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Matérias / Curiosidades

Há 200 anos, condado passou por “epidemia de dentes explosivos”

Dor era tão forte que fez reverendo perder a sanidade e vítima ficar surda “por um tempo considerável”

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 10/04/2022, às 00h00

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Imagem ilustrativa - Pixabay
Imagem ilustrativa - Pixabay

Em “Medicina Macabra” (DarkSide Books), o jornalista Thomas Morris relata acontecimentos insólitos da história da medicina. Um dos que mais chamam a atenção, sem dúvida alguma, diz respeito à "epidemia de dentes explosivos", que fez vítimas durante quase quatro décadas nos anos 1800, no condado de Mercer, na Pensilvânia. 

Os primeiros relatos foram descritos pelo dentista W. H. Atkinson em artigo publicado na Dental Cosmos, a primeira revista erudita norte-americana voltada para os dentistas, fundada em 1859. 

Atkinson apontou que o primeiro caso que cuidou foi do reverendo D. A., que vivia em Springfield, no condado de Mercer, durante o verão de 1817. O religioso alegou que, repentinamente, começou a sentir uma dor de dente excruciante. 

Às nove horas da manhã de 31 de agosto, o canino direito superior, ou o primeiro bicúspide, começou a latejar de dor, com uma intensidade que alcançou tal grau que o fez perder a razão”, relata o dentista. 

“No decorrer de suas agonias, ele correu sem destino, à procura em vão de alguma forma de alívio. A certa altura, ele enterrou a cabeça no chão como um animal enraivecido; em outro momento, martelou a cabeça no canto de uma cerca, correu até uma fonte e enfiou o crânio inteiro debaixo da água fria. Tais fatos alarmaram tanto sua família que eles o levaram até sua cabana e fizeram de tudo em seu poder para recompô-lo”, continua. 

O dentista ressalta que esse tipo de comportamento em público não condiz em nada com o que se espera de um sacerdote, o que ressalta que o mesmo deveria estar sentindo uma dor extrema. 

“Tudo, todavia, se provou inútil, até que às 9 horas da manhã seguinte, enquanto ele rastejava perdido em extremo delírio, ouviu-se um só estouro em alto e bom som, semelhante ao disparo de uma pistola, que rompeu seu dente em fragmentos, concedendo-lhe um alívio imediato. Nesse momento, ele virou para a esposa e disse: ‘Minha dor desapareceu por completo’”, prossegue. 

É claro que, para isso, seu dente também havia sumido, mas aquilo era apenas um baixo custo a se pagar para deixar de conviver com a dor. Relata-se que o reverendo foi até sua cama e dormiu normalmente. Após o estranho ocorrido, nada parecido voltou a acontecer com ele, que recobrou a sanidade e passou a viver apenas com a “lembrança desse traumático evento”.

A pandemia do dente explosivo 

No entanto, ele não foi o único atingido pela tal pandemia do dente explosivo. W. H. Atkinson contou que o segundo caso só foi relatado treze anos depois. Dessa vez, a história foi relatada pela senhorita Letitia D., que também era residente do condado de Mercer. 

“Este caso não pode ser delineado tão nitidamente ou com tantos detalhes quanto o anterior, mas ainda assim se assemelha muito a este, terminando com uma vívida explosão, a qual concedeu à paciente o imediato alívio da dor. O dente em questão subsequentemente se esfacelou; o incidente envolveu o molar superior”, aponta o dentista. 

A última vez que um paciente com os mesmos sintomas foi identificado por ele, o caso foi registrado em 1855. Curiosamente, o condado de Mercer também foi palco da bizarrice. A acometida pelo dente explosivo foi a senhorita Anna P. A..

Ela tivera uma simples rachadura anteroposterior, com pressão e dor intensa, causada pela inflamação de uma polpa dentária”, relatou Atkinson. “Um estouro repentino e agudo, seguido de alívio instantâneo, assim como descrito nos outros casos, ocorreu em seu canino superior esquerdo. Ela está viva e saudável, sendo mãe de uma família de afáveis meninas”. 

Outros casos

Nas décadas seguintes, novos casos da "pandemia do dente explosivo" vieram à tona, muitos deles registrados no livro “Pathology and Therapeutics of Dentistry”, publicado em 1874 por J. Phelps Hibler

Uma de suas pacientes, aliás, tinha uma dor de dente tão grande que chegou a perder a lucidez. “Subitamente, as dores delirantes apaziguaram. Após ter caminhado sem parar por várias horas, ela sentou por um instante ou dois, com a intenção de descansar”, diz Hibler. 

A mulher declarou que todos os seus sentidos estavam embaralhados desde o momento em que as dores cessaram. De uma só vez, sem qualquer sintoma fora as dores severas de antes, o dente, um primeiro molar direito inferior, estourou com um abalo de tal potência que praticamente a derrubou”, completa. 

A explosão do dente, também, parece ter sido tão brutal que a vítima relatou ter perdido a audição “por um tempo considerável”. Ela havia relatado que a sensação era semelhante como se fogos de artifício tivessem sido detonados dentro de sua boca.

Mas o que explica isso?

Ao longo do tempo, diversos especialistas tentaram entender o que causou a “pandemia dos dentes explosivos”. O próprio doutor Atkinson sugeriu que fora causado por uma substância que ele chamou de “calórico livre”, que se acumularia dentro do dente e causava um aumento de pressão. Por se basear numa teoria científica obsoleta, a explicação foi rechaçada. 

J. Phelps Hibler especulou que a cárie pudesse começar dentro da polpa dentária, o que gerava gases inflamados que depois de um tempo acabariam explodindo. Mas isso também foi descartado, visto que com o tempo descobriu-se que a cárie começava a se formar de fora para dentro do dente. 

Há também quem aponte que o dente poderia explodir por conta dos compostos químicos usados nas obturações antigas, ou até mesmo que os pacientes pudessem exagerar em seus relatos. O fato é que, até hoje, ninguém soube explicar o que causou a “epidemia de dentes explosivos”.


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