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Notícias / Guerra Fria

A sonda da União Soviética que foi 'sequestrada' durante 8 horas

Para descobrir os segredos da tecnologia espacial russa, agentes da CIA fizeram uma operação digna de filme de Hollywood

Redação Publicado em 19/02/2023, às 12h00 - Atualizado em 04/04/2023, às 18h00

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Fotografia mostrando a sonda Luna 1 em exposição - Divulgação/ CIA
Fotografia mostrando a sonda Luna 1 em exposição - Divulgação/ CIA

No ano de 1959, os Estados Unidos encaravam os desdobramentos da corrida espacial com a União Soviética. A nação comunista havia conseguido enviar o primeiro satélite artificial para espaço em 1957, o famoso Sputnik, que passou 22 dias fora da atmosfera terrestre, e a seguir ainda realizou a viagem tripulada pela cachorra Laika. 

Depois, os soviéticos voltaram seus esforços para a Lua através do programa espacial Lunik. A chamada sonda Luna 2, por exemplo, conseguiu pousar no satélite natural da Terra em 1959, enquanto a Luna 3 fez uma fotografia do lado escuro do corpo celeste (isso é, aquele que nunca está virado para nosso planeta). 

Lado escuro da Lua fotografado de forma inédita pelos russos / Crédito: Domínio Púlico 

Visando tentar ultrapassar essa vantagem inicial, todavia, o governo dos Estados Unidos estava disposto a tudo — incluindo uma complexa operação de espionagem para decifrar os segredos da tecnologia espacial desenvolvida sob o comando de Nikita Khrushchev.

A oportunidade

Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética embarcaram em uma disputa tecnológica e bélica a fim de provar a superioridade dos respectivos sistemas político-econômicos que representavam, o capitalismo e o socialismo, respectivamente. 

Em meio às crescentes tensões entre as duas potências, os russos realizaram uma caravana internacional exibindo os equipamentos produzidos para suas empreitadas espaciais.

Foi através desta demonstração de poder soviético, por sua vez, que a CIA (agência de inteligência interna dos EUA) viu sua oportunidade de entender o que seus inimigos estavam fazendo corretamente. 

A operação que se seguiu seria revelada apenas em 1995, quando documentos, até então confidenciais, descrevendo o episódio foram divulgados ao público pela entidade norte-americana, conforme relembrado por uma matéria da BBC.

Sequestro cinematográfico

O arquivo intitulado de "O sequestro de Lunik" revela que tudo começou quando dois espiões da CIA visitaram uma exposição da União Soviética, podendo assim visualizar em pessoa a imponente sonda inimiga. 

Após essa ocorrência, as autoridades de inteligência dos EUA teriam elaborado um intrincado plano digno de Hollywood para que o veículo espacial fosse investigado em mais detalhes pelos especialistas. 

Para que essa análise ocorresse, os profissionais precisariam de várias horas sozinhos com a tecnologia: ou seja, se tratava de um sequestro de grande escala que devia permanecer em segredo, ainda que estivesse ocorrendo bem embaixo do nariz dos soviéticos. 

O plano norte-americano foi colocado em prática durante uma das mudanças de localização da caravana da União Soviética. Os equipamentos exibidos eram transportados em um comboio de caminhões.

A infiltração por agentes da CIA, dessa forma, se deu através da tomada de controle do veículo que carregava Luna — ele foi parado por funcionários disfarçados e teve seu motorista temporariamente dispensado.  

O condutor original foi escoltado a um quarto de hotel, onde passou a noite. O caminhão foi rapidamente conduzido (com um novo motorista) a um depósito que havia sido alugado para a ocasião", descreveram os documentos. 

Após esperarem algum tempo para terem certeza que os russos não haviam percebido que a caravana estava sendo alvo de uma operação de espionagem, os oficiais chamaram uma equipe formada por quatro cientistas para o armazém. 

O quarteto passaria as 8 horas seguintes desmontando as peças da sonda Luna e montando-as novamente para que ficassem como estavam antes. Outro detalhe relevante é que eles fizeram isso enquanto estavam do lado de dentro da máquina, de maneira que primeiro precisaram desaparafusar seu teto. 

Apesar de arriscado, o plano funcionou, com os norte-americanos sendo capazes de realizar todo seu trabalho sem serem pegos. Eles foram embora às 4h da manhã, e no dia seguinte, quando o comboio voltou a seguir viagem, o condutor original assumiu de novo a direção do caminhão que transportava a sonda soviética. 

Até o dia de hoje não há indício algum de que os soviéticos tenham ficado cientes de que a Lunik foi tomada emprestada por uma noite", concluiu a CIA no arquivo de 1995, ainda segundo repercutido pelo G1. 

Sucesso 

Modelo de Luna desenhado pela CIA / Crédito: Divulgação/ CIA

A despeito de todos os riscos, a empreitada estadunidense foi um sucesso. Graças ao sequestro da tecnologia russa, eles puderam descobrir as medidas e peso de diversas peças diferentes da sonda, um conhecimento que se provaria valioso à NASA, ajudando a agência espacial governamental a ultrapassar aquela vantagem inicial da União Soviética. 

No fim, a corrida espacial deu grande destaque para os Estados Unidos, que apresentou uma conquista histórica no mês de julho de 1969, em que a missão Apollo 11 pousou na superfície da Lua.