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Matérias / Salvador Cabanãs

Baleado em uma boate: Como está Salvador Cabañas?

Principal jogador de sua geração, atacante paraguaio foi baleado em 2010. O que aconteceu com Salvador Cabañas?

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 08/04/2023, às 11h26 - Atualizado às 21h03

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Salvador Cabañas em ação pelo América do México - Getty Images
Salvador Cabañas em ação pelo América do México - Getty Images

Artilheiro da Taça Libertadores de 2007, sendo carrasco de clubes brasileiros, Salvador Cabañas Ortega ajudou a seleção paraguaia a ser terceira colocada nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010. 

Herói nacional e ídolo do América do México, o atacante chegou a ter uma média de um gol por jogo enquanto defendeu as corres de Las Águilas. Cabañas era aquele típico jogador marrento que você adora ter no seu time, mas odeia enfrentá-lo. 

Aos 29 anos, era o principal nome de sua geração. Recebendo 2,5 milhões de dólares por temporada, chegou a assinar um pré-contrato com o Manchester United, da Inglaterra. Mas sua vida mudou para sempre na madrugada de 25 de janeiro de 2010

Adversário implacável 

Ao lado de sua esposa Maria Lorgia e seu cunhado Amancio Rojas, Salvador Cabañas visitava a Cidade do México quando decidiu aproveitar a vida noturna. O trio, então, decidiu passar a noite no Bar Bar, onde chegou ainda em 24 de janeiro. 

A boate mexicana é uma atração de renome e considerada exclusiva na cidade. Segundo repercute a ESPN, nomes como Madonna, Bon Jovi e Diego Armando Maradona já fizeram parte das 'atrações' que passaram por lá. Mas nenhuma passagem seria tão inesquecível quanto a de Cabañas

Com uma noite regada a muito uísque, sua bebida favorita, o atleta seguia um roteiro tranquilo. Mas tudo mudou quando ele se deslocou até o banheiro. O dia já havia virado quando o atacante do América do México se envolveu em uma discussão com José Jorge Balderas

Sempre provocativo dentro das quatro linhas, Cabanãs levava um temperamento forte para fora dos gramados. Embora os ânimos tenham se exaltado, ainda mais depois que Balderas sacou uma pistola, Salvador Cabañas o provocou:"Aperte o gatilho!"

Uma bala, calibre 38, se alojou dentro do lóbulo esquerdo do cérebro de Cabañas, só parando ao chegar na parte de trás de sua cabeça. O herói paraguaio estava no chão e jamais foi capaz de se reerguer novamente. Não com a dureza que sempre teve. 

Ainda consciente, Salvador Cabañas foi levado do chão do Bar Bar até o Hospital Angeles Pedregal. "Vamos passar por tudo isso", prometeu, segundo relatado por sua esposa Maria Lorgia

Quando chegou no centro médico, o artilheiro fora colocado em coma induzido. Um dia após sua entrada, o neurocirurgião Ernesto Martinez Duhart descartou mover a bala do cérebro do paraguaio. Aquela seria uma marca que Cabañas carregaria para o resto da vida. 

Naquele momento, o Paraguai e parte do México se uniram em uma corrente de fé. Os gritos das torcidas fanáticas deram espaço ao silêncio da oração. Cabanãs precisaria de um milagre. 

Mas, em nenhum momento, ele deixou de acreditar. Sua história de vida lhe fazia ter esperança. Afinal, quem diria que um jovem oriundo de uma família pobre do interior do Paraguai poderia ter o sucesso que teve? Cabañas não só virou ídolo de um dos maiores times do continente, mas também permitiu que seu país sonhasse com um resultado marcante na Copa do Mundo

Cabañas pela seleção paraguaia/ Crédito: Getty Images

Sete horas depois, o procedimento havia sido realizado com sucesso. O fim daquela sinuosa jornada acabou 37 dias depois, quando Salvador Cabañas deixou o hospital e foi transportado para uma clínica de reabilitação, ainda na Cidade do México

Seus adversários mais árduos ainda estavam por vir. Mas, Cabañas estava preparado, como sempre foi. Em 21 de março, chegou à Buenos Aires para receber terapia cognitiva. Cerca de dois meses depois, voltou a solo paraguaio com uma promessa: retornar aos gramados

Além das quatro linhas

O episódio mudou sua vida para sempre. Salvador Cabañas jamais conseguiu voltar aos gramados com o nível que tinha. Se bem que ele tentou. Além disso, também viu toda sua trajetória ser deixada de lado ao surgir as disputas por suas finanças. 

Segundo a ESPN, o atacante paraguaio recebia cerca de 2,5 milhões de dólares por temporada quando o tiroteio mudou sua vida. O cunhado de Cabañas afirma que o atacante teria, inclusive, um pré-acordo assinado com o Manchester United para a temporada seguinte. 

Se é verdade ou não, o fato é que os Red Devils anunciaram a contratação de Chicharito Hernandéz semanas depois da tragédia. O atacante mexicano era destaque do Chivas, maior rival do América do México

É certo dizer que, naquele ano, Cabañas estava em seu auge como atleta. Aos 29 anos, havia ajudado a seleção paraguaia a se classificar como terceira colocada nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010

Por conta disso, o camisa 10 era peça fundamental no esquema tático de Tata Martino. "Tata costumava dizer: 'Eu juntei a equipe e encaixei Salvador [Cabañas] como a peça final',", apontou Justo Villar, ex-goleiro da seleção do Paraguai. 

Salvador Cabañas após sua recuperação/ Crédito: Video/FifaTV

De fato, apesar da ausência de Cabañas, a seleção paraguaia chegou até às quartas de final do torneio, perdendo para a Espanha por 1x0. Os espanhóis, aliás, foram campeões do mundo pela primeira vez na ocasião. Já os sul-americanos tiveram que se contentar com o melhor resultado obtido por eles em um mundial. Mas será que eles poderiam mais?  

Ninguém jamais saberá o que teria acontecido na Copa do Mundo porque éramos fortes, e ele era um fator importante que perdemos", continua Villar

Dinheiro, o adversário 

Vencedor do prêmio de melhor jogador sul-americano em 2007, as únicas lembranças que Cabañas tem de seus tempos de jogador estão reunidas dentro da casa de sua família, em Itauguá — que fica a cerca de uma hora de carro da capital Assunção. 

Lá estão os troféus conquistados pelo atacante e também um objeto um tanto quanto simbólico: uma jaqueta militar do século 19. A peça, recorda a ESPN, foi usada pelo atacante para um comercial filmado pouco antes da Copa do Mundo de 2010. 

Com a roupa, Cabañas deu vida a "El Mariscal", apelido de Francisco Solano Lopez, general visto como herói no país por seu papel na Guerra da Tripla Aliança, ocorrida entre 1864 e 1870, que envolveu ainda Brasil, Argentina e Uruguai.

Mas a realidade, com o passar dos anos, foi bem diferente. Em 2014, uma reportagem da chocou o mundo com a manchete: "Salvador Cabañas: tiro na cabeça, sem dinheiro e trabalhando na padaria"

O artigo mostrava Cabañas trabalhando em uma padaria para ajudar com os gastos em casa. A família nega a versão, dizendo que o ex-atleta ajudou informalmente seu pai a entregar pães e doces por Itauguá durante algum tempo. 

A vida financeira de Cabañas, aliás, ganhou as discussões midiáticas depois que o atleta foi forçado a se aposentar. Após o tiroteio, Salvador não só se separou de Maria Lorgia como também teve uma discussão com seu ex-empresário, José María Gonzalez

A família também lutou para receber dinheiro do América do México e contra autoridades fiscais. As autoridades eram mais difíceis de se driblar do que os zagueiros adversários. 

Além disso, a ex-esposa de Salvador alega que sua família passou a manipulá-lo após o acidente. Lorgia sugere que os parentes do atacante lhe negaram medicamentos que pudessem o ajudar a tomar decisões. Assim ficaria mais fácil de controlá-lo. 

A ex-esposa do atacante também disse que seus familiares passaram a tratar o episódio de sobrevivência como uma intervenção divina. Com isso, passaram receber pessoas que queriam orar em um santuário dentro da casa em troca de doações em dinheiro. Para encerrar as acusações, repercute a ESPN, Maria Lorgia também diz que Cabañas teve casos extraconjugais enquanto eles ainda estavam casados. 

Por outro lado, Cabañas rebate a ex-esposa e a acusa de roubá-lo, apesar dos dois terem sido vistos juntos, após isso, em uma festa de aniversário de um de seus filhos — o casal tem os filhos Santiago e Mia Ivonne. Já em 2016, ela ganhou os noticiários ao ser vista trabalhando em uma casa de câmbio, em Assunção. 

Minha família está pobre", disse Dionísio Cabañas, pai do ex-atacante. "Salvador era nossos único suporte e nós despencamos economicamente. Foi isso que aconteceu."

Atualmente, quem administra as finanças da família é Rojas, cunhado de Cabañas, portanto, marido de sua irmã Mabel. Agindo como o guardião de qualquer assunto relacionado ao ex-atleta, ele possui a confiança total da família para tratar de questões financeiros e até mesmo gerir pedidos de entrevista. Sobre os assuntos relacionados a ex-esposa do craque, ele é curto e direto ao diz quer que: "Tudo está bem agora."

Sobre a parte financeira, aponta que a situação é melhor do que aparenta ser, dizendo que Cabañas possui um complexo esportivo perto de Assunção. A família também teria mais fundos do que as aparências sugerem. "Ele ganhou muito dinheiro e graças a Deus guardou uma boa parte", explicou sem entrar em detalhes. 

Nos últimos anos, Salvador Cabañas se aventurou como auxiliar técnico do Aquidabán, clube da segunda divisão da Liga de Itauguá. Rojas espera que o cunhado possa ainda ter um futuro dentro do futebol. Como treinador, quem sabe? 

Dos gramados, Salvador Cabañas parece ter levado a frase que lhe acompanhou em pôsteres de seus tempos de América do México: "Ser grande é não permitir que nada te vença."