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Notícias / Anne Frank

Empresa de bondes que transportou Anne Frank pediu reembolso por viagens

Empresa holandesa de bondes que transportou 63 mil judeus para campos de concentração tentou recuperar dinheiro pelas centenas de viagens

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 06/03/2024, às 10h31 - Atualizado em 07/03/2024, às 18h14

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Anne Frank na escola, por volta de 1940 - Wikimedia Commons
Anne Frank na escola, por volta de 1940 - Wikimedia Commons

A Empresa de Transporte do Município de Amsterdã (GVB na sigla em holandês), que opera serviços de metrô, bonde, ônibus e balsa na capital da Holanda, transportou dezenas de milhares de judeus para campos de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial

Segundo o The Telegraph, a GVB foi responsável pela deportação, via bonde, de 63.000 judeus, incluindo Anne Frank. Para cada bonde, a Gestapo pagava à companhia 10 florins (ou 12,50 por viagens noturnas). 

Embora a empresa enviasse faturas mensais, nem todas foram pagas quando a Holanda foi liberta, em maio de 1945. Mas, conforme revelado pelo cineasta Willy Lindwer e o escritor Guus Luijters no livro e documentário 'Verdwenen Stad' (ou 'Cidade Desaparecida' em tradução livre), documentos apontam que a GVB enviou pedidos de reembolso até 1947; ou seja, dois anos após o fim do conflito. 

Em 1944, após ouvir a BBC anunciar o desembarque do Dia D, a GVB escreveu em nota: "Será que este ano, 1944, nos trará a vitória? Ainda não sabemos… Mas onde há esperança, há vida. Isso nos enche de coragem renovada e nos torna fortes novamente".

Apesar do Desembarque na Normandia ser um passo importante para o fim do conflito, apenas dois meses depois, em 4 de agosto, Anne Frank e sua família — assim como quatro outros judeus — foram encontrados no Anexo Secreto e deportados para Auschwitz. 

Uma fatura da GVB referente às últimas 900 viagens de bonde datadas de 8 de agosto de 1944 mostrou que Anne Frank e sua família foram transportadas da Estação Central de Amsterdã. A jovem foi enviada para o campo de Bergen-Belsen em novembro daquele ano. 

Ela morreu de tifo em fevereiro de 1945, dias após sua irmã, Margot. Edith, mãe delas, faleceu em janeiro daquele ano, separada das filhas em Auschwitz. Já Otto foi o único a sobreviver e responsável por publicar O Diário de Anne Frank em 1947. 

+ Há 76 anos, era publicado 'O Diário de Anne Frank'

Resposta da GVB

Na última segunda-feira, 5, em seu site oficial, a GVB publicou uma nota em resposta aos pontos levantados pelo livro 'Cidade Desaparecida'. Confira abaixo na íntegra!

O convincente livro 'Cidade Desaparecida' sobre como a população judaica foi transportada de Amsterdã via bonde, no qual os autores e fabricantes indicam o papel que o Gemeentetram Amsterdam (Bonde municipal Amsterdã) desempenhou na Segunda Guerra Mundial, incluindo o envio de faturas, enche-nos de horror. Veremos o documentário durante a estreia na segunda-feira.

A história do Gemeentetram Amsterdam está intimamente ligada à história do município de Amsterdã. Afinal, a empresa de bondes pertenceu a GVB até 2006.

Temos plena consciência de que este terrível episódio da história da nossa cidade ainda dói muito. Que ainda há muita tristeza e raiva entre os sobreviventes do Holocausto e parentes dos judeus holandeses assassinados. 

O papel da empresa municipal de transportes enquanto departamento do município de Amsterdã deve, portanto, ser cuidadosamente examinado, porque percebemos que o passado dos transportes públicos em Amsterdã está incompleto até que todos os fatos e circunstâncias tenham sido examinados e estabelecidos no contexto.

O livro e o documentário antecipam a extensa pesquisa do NIOD (Institute for War, Holocaust and Genocide Studies), que começou em 2020 em nome do município e investiga o papel do município de Amsterdã — e dos seus departamentos — durante a Segunda Guerra Mundial. 

Não é sem razão que o NIOD enfatizou no estudo preliminar que não é desejável estudar a empresa municipal de transportes como um serviço separado porque, é claro, ela não funcionava como uma organização independente, mas fazia parte de um aparelho municipal que também foi usado de outras maneiras, como na exclusão dos judeus. 

Não podemos enfatizar o suficiente o quão terrível é que isto aconteceu e é bom que um livro e um documentário tenham sido feitos sobre isto. A investigação do NIOD deve agora ser concluída rapidamente, mas com cuidado. Congratulamo-nos com todos os fatos apresentados. Juntamente com o município, entraremos em discussões com a representação da comunidade judaica em Amsterdã.