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Matérias / Guerras

Da luta contra Napoleão ao tratado militar importante: a saga de Carl Von Clausewitz

Autor de “Da Guerra”, o prussiano não ficaria famoso por suas ações em campo

Beto Gomes Publicado em 16/11/2018, às 08h00 - Atualizado em 30/03/2021, às 14h56

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Carl Von Clausewitz em pintura - Wikimedia Commons
Carl Von Clausewitz em pintura - Wikimedia Commons

Grandes generais costumam entrar para a História pelo modo ousado como mudaram o rumo de uma batalha, pela inovação de suas técnicas e estratégias, pela dimensão de suas conquistas ou pela forma como impuseram sua força aos adversários.

Com o prussiano Carl Von Clausewitz, foi diferente. Ele lutou mais de uma vez contra as tropas de Napoleão, na Rússia e em Waterloo, e ajudou a reorganizar o Exército da Prússia no início do século 19.

Famosa pintura de Napoleão Bonaparte /Crédito: Wikimedia Commons

Tinha sólida experiência no campo de batalha e demonstrava frieza e coragem invejáveis no front. Mas, ironicamente, não ficou famoso por suas ações.

Estudioso, devorava livros como poucos. E foi ao escrever um deles, Da Guerra, que se tornou um dos comandantes mais conhecidos do Ocidente. Clausewitz era também uma figura curiosa.

Excessivamente tímido e bastante controverso, foi personagem secundário do romance Guerra e Paz, de Tolstoi. Alimentava um gosto especial por arte, ciência e educação.

Sua obra, considerada ainda hoje o mais importante tratado teórico-militar de todos os tempos, já foi lida ou citada por uma lista de pensadores, escritores e militares – como o Duque de Wellington, George Patton, Lenin, Hitler, Mao Tsé-tung, Dwight Eisenhower e Henry Kissinger, entre outros.

O gosto de Clausewitz pelas armas apareceu na infância. A carreira do general prussiano começou cedo, logo aos 12 anos, participando de seu primeiro combate um ano depois. Em 1795, aos 15, a guerra contra a França revolucionária levou o então cadete a uma reclusão de cinco anos, consumidos com a leitura sobre os mais diversos assuntos.

Ao sair, suas habilidades abriram-lhe portas rapidamente. Ingressou no Instituto para Jovens Oficiais de Berlim (que mais tarde faria parte da famosa Kriegsakademie, a academia de guerra alemã) e foi nomeado oficial-ajudante do príncipe Augusto da Prússia. Mas a mobilização do país para as guerras napoleônicas, a partir de 1806, afastaria Clausewitz da realeza e o levaria a uma distante jornada.

Mudança de farda

Naquele ano, o Exército prussiano ainda amargava os resultados das batalhas de Jena e Auerstadt. O país fora devastado pelo conflito e havia perdido metade de seu território.

A Prússia tornara-se apenas um satélite da França e um grupo de oficiais, incluindo Clausewitz, acreditava que só uma profunda reforma social e militar poderia recuperar as terras tomadas. O rei Frederico III, no entanto, não compartilhava da mesma opinião – estava mais preocupado em manter sua posição do que promover uma cruzada nacionalista.

A insatisfação de Clausewitz chegou ao limite em 1812, quando a coroa enviou tropas para lutar contra os russos ao lado de Napoleão. Junto com outros oficiais, o prussiano mudou de farda e foi servir no Exército russo, participando da sangrenta batalha de Borodino e testemunhando a retirada dos franceses de Moscou.

De volta à Prússia, ele foi reintegrado ao exército local com o título de coronel e estava pronto para desempenhar um papel fundamental na reformulação do Exército nacional.

Nesse período Clausewitz embrenhou-se em combates seguidos: lutou em Ligny e teve um papel importante na retaguarda das ações em Wavre, ação que evitou que as forças do marechal Grouchy se reintegrassem às tropas de Napoleão, em Waterloo.

Promovido a general em 1818, o prussiano aproveitou a ociosidade do período em que ocupou um alto cargo na Escola de Guerra de Berlim para teorizar seus conceitos sobre a guerra. Sua obra começava a ser estruturada, mas foi posta de lado quando o general foi enviado à fronteira com a Polônia.

Lá, organizou um cordão sanitário para frear o avanço de uma epidemia de cólera. Parecia saudável quando voltou para Breslau, mas contraíra a doença. Clausewitz morreu em 16 de novembro de 1831, aos 51 anos. Deixou a mulher, Marie von Brühl, e os manuscritos de Da Guerra, publicados por ela logo após sua morte.

Os textos de Da Guerra, um calhamaço dividido em três volumes, foram objeto de estudo em diversas escolas militares do mundo moderno. Obra densa e complexa, de difícil leitura, é conteúdo obrigatório em algumas instituições.

Mas está longe de ser unanimidade: acadêmicos, cientistas políticos e militares têm visões distintas sobre obra e autor. Muitos chamam Clausewitz de gênio; outros tantos o consideram pedante e limitado. O fato é que Da Guerra atravessou o tempo e é hoje uma das maiores referências sobre estratégia militar.

Serve como fonte para entender diferentes conflitos, em diferentes épocas – daí sua contemporaneidade. Seus conceitos são reflexões embasadas em ações de um período – as guerras do século 19 –, mas estabelecem uma ligação estreita entre guerra e política que assume uma incrível capacidade de se perpetuar. Nada mais atual, aliás, em tempos em que os conflitos externos dominam a agenda de grandes líderes mundiais.

Outras palavras

“A guerra é a continuação da política por outros meios”.

“O conquistador é sempre amante da paz. Preferia sem dúvida subjugar nosso país sem ter de combater”.

“Em assuntos tão perigosos como a guerra, as ideias falsas, inspiradas no sentimentalismo, de modo algum têm a cooperação da inteligência”.

“A guerra é um ato de força, e não há limite para a aplicação dessa força”.

“Destruir ou desarmar o inimigo deve ser sempre o propósito da ação militar. Enquanto o adversário não estiver derrotado, plenamente derrotado, é preciso temer que possa nos destruir”.