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Matérias / Personagem

95% do corpo queimado: O cruel assassinato do líder indígena Galdino

Em 1997, o cacique pataxó foi vítima de cinco jovens da alta sociedade brasileira, que atearam fogo no homem enquanto ele dormia

Isabela Barreiros Publicado em 18/03/2020, às 13h52

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O líder pataxó Galdino - Divulgação/TV Globo
O líder pataxó Galdino - Divulgação/TV Globo

Muitos povos indígenas sofrem frequentemente devido ao problema de terras no Brasil. O conflito entre fazendeiros e esses grupos é sangrento, e dura desde o “descobrimento” do continente até os dias de hoje, cada de dia de maneira mais intensificada. A luta dessas pessoas por demarcação de seus territórios é constante, e muitos já morreram batalhando para que tal medida fosse tomada.

O movimento indígena possui lideranças muito fortes — e Galdino Jesus dos Santos era um desses. O cacique, líder da etnia pataxó-hã-hã-hãe, havia ido até Brasília para defender seus posicionamentos e discutir questões relacionadas à demarcação de terras no sul do estado da Bahia. Sua viagem até a capital brasileira tinha como intuito tratar da recuperação da Terra Indígena Caramuru-Paraguaçu. O conflito travado na região com grandes fazendeiros já havia causado a morte de muitos indígenas.

Galdino chegou a Brasília no dia 19 de abril de 1997, mas não voltaria a sua terra natal. Já no dia seguinte de sua chegada, a liderança indígena foi vítima de um brutal ataque, ordenado por cinco jovens de classe alta filhos de importantes funcionários públicos do país. O crime chocou — e ainda choca — por tamanha violência.

Capa da edição do jornal Correio Braziliense sobre o crime / Crédito: Divulgação

No dia 19, o cacique estava fazendo negociações com a Fundação Nacional do Índio (Funai), sendo ele mesmo o porta-voz da luta dos pataxós. Manifestações políticas e comemorações ainda estavam sendo realizadas em Brasília devido ao feriado do Dia do Índio, data que também fez com que ele fosse até a capital debater tais questões. Além disso, também esteve em reunião com o então presidente do país, Fernando Henrique Cardoso, e outras autoridades políticas para tratar de suas reivindicações.

No entanto, ao voltar tarde do evento, o pataxó foi impedido de entrar na pensão em que estava hospedado, devido às regras de convivência do estabelecimento. Decidiu, então passar a noite no banco da parada de ônibus da 704 Sul, no bairro central da cidade, W3 Sul. E isso lhe custou sua vida.

Na madrugada do dia 19 para o 20, Max Rogério Alves, Antonio Novely Vilanova, Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves Oliveira e Gutemberg Nader Almeida Junior observaram o homem dormindo no ponto de ônibus e decidiram, segundo o delegado Valmir Alves de Carvalho, da 1ªDP (Delegacia de Polícia), entrevistado na edição da Folha de S. Paulo da época, atear fogo no cacique “por divertimento”.

O processo judicial do caso afirmava que os cinco jovens da alta sociedade teriam passado pelo local em que Galdino estava dormindo, voltado para comprar dois litros de combustível em um posto de gasolina próximo, e ateado fogo no pataxó. Eron e Guetmberg teriam derramado o líquido inflamável no homem e os outros teriam acendido os fósforos, que foram jogados na vítima. Depois de cometerem o crime, abandonaram rapidamente o local em um veículo dirigido por um deles.

Aos 44 anos, o líder indígena teve 95% de seu corpo queimado. O fogo não atingiu apenas a parte de trás de sua cabeça e a sola de seus pés. Devido a tal brutalidade, não conseguiu sobreviver, morrendo apenas algumas horas depois de ter sido levado ao hospital.

Hoje, o local do crime abriga homenagens e manifestações indígenas / Crédito: WIkimedia Commons

O julgamento aconteceu apenas quatro anos depois. Os assassinos alegaram em defesa que eles tinham como intuito fazer uma “brincadeira” e “dar um susto” em Galdino, para que ele corresse atrás deles. Disseram também que acreditavam que o homem era, na verdade, um mendigo, e por isso teriam executado tal ato. Naquele ano, em 2001, foram condenados a 14 anos de prisão em regime fechado, por homicídio qualificado.

Mas nada disso foi cumprido. Já no ano seguinte, em 2004, quatro dos cinco jovens conseguiram direito à liberdade condicional, passando o resto de suas penas fora da prisão. Enfrentavam apenas pequenas restrições. Como era menor de idade, Gutemberg foi levado para o o centro de reabilitação juvenil do Distrito Federal. G.N.A.J. Segundo a pena imposta, deveria cumprir um ano de reclusão, mas foi liberado apenas quatro meses depois.

Hoje, todos exercem cargos em órgãos de administração pública, tendo passado por concursos públicos. O ponto de ônibus onde Galdino foi assassinado brutalmente tornou-se a Praça do Compromisso, e, desde então até atualmente, o principal local de manifestações por demandas dos povos indígenas em Brasília.


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