Filme 'Ammonite', de 2020, que retrata uma figura história real, foi incluído recentemente no catálogo brasileiro da Netflix; entenda!
Redação Publicado em 07/03/2024, às 16h00
Neste mês, estreou no catálogo nacional da Netflix o filme biográfico Ammonite, lançado em 2020, que reconta a história de Mary Anning, uma paleontóloga britânica responsável por importantes contribuições à área durante o século 19.
A ela são creditadas as descobertas de diversos fósseis do período jurássico em meio aos recifes de Lyme Regis, uma cidade costeira da Inglaterra. Na produção, a personagem é vivida por Kate Winslet.
Outras figuras importantes no longa-metragem são o geólogo escocês Roderick Murchison (estrelado por James McArdle) e sua esposa, Charlotte Murchison (interpretada por Saoirse Ronan), que viveram com Anning durante um período.
Roderick, em particular, marcou a História ao se tornar o primeiro a descrever vestígios do período siluriano, além de ter integrado a Sociedade Geológica de Londres durante vários anos.
Seu interesse era compartilhado por sua esposa, Charlotte, que aprendeu a caçar fósseis com Mary Anning, e, no filme "Ammonite", vive um romance proibido com a mulher mais velha.
O filme, em alta entre os assinantes brasileiros, desperta uma dúvida relevante: existem documentos que sugerem que o relacionamento aconteceu, ou se trata de um floreio adicionado por Hollywood?
Embora os Murchison tenham realmente morado com Anning, e muito provavelmente criado uma relação de amizade que acabou contribuindo positivamente para o avanço do estudo dos fósseis, não existem evidências que indicam que a relação da paleontóloga britânica com Charlotte tenha ido além da amizade.
Além disso, não existem relatos que mostram que ela seria lésbica. A vida amorosa da paleontóloga não foi amplamente detalhada por estudiosos.
Mais de um descendente de Anning, aliás, se manifestou desde o lançamento do filme a respeito das liberdades criativas tomadas por seu diretor, Francis Lee, que é um homem queer.
"Será que os cineastas têm que recorrer a aspectos não confirmados da sexualidade de alguém para tornar sensacional uma história já notável? Imagine a vergonha e o constrangimento que esta mulher sentiria agora ao ter sua vida sexual privada discutida e exibida na tela. Isso não acrescenta nada à história dela", afirmou Barbara Anning, conforme repercutido pelo The Telegraph.
Já Lorraine Anning, outra descendente da paleontóloga, não viu problema com a inclusão do romance lésbico no filme: "Para ser honesta, não importa: desde que seja bem apresentado e feito com bom gosto e no espírito de Mary Anning, então acho que é brilhante", opinou ela.
Críticos de cinema e o público também ficaram com opiniões dividas em relação à produção antes mesmo da estreia. Em resposta, Francis usou sua conta pessoal no X (então chamado de Twitter), em 2019, para argumentar que realizou uma interpretação do que sabemos sobre Anning.
Depois de ver a história queer ser rotineiramente tornada mais hétero através de toda a cultura e parar para considerar uma figura histórica onde há nenhuma evidência de relacionamento heterossexual, não é permitido ver essa pessoa dentro de outro contexto?", apontou.
Já à revista Esquire, o diretor explicou seu processo de decisão para, em Ammonite, fazer a personagem desenvolver um romance com uma mulher, e não com um homem:
"Parecia uma forma de elevá-la e dar-lhe o respeito que ela deveria ter na época. Por que eu daria a ela um homem com quem se relacionar, quando o patriarcado da época a havia marginalizado e tirado sua voz? Eu queria que ela estivesse com alguém a quem ela pudesse ser igual. Então, parecia que [o caso de amor] não poderia ser com um homem. Achei que seria errado", discorreu ele.
