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Notícias / Arqueologia

Estudo de joias de ossos de preguiça gigante pode desvendar mistério científico

As peças foram encontradas no Mato Grosso e desde 1930 o assunto vem sendo debatido na comunidade científica

Redação Publicado em 25/09/2023, às 15h47 - Atualizado às 20h41

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Representação de uma antiga preguiça gigante - Divulgação/YouTube/M.V.M SUPER
Representação de uma antiga preguiça gigante - Divulgação/YouTube/M.V.M SUPER

O mistério da ocupação humana nas Américas tem sido objeto de debates acalorados entre cientistas ao longo das décadas. Durante a década de 1930, a descoberta de pontas afiadas feitas de sílex no Novo México, Estados Unidos, foi considerada a evidência mais antiga da presença de seres humanos na região. Ao The Conversation Brasil, as autoras do estudo, Mírian Liza Alves Forancelli Pacheco, Briana Pobiner e Thais Rabito Pansani, explicaram sobre o que se tratava o estudo.

Essas pontas foram associadas à chamada "cultura Clóvis", que teria chegado ao continente americano cruzando uma ponte terrestre que se formou no antigo Estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca, cerca de 13 mil anos atrás, durante o Último Máximo Glacial, popularmente conhecido como "Idade do Gelo".

 No entanto, a hipótese conhecida como "Clóvis-first" começou a ser questionada na década de 1990, quando estudos realizados no sítio arqueológico de Monte Verde, no Chile, sugeriram a presença humana nas Américas entre 14,5 mil e 18 mil anos atrás, ao longo da costa do Pacífico. A partir de 2020, novas descobertas em Chiquihuite, no México, e White Sands, no Novo México, indicaram que os seres humanos podem ter chegado ao continente americano antes do Último Máximo Glacial, entre 26 mil e 19 mil anos atrás.

Abrigo de Santa Elina

Esses achados reavivaram o interesse em sítios antigos das Américas, incluindo o Abrigo de Santa Elina, localizado na Serra das Araras, próximo a Jangada, Mato Grosso. O local, escavado por cerca de 30 anos a partir de 1983 por uma equipe franco-brasileira liderada pela arqueóloga Águeda Vialou, do Museu Nacional de História Natural de Paris, possui uma rica coleção de materiais arqueológicos e pinturas rupestres.

Este sítio apresentou achados que datam de 27 mil anos atrás, incluindo três osteodermos modificados de uma preguiça terrícola gigante (Glossotherium phoenesis), possivelmente utilizados como pingentes ou adornos. Esses objetos revelam que os ocupantes de Santa Elina valorizavam esses artefatos há muito tempo, embora seu significado preciso permaneça desconhecido.

A pesquisa também identificou evidências de intervenção humana nos osteodermos, incluindo polimento, alterações de forma e perfurações, além de marcas de uso. As técnicas avançadas de imagem e análise permitiram detectar marcas de dentes de roedores contemporâneas às marcas de polimento, segundo a Galileu.

Colonização

Isso sugere que os ossos estavam frescos ou secos, mas não fossilizados, quando foram modificados. Embora os dados de biologia molecular indiquem que a diferenciação dos primeiros ameríndios ocorreu por volta de 20 mil anos atrás, com a colonização da América do Sul acontecendo há cerca de 15 mil anos, a evidência arqueológica fornece um quadro material do comportamento humano, mesmo na ausência de esqueletos associados aos achados.

Esses resultados reforçam a importância da ciência brasileira no cenário internacional e demonstram a capacidade de pesquisa no país, mesmo diante de desafios como a escassez de recursos e o reconhecimento limitado.