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Matérias / Bruxas

Caça às bruxas na Espanha matou mais de 700 mulheres

Séculos atrás, muitas mulheres eram julgadas como bruxas e mortas por isso; confira a seguir parte da história das bruxas da Espanha!

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 13/11/2022, às 14h00

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'El Aquelarre', quadro do pintor espanhol Francisco de Goya que retrata bruxas - Foto por Museo Lázaro Galdiano pelo Wikimedia Commons
'El Aquelarre', quadro do pintor espanhol Francisco de Goya que retrata bruxas - Foto por Museo Lázaro Galdiano pelo Wikimedia Commons

No passado, muitas mulheres sofriam em diversos lugares do mundo — mais especificamente, nas regiões em que o cristianismo era a religião dominante —, como alguns países europeus e na América do Norte, por serem acusadas de praticar bruxaria. A prática — que muitas vezes se limitava a fatores simples, como fazer remédios caseiros —, como era associada a alguma relação com entidades malignas, era abominada pelas instituições religiosas e, por isso, muitas dessas mulheres eram mortas.

Um dos casos mais emblemáticos do movimento de caça às bruxas foi o das 'Bruxas de Salém', cidade da costa norte de Massachusetts, nos Estados Unidos, em que mais de duzentas pessoas foram acusadas de praticarem bruxaria. Porém, ela passa longe de ter sido a busca mais sangrenta da história.

Ilustração fantasiosa de julgamento de mulher acusada de bruxaria em Salém
Ilustração fantasiosa de julgamento de mulher acusada de bruxaria em Salém / Crédito: Foto por Library of Congress's Prints and Photographs division pelo Wikimedia Commons

Na Espanha, durante cerca de três séculos, pelo menos 700 mulheres foram mortas, acusadas de praticarem bruxaria — nesse caso, as buscas surgiram após banalidades como morte de gado, provavelmente por alguma doença, colheitas ruins ou chuvas de granizo. Todo esse sangrento processo se iniciou em 1424, quando a Catalunha promulgou a primeira lei da Europa proibindo a feitiçaria.

Julgamentos

A Catalunha foi um centro de julgamentos de feitiçaria na Europa por mais de 300 anos, no total. O analfabetismo generalizado da região e da época, e a história de relativa autonomia da região em relação à autoridade central — localizada em Madri, muito distante — a sujeitava, assim, aos caprichos dos senhores feudais.

Porém, com o tempo, os arquivos desses julgamentos foram simplesmente esquecidos, e o número de pessoas — não somente mulheres eram acusadas de feitiçaria, mas apenas uma grande maioria — mortas no processo de 'caça às bruxas' se tornou incerto. Isso até que um estudante de pós-graduação da Universidade de Barcelona chamado Pau Castell fez uma descoberta nos arquivos de uma vila nas montanhas perto da fronteira francesa.

Pau Castell, atual professor e responsável pelas pesquisas sobre as bruxas na Catalunha
Pau Castell, atual professor e responsável pelas pesquisas sobre as bruxas na Catalunha / Crédito: Reprodução/Vídeo/YouTube/Universitat de Barcelona

Enquanto pesquisava os papéis das mulheres na Catalunha, Castell estava folheando um arquivo em um castelo em Sort quando se deparou com um relato de 1548 sobre um servo culpado pelos vizinhos por uma onda de mortes infantis inexplicáveis ​​e falhas nas colheitas. Sob tortura, o homem incriminou seu mestre, outro homem e duas mulheres — tendo os dois homens sido enforcados, possivelmente junto de uma das mulheres.

Após a descoberta, Castell decidiu redefinir suas pesquisas e, com o tempo, acumulou diversas histórias e compilou um banco de dados digital sobre julgamentos de feitiçaria, incluindo os nomes dos acusados, as datas de seus julgamentos e os veredictos.

Com isso, o pesquisador instigou uma votação no Parlamento catalão em janeiro do ano passado, para conceder indultos póstumos às aproximadamente 700 bruxas que foram executadas.

Sistema de tortura

Apesar de o movimento de caça às bruxas ter sido extremamente cruel, o sistema sob o qual ele funcionava era altamente regulamentado, de acordo com a pesquisa de Castell, como informado pela revista Smithsonian. Os tribunais emitiram memorandos estipulando métodos de tortura aprovados e exigiu uma extensa manutenção de registros.

Os notários foram corretos sobre as sessões de tortura", diz Castell. "Eles tomaram notas de tudo — os gritos, os silêncios, os murmúrios. Lembro-me de transcrever os autos pela primeira vez e, quando cheguei à tortura, tive que parar para pegar um cigarro e depois voltar."

Manuais legais proibiam as autoridades de torturar uma pessoa por mais de três longas sessões por três dias e consideravam inocente qualquer pessoa que resistisse tanto tempo sem confessar.

No entanto, mesmo assim essas leis eram constantemente quebradas, até que a Inquisição espanhola e o rei estenderam seu poder até o interior do reino e, em grande parte, puseram fim às perseguições na Catalunha em 1622.