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Matérias / Danny Casolaro

Danny Casolaro, o jornalista que pode ter morrido por saber demais

Encontrado morto na banheira de um hotel, a cena aponta que Casolaro tirou a própria vida, mas teorias sugerem que ele morreu por chegar perto demais da verdade

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 13/11/2022, às 00h00

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O jornalista Danny Casolaro - Divulgação/ Arquivo Pessoal
O jornalista Danny Casolaro - Divulgação/ Arquivo Pessoal

Em 10 de agosto de 1991, o jornalista Danny Casolaro foi encontrado morto em uma banheira do quarto 517 do Sheraton Hotel, em Martinsburg, West Virginea. Durante semanas ele buscava pistas de uma história que batizou de “O Polvo”. 

Sua apuração jornalística ligava os poderes e as altas finanças dos Estados Unidos com uma mistura de eventos sombrios ao redor do mundo. Ele acreditava estar no meio de uma rede secreta de operações. 

Tudo começou com o caso Inslaw, nos anos 1980, sobre um fabricante de software que acusava o Departamento de Justiça de roubar seu produto. A investigação ainda estava ligada a crise dos reféns no Irã, quando o país do Oriente Médio teria, deliberadamente, retido reféns para ajudar Ronald Reagan a vencer as eleições de 1980. 

Presidente Ronald Reagan/ Crédito: Getty Images

Ou até mesmo com o colapso do Bank Of Credit Commerce International (BCCI) e com o caso Irã-Contras — quando, no segundo mandato de Reagan, altos funcionários do governo teriam facilitado, secretamente, a venda de armas para o Irã. 

Casolaro ficou absorto, até mesmo obcecado, com sua pesquisa sobre o envolvimento do governo e a conexão entre todos esses eventos. Será que ele havia sido morto por chegar perto de mais da verdade? 

Carreira no jornalismo

Nascido em uma família católica em McLean, no estado da Virgínia, Joseph Daniel Casolaro foi o segundo entre os seis filhos de um obstetra. Um de seus irmãos adoeceu e morreu logo após o nascimento; já a mais nova, Lisa, devido a uma overdose de drogas em 1971. 

Sempre dedicado aos estudos, Casolaro se formou no Providence College em 1968. Logo depois, se casou com Terrill Pace, ex-Miss Virginia, com quem teve um filho: Trey. O casal se divorciaria uma década depois. 

Os interesses de Danny, recorda matéria da Vanity Fair, iam desde boxe amador, até em escrever poemas ou criar cavalos árabes de raça pura. Já no jornalismo, ele gostava de questões mais políticas, como a Crise dos Mísseis de Cuba, a Guerra Fria ou o contrabando comunista chinês de ópio para os EUA.

No final dos anos 1970, porém, ele deixou o jornalismo de lado após adquirir uma série de publicações comerciais da indústria de computadores, que começou a vender no final da década de 1980. Nos anos 1990, retomou a profissão ao se interessar pelo caso Inslaw. 

O Polvo

Pouco antes de sua morte, segundo matéria do The Columbia Journalism Review, Danny relatou a pessoas próximas que estava pronto para revelar uma ampla conspiração envolvendo os casos Inslaw, Irã-Contra, o favorecimento para a eleição de Reagan e o fechamento do BCCI. 

Casolaro havia ficado obcecado com sua pesquisa. Papéis encontrados após sua morte incluíam todas as informações que ele conseguiu, incluindo recortes de jornais antigos, nomes de funcionários da CIA e até de traficantes de armas.

Em artigo ao The Wired, Richard Fricker aponta que Casolaro havia caído em “um Triângulo das Bermudas de fantasmas, armas, drogas e crime organizado”.

Seus últimos dias 

Em 5 de agosto de 1991, Danny Casolaro havia ligado para um de seus associados e dito que havia sido solicitado a escrever um artigo para a revista Time sobre sua pesquisa. Ele ainda informou que atuaria ao lado do jornalistaJack Anderson, a pedido dos editores do veículo, que ofereceram um suporte financeiro. 

Porém, no livro “The Last Days of Danny Casolaro’, James Ridgeway e Doug Vaughan apontam que esse convite nunca aconteceu. Os editores da Time, aliás, haviam rejeitado o artigo mais de um mês antes. 

Naquele mesmo dia, Casolaro também teve uma reunião com um amigo para falar sobre sua situação financeira, aparentemente agravada por ainda não ter recebido um contrato para a publicação de seu livro: ‘O Polvo’.

No dia seguinte, Casolaro disse à sua governanta, Olga, que faria uma viagem à West Virginea, por onde passaria alguns dias, para encontrar uma fonte que prometeu fornecer uma importante peça que faltava em sua história. Na ocasião, Olga recorda que ele pegou uma pilha de papéis e colocou em sua pasta antes de sair às pressas. 

Outro ponto interessante, segundo Ridgeway e Vaughan, é que ele havia se queixado de ter recebido ligações ameaçadoras nas semanas seguintes, o que lhe causou noites de sono mal-dormidas. 

Esta foi a última vez que Olga o viu. A governanta ainda revelou, ao The Village Voice, que ela atendeu vários telefonemas ameaçadores na casa de Casolaro naquele mesmo dia. Por volta das 21h, um homem telefonou e disse: "Vou cortar o corpo dele e jogá-lo para os tubarões". 

Menos de uma hora depois, outra ligação: "Caiu morto". Numa terceira chamada, Olga recorda-se que ninguém disse nada e foi possível apenas ouvir uma música tocando, como se fosse um rádio. A quarta foi igual a anterior; e uma quinta, esta silenciosa, veio mais tarde naquela noite.

O paradeiro de Casolaro nos dois dias seguintes não pôde ser rastreado, além de algumas menções de testemunhas que disseram que compartilharam uma refeição rápida ou se encontraram brevemente no Sheraton.

A morte sem solução?

Por volta do meio-dia, de 10 de agosto de 1991, a equipe de limpeza encontrou Danny Casolaro nu na banheira do quarto 517. Seus pulsos estavam cortados profundamente, com cerca de 3 ou 4 ferimentos no pulso direito e 7 ou 8 no esquerdo. 

Havia sangue espalhado na parede e pelo chão do banheiro. Ridgeway e Vaughn escrevem que "a cena era tão horrível que uma das governantas desmaiou quando a viu".

Junto ao corpo de Casolaro, os paramédicos encontraram uma lata de cerveja vazia, dois sacos plásticos brancos de lixo e uma lâmina de barbear de ponta única. Uma garrafa de vinho também foi localizada nas proximidades. Além disso, nada foi colocado no ralo da banheira para evitar que os detritos escorressem, assim, nenhuma água do banho foi salva.

Manchete sobre as investigações do caso Casolaro/ Crédito: Reprodução

Apesar da cena horrível, o quarto do hotel estava limpo e organizado. Um bloco de notas e uma caneta foi encontrado sobre a mesa; com uma única página arrancada. A mensagem dizia:

Para aqueles que eu mais amo. Por favor, me perdoem pela pior coisa que eu poderia ter feito. Acima de tudo, sinto muito pelo meu filho. Eu sei, lá no fundo, que Deus vai me deixar entrar."

Com isso, as investigações apontaram que tudo era um simples caso de suicídio. Mas alguns fatores colocam isso em xeque. O primeiro deles é que Danny Casolaro tinha um conhecido medo de exames de sangue, ou de qualquer material estranho penetrando sua pele. Assim, seria praticamente impossível pensar que ele se mataria desta forma: se cortando várias vezes. 

Além disso, ao contar sobre os telefones ameaçadores que recebia no meio da madrugada, relatou a pessoas próximas que se algo lhe acontecesse durante a viagem, nada daquilo seria um simples acidente. 

O fato é que o médico legista determinou que a perda de sangue foi a causa de sua morte. Nenhuma marca de agressão foi encontrada em seu corpo e tampouco em seu apartamento.

Aparentemente, Danny Casolaro não tinha comportamento suicida ou dava indícios que seria capaz de algo do tipo. Muitos acreditam que sua morte ocorreu por ele estar muito próximo da verdade.