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Matérias / Nazismo

Como a elite alemã impulsionou o Holocausto

Em 'O Engenheiro da Morte', Marcio Pitliuk mostra como a elite se aproveitou do brutal extermínio durante a Segunda Guerra

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 14/05/2023, às 00h00 - Atualizado em 03/01/2024, às 15h20

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Capa da obra 'O Engenheiro da Morte' - (Editora Vestígio)
Capa da obra 'O Engenheiro da Morte' - (Editora Vestígio)

Em 20 de fevereiro de 1933, Adolf Hitler se reuniu com os empresários mais ricos e influentes da Alemanha para mostrar seus planos, como a aprovação da Lei de Concessão de Plenos Poderes

Caso conseguisse dois terços das cadeiras nas eleições de 5 de março, o Partido Nazista teria total autoridade para instaurar sua ditadura. "Primeiro devemos ganhar o poder completo, se quisermos esmagar o outro lado", disse o Führer, se referindo à esquerda alemã e aos seus opositores políticos.

As promessas de Adolf Hitler foram capazes de arrecadar mais de 100 milhões de reais (ou 3 milhões de marcos) para os cofres do Partido Nazista. Em troca, os grandes empresários foram beneficiados com a política eugenista do tirano. 

Sem a ascensão de Hitler, não teríamos as leis raciais e, portanto, o confisco dos bens dos judeus, o que impediria o crescimento exponencial das empresas arianas”, explica o escritor e historiador Marcio Pitliuk em entrevista exclusiva ao site Aventuras na História. 

Um dos maiores especialistas sobre o Holocausto no país, Pitliuk é autor de 'O Engenheiro da Morte' (Editora Vestígio), onde aborda um assunto pouco conhecido do período: o envolvimento direto de industriais, empresários, engenheiros, arquitetos, banqueiros, médicos, advogados e outras classes da elite alemã no plano brutal de Hitler

Discurso de Hitler no Reichstag promovendo a Lei de Concessão de Plenos Poderes/ Crédito: Bundesarchiv

Lucro com o nazismo

Mas como essas empresas lucravam com o nazismo? Marcio Pitliuk descreve em sua narrativa fictícia, mas baseada em fatos, como todo o processo acontecia. "Os soldados da Schutzstaffel, a SS, que organizavam as filas nas câmaras de gás, eram o último elo da corrente assassina", escreve o autor. 

"Os militares administram os campos de concentração, mas para construí-los foram necessários arquitetos, engenheiros e mão de obra especializada, além de muitos recursos financeiros", completa. 

Marcio contextualiza que, quando foram promulgadas as Leis de Preservação da Raça Ariana e o confisco dos bens dos judeus, as empresas, bancos, lojas, indústrias e tudo mais passou para as mãos de empresas arianas.

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Capa da obra 'O Engenheiro da Morte' /Crédito: (Editora Vestígio) 

"Concorrentes são absorvidos, o dinheiro dos judeus é confiscado. E Hitler, ao iniciar a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, permite que as empresas envolvidas com a guerra e com o assassinato dos judeus, ganhem muito dinheiro", enfatiza o escritor.

"Os bens dos judeus de toda a Europa são confiscados. Joias, obras de arte, imóveis, tudo era roubado, e parte desse roubo era usado para pagar as empresas que investiam nos campos nazistas", continua. 

Pitliuk conta que o padrão de vida da população alemã era muito alto até meados de 1943, quando o ocorreu a vitória soviética na Batalha de Stalingrado. Afinal, parte do que era roubado dos judeus foi destinado às pessoas e outra cota reservado para campos de concentração como Auschwitz-Birkenau, Dachau, Majdanek, entre outros. 

Ao serem mortos, os dentes de ouro dos judeus eram arrancados. Os cabelos raspados e usados como material térmico de submarinos e estofamento de bancos de tanques e aviões de guerra; os ossos serviam de adubo", comenta.

Quebra da falácia

Em O Engenheiro da Morte, Marcio Pitliuk ainda detalha que quando gerentes das fábricas reclamam do precário estado de saúde dos judeus que recebiam para serem usados como escravos nas empresas, os comandantes da SS apontavam que, caso não resistissem, não haveria problema, visto que muitos outros iriam chegar. 

Além disso, perto do fim da guerra, com a derrota iminente nazista, a elite, civis e militares enviaram grandes somas de dinheiro ao exterior, principalmente a Suíça, como uma forma de se manterem com alto padrão de vida pós-guerra; o que quebra a falácia de que os alemães não sabiam dos horrores cometidos por Hitler

"Com certeza a elite alemã sabia. Industriais, engenheiros, médicos, todos se envolveram com o Holocausto. Grande parte da população alemã também sabia. Os vizinhos judeus desapareciam e ninguém desconfiava? Fileiras de prisioneiros judeus passavam pelas cidades sobre ameaça de armas, e ninguém perguntava aonde iam?", questiona. 

Entrada de trem de Auschwitz/ Crédito: Getty Images

"Os campos nazistas eram próximos às cidades, os trens chegavam cheios e voltavam vazios. Civis trabalhavam nos campos e voltavam para casa após o trabalho. Cerca de 3.500 mulheres trabalharam nos campos. Os discursos de Hitler e outros líderes nazistas falavam abertamente no extermínio dos judeus. Impossível não saber", reforça. 

Culpados ilesos

Após o fim da Guerra, porém, esses empresários saíram praticamente ilesos dos julgamentos. Com um número escasso de sobreviventes, sobraram poucos judeus para reivindicarem as empresas, ações, imóveis, terras, obras de arte, joias e outros bens que lhes foram roubados. 

Poucos empresários foram julgados e muito poucos condenados a penas leves. O pragmatismo pós-guerra falou mais alto. Para o Ocidente, era preciso combater o novo inimigo, a União Soviética e o comunismo", diz Marcio.  

"Por outro lado, Stalin controlou com mão firme os países ocupados e, para isso, antigos nazistas foram úteis. A Alemanha pós-guerra teve papel fundamental na reconstrução da Europa Ocidental, era melhor deixar os esqueletos nos armários. Houve o pagamento de indenizações as vítimas do Holocausto, muito pequenas em face do que ocorreu. Não há mais possibilidade disse ser revisto", finaliza.