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Matérias / Brasil

Criado-mudo é uma expressão racista? Entenda a polêmica

Discussão sobre uso do termo voltou à tona após fala de participante do BBB 23

por Giovanna Gomes

ggomes@caras.com.br

Publicado em 28/11/2021, às 09h00 - Atualizado em 20/01/2023, às 09h21

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Imagem ilustrativa de mesa de cabeceira - Imagem de Mark Hassed por Pixabay
Imagem ilustrativa de mesa de cabeceira - Imagem de Mark Hassed por Pixabay

Quem acompanha os acontecimentos da mais nova edição do Big Brother Brasil, o BBB 23, talvez tenha se deparado com uma recente polêmica ocorrida no programa, que teve estreia na última segunda-feira, 16.

Acontece que o participanteGabriel Tavares, enquanto conversava com os colegas Paula, Marvvila e Cristian, acabou por utilizar o termo 'criado-mudo', considerado racista, para indicar o local onde se encontrava uma toalha. Assim, imediatamente, o brother foi corrigido por Marvvila.

"Gabriel, vem aqui. Você falou criado-mudo", perguntou a sister, ao passo que o rapaz respondeu com um novo questionamento: "Por quê?"

"A gente não usa essa expressão, ela é racista. Eu só estou te dando um toque, como amiga", respondeu a participante. Gabriel, por sua vez, agradeceu a explicação da outra participante, enfatizando a importância de se entender o que seria um erro. 

O termo é racista?

Ao longo de séculos, os cidadãos brasileiros foram familiarizados com inúmeros termos aparentemente inofensivos, mas que hoje são questionados por terem origens problemáticas. 

Você provavelmente já ouviu falar que expressões como "mulato", "da cor do pecado" e "ovelha negra", tão utilizadas no passado, deveriam ser abolidas de nossos diálogos. Porém, talvez não saiba que a palavra "criado-mudo" também faz parte dessa lista. 

"Nosso idioma foi construído sob forte influência do período de escravização e muitas destas expressões seguem sendo usadas até hoje, ainda que de forma inconsciente ou não intencional. Precisamos repensar o uso de palavras e expressões que são frutos de uma construção racista", declarou a Defensoria Pública da Bahia em uma cartilha chamada "Expressões Racistas do Cotidiano", divulgada para o Dia da Consciência Negra.

Manifestantes em protesto contra o racismo, em SP / Crédito: Getty Images

A expressão "criado mudo"

Segundo a teoria de iniciativas que buscam eliminar o uso preconceituoso da língua, o termo "criado-mudo" faria referência "aos criados, geralmente pessoas escravizadas, que deveriam segurar objetos para seus senhores e eram proibidos de falar".

Por esse motivo, conforme informou a BBC, o dicionário da Defensoria Pública recomenda a substituição da palavra por "mesa de cabeceira".

Mulher encobrindo a boca em imagem ilustrativa / Crédito: Pixabay / RobinHiggins

Origem no inglês?

Entretanto, a afirmação não é unânime. Aqueles que questionam essa teoria alegam que, no passado, o termo "criado" não era utilizado para descrever escravizados, mas sim pessoas criadas dentro de uma certa família, como os adotados.

Segundo esta corrente, a expressão seria bem antiga e derivaria do inglês "dumbwaiter" ('servente burro', no sentido literal) que, conforme o dicionário Oxford, era o nome dado tanto a um elevador de transporte de refeições presente restaurantes ou residências privadas, quanto a "uma mesa auxiliar" de serviço.

Família brasileira do século 19 sendo servida por escravizados / Crédito:Domínio público / Jean-Baptiste Debret

Os dumbwaiters

De acordo com a fonte, a Associação Histórica da Casa Branca afirmou que o próprio autor da Declaração de Independência americana, Thomas Jefferson dispunha de "dumbwaiters" em eventos informais que ocorriam em Washington.

"Os serventes traziam a comida quente, mas não permaneciam no aposento durante a refeição. A conversa fluía livremente, sem a possibilidade de que trabalhadores pudessem ouvir informações sensíveis e repeti-las fora da Casa Branca", declarou a associação, que citou como referência o livro The President's House, de autoria de William Seale.