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Matérias / Alemanha Nazista

Erik Hanussen: o judeu que enganou o Führer nazista

Importante ilusionista de Berlim, Hanussen se associou aos nazistas para se defender de possíveis violências

André Nogueira Publicado em 05/11/2019, às 09h00 - Atualizado às 09h04

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Erik Hanussen foi um ilusionista que enganou até Hitler - Getty images
Erik Hanussen foi um ilusionista que enganou até Hitler - Getty images

Na década de 1920, um curioso mentalista – performista de ilusões e espetáculos – chamado Erik Jan Hanussen atraía os olhares do público alemão. Em seus shows de psiquismo, ele adivinhava o endereço das pessoas e descobria, sem ver, o que havia em suas bolsas. Claro, esse não é um caso isolado de mago real: Hanussen tinha ajuda de colaboradores que iam ao show espiar as bolsas das pessoas e conseguir essas informações.

Segundo a versão de Hanussen, nascido Steinschneider na Áustria, ele teve seu primeiro ato esotérico na infância, quando deu sinais de clarividência. Então, entrou no circo, onde supostamente conquistou o coração de uma mulher de 45 anos (ele tinha 14!). Depois, teria passado um tempo na Turquia, convencendo militares de que ele era cantor de ópera.

Muitos criticavam Hanussen, o acusando de charlatanismo, mas em geral seu público era muito satisfeito. Mas isso não impediu que ele fosse preso em 1928, por fraudar o público. Nos tribunais, teve de convencer o juiz de que era realmente um vidente. Conseguiu fazê-lo.

Hanussen guiando uma sessão / Crédito: GruselTour-Leipzig

Por mais que na prática os shows de Hanussen fossem uma fachada, seu mérito como showman era inegável. O rapaz aprendeu hipnose e jogos psíquicos que fizeram de seu espetáculo um dos principais de Berlim. Hanussen enriqueceu bastante, mas para ele isso não era suficiente.

Diante da ascensão dos hitleristas, ele decidiu se integrar à cúpula do Reich, fazendo amizade com tropas de assalto até se tornar homem de confiança do próprio Fuhrer. Assim, o mentalista garantia sua segurança.

Segurança essa, inclusive, que poderia ser bem instável, dado que Hanussen mentia sobre sua ascendência, alegando ser dinamarquês para esconder sua origem judaica. Ele, com seu ego inflado, acreditava ser capaz de enganar a todos e sair ileso da situação. E como a máscara dinamarquesa e a riqueza de Hanussen atraiam os olhares dos nazistas, ele manteve-se entretendo as tropas paramilitares e fazendo supostas previsões em favor de Hitler.

Além disso, Hanussen era visto com bons olhos pelos oficiais nazistas que, viciados em jogos, constantemente entravam em dívidas. O mentalista, então, emprestava dinheiro aos membros do Partido para cobrir seus rombos orçamentários. Com isso, por exemplo, se tornou confidente de Heinrich Graf von Helldorf, que poderia protegê-lo no caso de uma polarização violenta.

Nesse movimento de aproximação com os nazistas, Hanussen conheceu pessoalmente o Fuhrer no restaurante de um hotel da capital. Sem levantar suspeitas, logo os dois se tornaram íntimos, realizando constantes reuniões em que o psíquico lia as mãos do líder e fazia previsões do seu futuro político. Quando o encontro não era possível, os dois conversavam pelo telefone.

Hanussen analisa um suposto cão falante / Crédito: Getty Images

O reinado de enganações de Hanussen só chegou ao fim quando pessoas que se sentiam afetadas por seus shows fraudulentos levaram a informação de que o homem era judeu, e não dinamarquês, aos jornais. Hanussen tentou contornar a situação, mas a suspeita levantada era inevitável, ao mesmo tempo em que os oficiais do Partido Nazista se encontravam numa sinuca de bico infeliz: estavam em dívida com um judeu.

O pescoço de Hanussen, finalmente, foi parar na corda com o grande incêndio no Reichstag ocorrido em 1933. Isso porque ele teria sugerido a previsão de “um grande incêndio” que impactaria a região. Por isso, muitos acreditaram que ele havia recebido a informação clandestina sobre o atentado, do qual os comunistas foram acusados. Se fosse verdade, isso significaria que Hanussem não era confiável com informações sigilosas.

Então, em março de 1933, Hanussen tinha uma apresentação à qual nunca compareceu. Pois, naquele dia, ele foi levado ao seu apartamento por uma tropa de assalto e baleado três vezes. Morto, seu corpo foi lançado numa floresta como indigente. Antes de morrer, porém, Hanussen deu a prova final de que não lia mentes: não acreditando na real predileção dos nazistas ao genocídio generalizado, escreveu a um amigo que acreditava que a perseguição aos judeus era apenas um “truque eleitoral”. Essa suposição lhe custou a vida.


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