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Notícias / Ciência

O experimento científico que criou um bebê humano e um chimpanzé lado a lado

Em 1931, um casal de cientistas passou 9 meses dando a mesma criação para os bebês de diferentes espécies; seus resultados foram surpreendentes

Ingredi Brunato Publicado em 11/12/2023, às 17h37 - Atualizado em 15/12/2023, às 18h29

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Imagem do experimento científico - Divulgação/ Youtube
Imagem do experimento científico - Divulgação/ Youtube

Winthrop Niles Kellogg foi um pesquisador estadunidense de psicologia comparativa, que é um campo de estudo destinado à análise das diferenças comportamentais de diferentes seres vivos. 

O homem nutria grande curiosidade em relação à questão do quanto o ambiente moldava o comportamento de um animal. Se interessava, em particular, por casos de "crianças selvagens", por exemplo, que por algum motivo acabavam crescendo sem contato humano e criadas por outras espécies (como macacos, lobos ou cães).  

Seria antiético, entretanto, propositalmente largar um bebê na natureza a fim de estudar de perto a maneira como seu desenvolvimento seria impactado pela experiência. O experimento científico que Kellogg, de fato, acabou fazendo, por sua vez, invertia essa situação: ele criaria um chimpanzé como se fosse um humano. 

Kellogg em fotografia / Crédito: Wikimedia Commons 

Veja, a seguir, como o pesquisador explicou sua proposta, que foi repercutida pelo NPR:

 Suponhamos que um antropoide fosse levado para uma família humana típica no dia do nascimento e criado quando criança. Suponhamos que ele fosse alimentado com uma mamadeira, vestido, lavado, banhado, acariciado e recebesse um ambiente caracteristicamente humano; que se falava dele como se fosse uma criança humana desde o momento do parto; que ele teve uma mãe humana adotiva e um pai humano adotivo". 

O episódio 

O psicólogo decidiu colocar seu plano em prática após o nascimento de seu próprio filho, Donald, ao que adotou um chimpanzé fêmea chamada Gua. Eles foram unidos quando o primeiro tinha dez meses de vida, e a segunda sete meses e meio. 

Durante os próximos nove meses, os bebês de diferentes espécies receberiam a mesma criação. Para completar a tarefa em tempo integral, Kellogg contou com a ajuda de sua esposa: eles foram simultaneamente pais e cientistas, realizando diversos testes ao longo do tempo para avaliar o desenvolvimento das habilidades físicas e cognitivas do humano e do primata sob seus cuidados.

Vale apontar que o norte-americano relatou ter tido dificuldades para convencê-la inicialmente — uma reação compreensível, dada a estranheza da situação. 

Conforme informado pelo Smithsonian Magazine, algumas das categorias de avaliação eram "pressão arterial, memória, tamanho corporal, rabiscos, reflexos, percepção de profundidade, vocalização, locomoção, reações a cócegas, força, destreza manual, resolução de problemas, medos, equilíbrio, comportamento lúdico, escalada, obediência, agarramento, compreensão da linguagem, capacidade de atenção". 

Como esperado, Gua se destacou em relação a Donald no quesito habilidades motoras (como força e coordenação), mas também surpreendeu seus pais adotivos em muitos aspectos.

Ela aprendeu a andar ereta e calçar sapatos, dividia os brinquedos com seu irmão humano sem brigas (portanto, não desenvolveu o comportamento violento) e reagia de forma apropriada a diversas palavras e expressões diferentes usadas pelos adultos humanos com quem vivia.

Gua durante experimentos / Créditos: Divulgação/ Youtube 

Desfecho

A despeito dos esforços de Kellogs, no entanto, um chimpanzé simplesmente não é capaz de aprender a linguagem humana, de modo que, eventualmente, a primata acabou ficando para trás em relação ao bebê Homo Sapiens

Há limites definidos para o grau de humanização que pode ser alcançado pelas espécies não humanas, independentemente da quantidade de efeitos de socialização e humanização", concluiu o psicólogo em seu posterior artigo a respeito da experiência, repercutiu o site Edublox. 

O experimento científico chegou ao fim não apenas por conta da barreira cognitiva por parte de Gua, mas também devido aos temores do psicólogo norte-americano de que seu filho, Donald, pudesse ser prejudicado pela situação.

Como convivia muito com a primata, também imitava os sons que ela fazia, deixando seus pais preocupados com um possível atraso em suas habilidades linguísticas. 

A chimpanzé, assim, foi levada a um santuário — onde, infelizmente, acabou morrendo ainda jovem devido a uma pneumonia — e Donald Kellogs cresceu normalmente, sem ter retido as memórias da época em que viveu lado a lado com a primata.  

Abaixo, veja um vídeo mostrando imagens do experimento: