensionar a impunidade em sua ferocidade e, com isso, a associação se disponibiliza a acolher e a promover ações para comporem o movimento por Justiça.

Por fim, esclarecemos que desde o dia 27 de janeiro de 2013, nós sofremos com a perda irremediável de nossos filhos, irmãos e amigos, sabemos o quanto isso nos dói. Não há nenhum valor sendo pago a nós com a produção, e o que ganhamos é a crença no fortalecimento na luta por justiça e pela memória. Para que não se repita.

Santa Maria, 29 de janeiro de 2023."